É
o pior aspecto da velhice?
É. Eu guio para todo lado, pego estrada de lama, vou para
qualquer canto. Vai ser complicado para mim, tomara que eu vá
antes de ficar numa cadeira, numa cama. Este é o meu medo:
perder a independência, depender dos outros para me dar comida.
Tenho o exemplo dos meus pais, que ficaram assim e eu cuidei deles.
Se não desse comida na boca da minha mãe, ela morria
de fome. Isso eu não quero. Acho uma grande sacanagem com
o ser humano. A gente devia chegar aos 50 anos e parar de envelhecer
e quando chegasse aos 80, apagava. Mas com tudo em cima, não
precisava esse desgaste biológico. A Dercy Gonçalves
é um fenômeno. Deve ter os problemas dela, mas é
rápida de raciocínio, tem opiniões, podem ser
erradas, mas ela está lá, enfrentando as pessoas.
Tem
medo da morte?
Aprendi com a peça a ter menos medo da morte. Nunca havia
pensado muito a respeito, mas passei a pensar por causa da peça
que tratava de uma mulher com câncer e vi que ela não
me amedronta tanto. Me deu o sentido de viver bem, de vida. Deixa
eu aproveitar a vida. Hoje sou muito mais paciente.
Como
é envelhecer com o Tarcísio?
Está sendo tão bom. É um privilégio
que nós tivemos que pouquíssimas pessoas têm.
É claro que a gente se conhece muito, somos diferentes e
temos as nossas desavenças – e seria horrível
não ter. Penso de uma maneira e ele de outra
e a gente chega a um denominador comum. A gente muda com a idade.
Eu era mais impaciente e hoje em dia sou mais paciente. O Tarcísio
era mais paciente e hoje está impaciente. Ainda bem que deu
certo a troca, porque senão só iam sair faíscas.
E o Tarcísio está envelhecendo muito bem. Está
cada vez mais bonito. Eu digo a ele que ele tem que agradecer a
Deus, porque às vezes as pessoas foram tão lindas
e envelhecem tão mal. E ele está ficando mais charmoso.
Está um espetáculo! Virou o Tarcisão. Acho
que é o Sean Connery brasileiro. E se perder um pouquinho
de barriga, ganhará mais charme ainda. Mas não consigo
cuidar da forma dele. Tô sempre falando para ele comer menos.
Esperava
ficar casada tanto tempo com ele?
Eu não pensei não, a gente deixou mais a coisa correr
solta. Eu pensava: “Enquanto a gente estiver bem, vamos estar
juntos”. Na época, eu tinha medo de dizer que queria
ficar e forçar a barra, sabe. E quando você vê,
passaram-se 40 anos. Eu levo um susto. Parece que foi ontem e eu
só sei que são 40 anos porque as pessoas me cobram.
Nunca pensamos em nos separar, mas já aconteceram brigas,
dizer “vou embora”, mas depois voltava. É normal.
O cotidiano não é fácil de ser vivido.
É
uma avó coruja?
Não sou uma avó normal. Nunca tomei conta deles, não
dei mamadeira. Não tinha tempo para mim e por isso minha
filha nunca pôde contar comigo. Nem para educar, porque quem
educa é pai e mãe. Eu tiro o proveito de ser avó,
gosto de sair para passear. Agora mesmo estive nos Estados Unidos,
onde meu neto Gustavo se formou (em Educação Física)
e me senti muito orgulhosa. Fui aplaudida porque era avó
do Gustavo! Meus netos não me chamam de avó porque
fui avó muito jovem, aos 45 anos, e eles me viam na televisão.
Como o mais velho começou a me chamar de Góia, ficou
Góia.
E
como foi com seus filhos?
Casei a primeira vez aos 17 anos e tenho dois filhos do primeiro
casamento, a Maria Amélia e o João Paulo. Por eu ter
sido mãe muito jovem, tinha muita culpa. Me sentia culpada
de fazer viagens ou passar o dia inteiro gravando e deixar meus
filhos. Mas aí cheguei à conclusão de que eles
tinham que aprender que eram filhos de artista e que eu dava em
qualidade muito mais que em quantidade. O Tarcisinho eu curti mais.
Curti as transformações de idade, as fases de criança.
Guardo uma imagem até hoje. Meus dois filhos haviam ido para
a casa do pai numa passagem de ano e ficamos eu, Tarcísio
e Tarcisinho. Quando a gente olhou para a bandeja, havia uma garrafa
de champanhe, duas taças e uma mamadeira. A família
estava ali, pai, mãe e filho, festejando uma data importante.
O
que representa completar 40 anos de carreira?
Quando fiz a peça Jornada de um Poema, na qual raspei
minha cabeça, me coloquei nua no palco. Foi um recomeço
de carreira. São 40 anos e tive a sensação
de começar tudo de novo, porque passei por uma metamorfose
comigo mesma. Aprendi que você não modifica nada na
sua vida, você acrescenta. E é tão bom porque
você passa a ser mais tolerante consigo e com as outras pessoas.
De
quem gosta da nova geração de atrizes?
Acho Malhação uma escola maravilhosa. É
uma renovação legal. Essa menina que está fazendo
a novela das oito, a Carolina Dieckmann, é muito promissora,
tem progredido cada vez mais. E ela veio de Malhação.
Gosto também da Samara Felippo. Talentos vão sempre
aparecer. Não sou contra carinha bonita na televisão,
mas acho que todo mundo tem que se preparar. Não adianta
ter talento e não ter vocação que aí
não vai para frente. Fazer sucesso é muito fácil,
porque é um ruído novo e todo mundo quer falar sobre
aquele ruído. Se manter é que é complicado.
Assiste
tevê?
De vez em quando. Tenho obrigação de assistir para
ver
o que está acontecendo. Sou viciada em telejornais. Tenho
visto também a novela do Manoel Carlos e gosto muito. Acho
que ele aborda temas importantes e os diálogos são
maravilhosos e o aplaudo. Nunca fiz novela dele e gostaria muito,
seria um grande prazer.
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