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O
estilista em sua loja: fã de Clodovil, ele
sempre convida o colega para os desfiles |
Ele
é conhecido como o enfant terrible da moda brasileira.
Foi fotografado num caixão para o livro de 700 páginas
da retrospectiva de seu trabalho, sempre surpreende em seus desfiles
na SP Fashion Week e já apareceu de salto alto em eventos
sociais. Dez anos depois de lançar-se como o estilista preferido
das drag queens e de outras tribos modernas, Alexandre Herchcovitch
alça vôos mais altos. O paulistano de 31 anos empresta
seu nome e sua marca – simbolizada por uma caveira que o acompanha
desde a primeira camiseta que fez, ainda criança –
para uma linha de cama e banho, cuecas, meias e sandálias
de plástico, entre outros produtos. Os cifrões em
torno das novas empreitadas comerciais são mantidos em segredo,
mas o estilista soube aproveitar o interesse pela própria
marca. Ao criar e licenciar produtos mais populares, Herchcovitch
agrega consumidores que de outra maneira não
entrariam em sua loja, onde um vestido de noite pode custar até
R$ 3.470. “As clientes da Zêlo [rede de lojas de
cama, mesa e banho] que não se ligam em moda vão
lá para comprar edredon e acabam vendo meu produto”,
explica. “Vou conquistar um público novo.”
Os
tentáculos de Herchcovitch chegaram também ao esporte.
Ele foi convocado para desenhar os uniformes
dos atletas que vão representar o Brasil nos Jogos Pan-Americanos
de Santo Domingo, em agosto, e na Olimpíada de Atenas, em
2004. Na tumultuada agenda do estilista ainda há espaço
para atuar como diretor de criação da grife Cori e
dirigir o curso de moda das Faculdades Metropolitanas Unidas. As
aulas de tênis e as noites em que ataca de DJ ao lado do amigo
Johnny Luxo deixam seus horários ainda mais apertados para
cuidar da própria grife. Sua principal atividade é
criar as coleções prêt-à-porter e jeanswear
feminina e masculina apresentadas na SP Fashion Week e na semana
de moda de Paris, que podem ser encontradas em quatro lojas próprias,
além de 100 multimarcas espalhadas pelo País e em
20 pontos-de-venda no Exterior.
Quando
sobra tempo, o DJ Herchcovitch inunda os pick-ups com hits dos anos
80, entre eles os sucessos do ídolo pop Boy George. A década
também é referência para sua moda. “Eu
curtia o que acontecia nos anos 80. Gostava muito, muito, muito,
do Clodovil e do que ele fazia quando tinha programa na Rede Manchete.
Imaginava ser estilista como ele”, conta. Apesar de Clodovil
Hernandes fazer parte de seu imaginário desde a infância,
Herchcovitch não conhece o colega pessoalmente, a quem sempre
convida para os desfiles. Clodovil nunca atendeu ao convite, mas
envia flores desejando boa sorte. “É o mínimo
que eu poderia fazer. Fico feliz pelo respeito que ele tem comigo
e pela boa relação com sua mãe, que trabalha
com ele. Admiro muito isso. Mas não tenho interesse em conhecer
o trabalho de ninguém”, diz o costureiro e apresentador
de tevê.
A
relação de Herchcovitch com a mãe é
digna de nota.
Eles formam uma típica família judaica e é
grande a influência de Regina na vida do filho estilista.
“Vejo minha mãe e
meu irmão diariamente e meu pai toda semana. Nos falamos
pelo telefone mais de uma vez ao dia”, diz ele. A mãe
é a responsável pelo primeiro empurrão do primogênito
rumo ao mundo da moda.
ESTILISTA
AOS 9 ANOS Proprietária de uma pequena confecção
de lingerie, Regina ensinou o bê-á-bá do corte
e costura ao filho. “Aos 9 anos ele me fez comprar tecido
para fazer fantasia de Carnaval para ele e para o irmão.
Depois, fez uma roupa para mim”, lembra a mãe, que
o presenteou com uma máquina de costura aos 14 anos. “Com
15 anos comecei a vender roupa. Confeccionava modelos para mim e
meus amigos queriam igual”, recorda ele.
Herchcovitch
faz parte da primeira geração de estilistas com formação
em faculdade de moda. Depois de trancar a matrícula do curso
de Artes Plásticas, ele foi estudar na Faculdade Santa Marcelina,
em São Paulo. Em novembro de 1993, fez seu primeiro desfile
na formatura e um ano depois abria a primeira loja. Hoje, com duas
lojas em São Paulo, uma em Porto Alegre e outra em Brasília,
ainda não tem planos de abrir uma filial no Exterior. “O
investimento é maior. Você precisa ser muito conhecido
e vender bastante para poder abrir loja lá fora”, admite
ele, que começou a exportar suas roupas para Nova York em
1996.
A
mídia internacional logo percebeu o potencial do brasileiro.
Quando estreou na Semana Prêt-à-Porter em Paris com
sua coleção verão 2000/2001 foi noticiado com
destaque no International Herald Tribune e na revista Vogue
América, duas grandes referências do mundo da moda.
No Brasil, a consultora de moda Erika Palomino foi a primeira a
reconhecer suas qualidades. “Alexandre é o mais talentoso
estilista surgido nos anos 90 e tem como mérito ter saído
do underground e do universo da noite para estabelecer um trabalho
autoral, sem cópias”, diz ela. As críticas,
tanto positivas quanto negativas, são encaradas como parte
do trabalho pelo estilista. “Eu leio porque é a opinião
de uma pessoa em que o jornal ou a revista confia para falar de
moda”, diz. E todos os críticos vão estar mais
uma vez de olho no que o estilista vai mostrar na SP Fashion Week,
que começa na segunda-feira 30.
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