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Ewaldo Bolívar: simulações virtuais
ajudam paciente |
Nunca
se deve desprezar a importância dos aspectos psicológicos
de uma cirurgia plástica. Há casos nos quais eles
acabam tendo o mesmo peso que a técnica e a experiência
do cirurgião. Afinal, os resultados de uma bem realizada
cirurgia plástica costumam ir muito além dos simples
benefícios estéticos primeiramente verificados. É
no aumento da segurança, do bem-estar pessoal e no alto astral,
traduzidos em recuperação de auto-estima, que estão
suas maiores implicações. Mas para que isso ocorra
é preciso que o médico saiba identificar com precisão,
e em quantas entrevistas forem necessárias, os reais anseios
da paciente.
Cabe
ao bom cirurgião ter mais que boa técnica e conhecimentos
científicos. Ele precisa ir ao âmago da questão
e identificar quais as reais expectativas da paciente, que muitas
vezes pensa querer uma coisa, quando, na verdade, deseja outra.
A cirurgia plástica é, sem dúvida, capaz de
promover uma reviravolta na auto-estima pessoal e até de
pôr um fim a traumas e rupturas do passado. Mas o seu real
objetivo deve ser deixar a pessoa bem consigo mesma. Realizá-la
é uma decisão de foro íntimo da paciente, que
quase sempre está em busca de uma realização
que situa-se numa fronteira entre o físico e o psicológico.
Quando há, contudo, um problema de baixa auto-estima
que transcende ao desejo de melhorar o físico, uma
plástica simplesmente não será suficiente para
gerar o
bem-estar que se procura.
É
comum a paciente experimentar um longo processo de análise
e amadurecimento da idéia antes de decidir-se. É que,
normalmente, a pessoa está em busca de sua verdadeira auto-imagem,
pois tem uma consciência diferente daquilo que vê nas
fotos e no espelho. Ao reencontrar a imagem que idealiza, a melhora
em sua auto-estima é tamanha que traz implicações
em todas as áreas de sua vida: profissional, afetiva, pessoal,
etc.
As
cirurgias para colocação de prótese nos seios
são o maior exemplo. Símbolos da feminilidade, as
mamas dão o poder de amamentação e são
os órgãos sexuais externos da mulher, tendo, portanto,
grande importância psicológica. Mas, ao se decidir
pelo implante, a paciente logo vê em sua mente a imagem das
estrelas da mídia com seus seios enormes, “da moda”.
Não é raro, em razão disso, e pelo medo da
aparência artificial, pedir um implante menor do que realmente
deseja. E o contrário também acontece.
Sendo
assim, da mesma forma que o cirurgião plástico deve
esforçar-se ao máximo para manter a paciente bem informada
acerca de suas reais possibilidades, deve também instruí-la
para identificar seus reais anseios, ajudá-la a trazer para
o plano da realidade o que está em seu inconsciente. Se há
alguma dúvida ou dificuldade da parte da paciente –
como problemas emocionais que vão além do desejo de
ter um implante de silicone – , o médico deve adiar
a decisão da cirurgia pelo tempo que for necessário
para que a paciente tenha tempo de pensar. E, se possível,
fazer o máximo de simulações no computador
para que ela tenha condições de decidir-se com total
segurança. Pois, sua função é, em última
instância, fazê-la feliz.
Ewaldo
Bolivar de Souza Pinto é cirurgião plástico,
membro do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Cirurgia
Plástica e organizou em março o IV Simpósio
Internacional de Cirurgia Plástica, em São Paulo
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