"Vou
matar o motoboy"
Pedrinho Matador já executou
71 pessoas e promete estrangular Francisco de Assis Pereira, o
Maníaco do Parque, que cumpre pena no mesmo presídio
Cesar Guerrero
de Taubaté (SP)
O ataque é
rápido, a chance de reação, mínima.
Com uma das mãos no queixo, a outra agarrada aos cabelos,
ele desloca a cabeça da vítima para cima e para
o lado, quebrando-lhe o pescoço. A morte é instantânea.
Pedro Rodrigues Filho, 44 anos, o Pedrinho Matador, um dos mais
cruéis assassinos do País, não precisa de
arma para matar. Usa as mãos e a força do seu corpo.
Pedrinho mantém
a forma física à custa de quatro horas diárias
de ginástica num espaço de sete metros quadrados.
Esse é o tamanho da cela individual que ocupa na Casa de
Custódia, em Taubaté, no interior paulista. "Faço
exercícios para me defender", diz.
ASSASSINO
DO PAI Oficialmente, ele matou 71 pessoas, 40 delas dentro
das prisões. O próximo de sua lista é Francisco
de Assis Pereira, o Maníaco do Parque, que também
cumpre pena ali por ter confessado o assassinato de dez jovens.
"Se eu chegar perto, a vida dele acaba em dois minutos",
ameaça.
O ódio
ao motoboy não é pessoal. Pedrinho executou dezenas
de estupradores nesses 27 anos em que está preso. O que
ele não admite é violência contra mulheres
e crianças. Sua mulher foi assassinada por traficantes
no sétimo mês de gravidez. Mas ele não gosta
de falar sobre o caso. "Só acho que um cara como o
motoboy não merece viver."
O diretor
da Casa de Custódia, José Ismael Pedrosa, não
acredita que Pedrinho consiga cumprir sua promessa. Os detentos
passam a maior parte do tempo trancados e tomam banho de sol isolados.
"Mesmo que o Pedro consiga sair da cela, ele não vai
saber onde encontrar o Francisco", diz o diretor. "Além
disso, os dois estão sempre acompanhados por guardas penitenciários."
A Casa de
Custódia, ou "Piranhão", na gíria
local, é um presídio de segurança máxima.
A eficácia de seus métodos de isolamento está
comprovada. Desde que foi transferido para Taubaté, há
16 anos, Pedrinho não conseguiu matar ninguém. Não
que não tenha tentado. Ele atacou um companheiro na época
em que os detentos almoçavam juntos - hoje cada um come
em sua cela. Já estava com o pé sobre o pescoço
da vítima, quando resolveu acatar o apelo do diretor. "Ele
só não morreu porque o doutor Pedrosa chegou e pediu
para eu parar", recorda. O homem que mata com frieza mostra
respeito pelo diretor e pelos guardas do presídio. Nunca
encostou o dedo neles. "Eu só mato canalhas."
Pedrinho começou
sua carreira de crimes aos 14 anos, com a morte do prefeito de
Santa Rita do Sapucaí, no sul de Minas Gerais, cidade em
que nasceu. "O erro dele foi ter acusado meu pai de roubo",
explica. Refugiou-se em Mogi das Cruzes, na Grande São
Paulo, onde começou a roubar bocas-de-fumo e a matar traficantes.
Anos mais tarde, executou o próprio pai numa cadeia de
Mogi das Cruzes. O motivo: durante uma briga, Pedro Rodrigues
matou Manuela, a mãe de Pedrinho, com 21 golpes de facão.
A vingança do filho foi ainda mais cruel. Além das
facadas, arrancou o coração do pai e comeu um pedaço.
LIVRE EM
2002 O matador costuma estrangular suas vítimas. Mas
reconhece que gosta de provocar dor. Numa prisão de Araraquara,
no interior de São Paulo, degolou com uma faca sem fio
o homem acusado do assassinato de sua irmã. "Ele era
meu amigo, mas eu tive de matar."
Os dias são
iguais na Casa de Custódia. Pedrinho acorda às 5h,
toma café e faz seus exercícios até as 9h.
Depois do banho, costuma ler até a hora do almoço.
Gosta de Sidney Sheldon, mas está lendo Raízes,
do norte-americano Alex Haley. Faz a digestão escrevendo
em seu diário. Às 15h, desce para tomar banho de
sol no pátio do pavilhão, sempre acompanhado por
dois guardas, enquanto todos os outros presos estão recolhidos.
Vai dormir por volta de 19h30.
Condenado
a 400 anos, Pedrinho deve deixar a prisão em 2002, ano
em que completa três décadas de reclusão.
"O período máximo que uma pessoa pode ficar
presa no Brasil é 30 anos, de acordo com o Código
Penal", diz o criminalista Alberto Marino. "O artigo
5.º da Constituição proíbe a prisão
perpétua", afirma.
Pedrinho quer
a liberdade para refazer sua vida ao lado da namorada, cujo nome
ele não revela. Eles se conheceram trocando cartas, há
um ano e meio. Depois de cumprir pena de 12 anos por furto, ela
foi solta e visitou Pedrinho em Taubaté. O diretor do presídio
confirma o encontro: "Ela parecia bem apaixonada".
Para ganhar
a vida honestamente fora da prisão, Pedro quer trabalhar
em um matadouro. Quando era garoto, em Minas Gerais, trabalhou
num pequeno abatedouro de aves. Ele é o primeiro a admitir
que não sabe fazer outra coisa.
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