Logo que vim morar na capital, apaixonei-me por um menino muito lindo. Eu o vi pela primeira vez na escola em que eu estudava. Não demorou muito e eu passei a cultuar um amor platônico pelo mesmo, pois era do meu perfil sempre apaixonar-me e ter medo ou receio de declarar-me. Passaram-se alguns meses e eu cada vez mais estava apaixonada por aquele rapaz com cara de anjo, cujo nome nem ao menos sabia.

Certo dia, estava a passear pela cidade, entrando em pequenos bazares especializados em objetos místicos tais como amuletos, estatuetas de gnomos, oráculos, etc. Então uma japonesa que trabalhava no bazar mostrou-me uma pequena estatueta em forma de cabeça, pintada à mão, porém sem olhos, chamado pela cultura oriental de Daruma. A pessoa deveria ganhá-la de presente e então tinha direito a fazer um pedido, ao pintar um dos olhos na estátua. Quando o pedido fosse realizado, aquele que pediu deveria pintar o outro olho como agradecimento à realização. Fiquei fascinada e, para a minha surpresa, ganhei um, alguns dias depois, de uma amiga minha. Não hesitei: pedi para casar com o garoto que eu amava e pintei um olho.

Infelizmente o meu pedido nunca se realizava, então passaram-se anos e eu já até havia esquecido o tal garoto. Mas encontrei a pequena estatueta entre os meus objetos pessoais. Pensei:" puxa vida...ainda continuou sem um dos olhos..." Mas imediatamente pensei:" talvez seja o destino que queira que nos encontremos mais futuramente..." Certa manhã, abro o jornal e dou com a notícia: "JOVEM MORRE EM ACIDENTE". Ao lado da notícia estava a foto da vítima: ele! A notícia continuava: " ...o carro capotou e colidiu com algumas árvores. No momento chovia torrencialmente, o que dificultou o trabalho dos bombeiros para a remoção do corpo." Fiquei chocada. No dia seguinte, ainda perturbada com a notícia, coincidentemente dei de cara com o Daruma quando abri um armário e lembrei que agora, para o destino nos casar, só eu morrendo. Imediatamente pintei o outro olho e escrevi na base da estátua: "adeus". Levei-a até o local em que ele acostumava estar e abandonei-a, sem contar nada a ninguém.

No dia seguinte, fui à casa de uma amiga à noite e contei a ela o que havia acontecido, passamos boa parte do início da noite a falar do rapaz que havia morrido. Estava tarde, então resolvi voltar para casa. Algo de estranho tomou o meu corpo. Parecia que eu estava sendo vigiada ou algo assim. Não entendia porque, no meu corpo todo, eu sentia uma espécie de calafrio. O vento soprava muito como se fosse um sussuro em meus ouvidos, dizendo palavras incompreensíveis...

Ao chegar ao meu prédio, subi de elevador como de costume; tendo de subir uma escada depois, pois o elevador só ia até o andar abaixo do meu. Estava muito escuro, então acendi uma pequena lâmpada que fica no corredor. Percebi que os degraus da escada que davam à minha casa estavam muito molhados. Começei a subir vagarosamente o primeiro degrau, a água continuava e ia até a primeira parte da escada. Percebi que junto à água tinha resquícios de lama, e notei que se tratavam de pegadas. O meu coração disparou, pensei quem teria subido aquelas escadas, e porque estavam molhadas as pegadas, sendo que o dia estava tão limpo que chegava estar seco como clima de deserto. Engoli seco, continuei a subir apesar de estar com muito medo, e subi com muita pressa, tremendo toda de tanto medo até que percebi algo na porta da minha casa. Como estava escuro, tive dificuldades para identificar a tal coisa, e vi que era a estatueta Daruma. Comecei a chorar compulsivamente, quase gritando, mas ninguém apareceu já que o meu prédio era quase que abandonado. Desci as escadas correndo, voltei para a casa da minha amiga. Ela percebeu que eu estava daquele jeito e me deu um calmante para tomar.

Demorei algumas semanas para voltar a entrar no meu apartamento, mas logo o medo passou. O que não passou foi a dúvida: aqueles passos eram mesmo do rapaz que morrera, molhados tais como no dia do acidente que lhe arrancara a vida? Por que só havia pegadas em sentido à porta, sem sinais de descida? Será que se trata de um sinal de que logo estaremos juntos conforme o meu pedido ou então uma brincadeira de alguém?