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A
procuradora Luiza Nagib Eluf levou três anos para concluir livro
e foi contestada por Glória Perez, mãe de Daniella Perez, assassinada
em 1992: “O crime envolvendo minha filha não foi passional”,
diz a autora de novelas |
Matei
por amor. A frase saiu, dramática, da boca do paulista
Raul Fernandes do Amaral Street, o Doca Street, e foi dita à
imprensa. Horas depois de um julgamento e sob aplausos, Doca caminhou
sem culpa pelo chão de um tribunal de Cabo Frio (RJ), em
1979. Fora absolvido do assassinato da namorada Ângela Diniz,
com três tiros no rosto e um na nuca. Dois anos depois, a
promotoria recorreu e o slogan quem ama não mata,
repetido à exaustão por militantes feministas que
acompanhavam o segundo julgamento, foi decisivo para a vitória
contra a impunidade. Em decisão histórica, transmitida
pela tevê, Doca foi para a cadeia. Desde então, os
crimes passionais passaram a ser julgados com um olhar menos machista.
Em seu primeiro julgamento, Doca alegou legítima defesa
da honra, por sentir-se traído pela companheira. Como
ele, até meados do século passado, criminosos foram
absolvidos baseando-se nesse argumento, pelo qual o homem podia
ser perdoado por executar a mulher adúltera. O pai da atriz
Maitê Proença, que matou a esposa, Margot Proença,
valeu-se da mesma idéia machista para ser absolvido.
A
história de Doca Street e a do pai de Maitê foram pesquisadas
pela procuradora de Justiça do Ministério Público
de São Paulo Luiza Nagib Eluf. Em três anos, ela levantou
os 14 crimes passionais mais famosos do País e os reúne
no livro Paixão no Banco dos Réus, que será
lançado em 10 de junho pela Editora Saraiva. A paixão
que denota o crime passional é crônica, obsessiva e
nada tem a ver com amor, diz ela. Pode ter havido amor
em algum momento, mas o que mata é o ódio, o ciúme
doentio, a possessividade, a sensação de poder em
relação à vítima.
Antes
de chegar às livrarias a obra, antecipada com exclusividade
por Gente, já causa polêmica. A escritora
Glória Perez, mãe da atriz Daniella Perez, morta em
1992, com 18 facadas dadas pelo ator Guilherme de Pádua
que contracenava com Daniella e cujo personagem era apaixonado pelo
de Daniella e a então mulher dele, Paula Thomaz, diz
que o crime contra sua filha não é passional, como
foi citado no livro. Crime passional é cometido sob
violenta emoção. Nesse caso, no dia do crime, o assassino
estava gravando e perguntou ao produtor que espaço de tempo
teria entre um cenário e outro, diz Glória.
Depois, busca a mulher em casa, a esconde sob um lençol,
adultera a placa do carro, espera Daniella na saída do estúdio
e a embosca num posto de gasolina. Quer dizer: preparou-se o dia
todo para ter um descontrole com hora marcada?
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Doca
Street e a namorada Ângela Diniz na praia: ele a matou com três
tiros |
A procuradora
diz que, no caso de Pádua, apesar de não haver envolvimento
comprovado, ele era obcecado por Daniella, sentiu ódio e
quis eliminá-la. Em geral os assassinos não
se descontrolam de repente, já estavam cogitando a violência.
Todos os crimes passionais que citei foram premeditados. Pode haver
a violenta emoção (presente no artigo
121 do Código Penal) que ameniza a pena, mas é raro,
diz.
Quando
não premeditado, o crime passional é cometido por
uma pessoa em um estado de extrema emoção e que, segundo
o psiquiatra Sérgio Rigonatti, do Instituto de Psiquiatria
da USP, pode durar até 24 horas: O teor da crítica
cai, a pessoa perde a referência e age como animal.
Mas a autora do livro enfatiza: A paixão só
serve para explicar o crime, não para perdoar.
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