Era uma casa velha, ou melhor, um casarão velho, velho e abandonado. Muitas pessoas nem sequer passavam na frente da casa abandonada, principalmente durante a noite (quando se viam coisas muito estranhas), elas atravessavam a rua, cortavam caminho e rezavam muito, pois em cidades pequenas do interior é muito comum acreditar se em casas assombradas, fantasmas, esse tipo de coisas.
Os antigos moradores daquela rua diziam que lá havia morado uma velha muito má, porém nem sempre ela tinha sido deste jeito.
Quando era moça, havia tido uma filha, uma linda garotinha, que lhe dera muitas alegrias, mas que lhe dera também a maior dor de sua vida, pois morrera ainda criança, de uma doença sem cura.
Sem conseguir superar a morte da filha, começou a culpar a Deus, ao destino, a vida, que haviam sidos injustos levando dela aquela criança, e a deixado sozinha, já que seu marido teve que partir para a guerra semanas antes da menina nascer e nunca mais voltara...
Assim aquele coração se endureceu e tornou-se rígido como pedra e ela tornou-se indesejável e insuportável. Todas as pessoas tinham medo, pois diziam que ela fazia encantos e bruxarias, invocando demônios e espíritos para tentar rever sua filha e traze-la devolta, nas noites de lua cheia havia quem jurasse que via a velha através da janela, sempre conversando com alguém, dando longas e apavorantes gargalhadas e isso intrigava muito as pessoas, pois a velha morava sozinha e nunca recebia visitas de ninguém. Por isso antes de morrer, correram boatos de que ela havia feito um pacto com o Diabo e rogado uma praga dizendo que a alma dela e de sua filha ficaria para sempre naquela casa e que qualquer pessoa que se atrevesse a entrar na casa seria perturbado pelas criaturas das sombras, pelos demônios e espíritos.
Minha família foi morar naquela vizinhança quando eu tinha 8 anos, e não demorei muito a perceber que, como eu, as outras crianças que moravam na rua temiam muito a maldição que fora colocada no casarão assombrado, mas mesmo assim queriam conhecer a casa e saber se a maldição era verdadeira. Tínhamos muita curiosidade e até um pouco de coragem, mas ainda nos faltava iniciativa para organizar uma expedição à casa.
Foi quando conhecemos Ana, uma garota da nossa idade, que vimos algumas vezes em frente da casa, brincando nos jardins. Todos nós, éramos um grupo de cerca de 7 crianças, ficamos intrigados porque Ana não parecia ter nem um pouco de medo em estar lá completamente sozinha, então resolvemos conversar com ela que nos convidou para entrar e brincar com ela, pois há muito tempo ela não tinha nenhum amigo.
Nós aceitamos e logo decidimos brincar de se esconder dentro da casa. Como diz nas regras do jogo, escolhemos alguém para nos procurar, e o garoto escolhido ficou no jardim, contando até 100, enquanto eu, Ana e as outra crianças fomos nos esconder.
Resolvemos entrar em um quarto, no segundo andar, porém, quando lá chagamos escutamos as portas se trancando, um barulho horrível e angustiante, pois todos sabiam que só poderia ser o espírito da velha, tentando se vingar por termos entrado naquela casa amaldiçoada. Todos começamos a gritar, mas nossos gritos por mais altos que fossem não eram superiores a uma gargalhada horripilante que começou a ecoar pelo quarto, foi então que tivemos a idéia de pular pela janela, seria a única saída, mas Ana não quis pular, estava com medo, então fomos procurar o pai de um dos garotos, que morava mais perto, para que, com a ajuda dele, tirássemos Ana de dentro da casa.
Mas ao voltarmos estavam todas as portas abertas e havia um silêncio imenso em toda a casa, então começamos a chamar por Ana e procurá-la porém não tivemos resposta. Então, ao entrar em uma sala da casa, vimos vários retratos velhos, já amarelados e todos em preto e branco, foi quando, para nosso espanto, vimos que em um dos retratos estava Ana, vestida com um lindo vestido floriado, ao lado de sua mãe, a velha má.
Ninguém quis acreditar quando dissemos que tinhamos brincado por algum tempo com a mesma menina da foto, mas eu não consegui esquecer isso e nem dos horríveis momentos que passei naquela casa. Desde este dia eu resolvi acreditar em certas coisas, pois por mais inimagináveis que elas possam parecer, sempre podem ter um fundo de verdade, já que nada é impossível de acontecer.
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