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Aline
(à frente) e as outras professoras mirins
da Escolinha do Futuro: exemplos para o País |
É
sábado, quase 15h. Dezenas de crianças chegam à
casa de Aline Santos Silva, no Jardim Ipiranga, bairro pobre de
Sorocaba (SP). Com caderno e estojo nas mãos, elas se dividem
no quintal entre três salas de aula improvisadas, diferenciadas
apenas pela posição dos quadros-negros, caixotes e
cadeiras escolares doados por uma escola municipal e dispostos sobre
o chão de cimento e terra batida. “Quietos que a aula
vai começar”, repreende Aline. Até as 18h, os
alunos, entre eles sua irmã mais nova, revisarão as
matérias escolares, com pausa para o recreio que inclui suco
e pão recheado de carne
moída, presente do açougueiro Dorival
Batista Santos Filho, 33, pai de Aline.
A iniciativa,
batizada de Escolinha do Futuro, conta com 50 alunos de escolas
públicas da região que recebem, de graça, aulas
de reforço e são motivados a estudar por quem fala
a mesma língua. No ano passado, os sete primeiros pupilos
de Aline tiveram uma formatura com direito a medalhas e diploma.
Tornaram-se professores e a ajudam a cuidar das novas classes. Também
foi nomeada uma diretora e uma inspetora de alunos. “Pego
bastante no pé deles e não deixo fazerem bagunça”,
garante a diretora Laís Maria da Silva, de 11 anos.
Melhor
aluna da 7ª série da Escola Estadual Cecília
Martins, Aline tem uma espectadora
especial que acompanha as aulas à distância para não
interferir: sua mãe. “A iniciativa partiu dela. Um
dia amanheceu querendo ensinar”, orgulha-se Neuza da Silva,
32, que deixou a escola no sexto ano do ensino fundamental, mas
pensa em voltar aos estudos graças à filha. “Quem
sabe ela não pode me ajudar com as lições?”
Aline
teve a idéia das aulas de reforço no primeiro ano
do ensino fundamental. “Percebi
que muita gente não aprendia na escola verdadeira”,
recorda-se. “Os alunos diziam que
os professores não sabiam ensinar.” Foi a senha para
a professora mirim, que começou ajudando os primos. Dois
anos atrás ela quis angariar mais alunos e foi, de porta
em
porta, convidar outros garotos e garotas do bairro para as aulas.
Hoje ela tem algo a ensinar não apenas às crianças
carentes de Sorocaba, mas a todos. “Se a mudança
de mundo é baseada na educação das crianças,
eu estou cooperando para que ela
comece aqui no Brasil”, filosofa Aline, que sonha em apresentar
na tevê um programa educativo para crianças. 
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