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Domingo, 09 de junho de 2002, 18h21
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O ator Osmar Prado, o Lobato da novela O Clone
Foto: Luiza Dantas/Carta Z Notícias
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Nessa reta final de O Clone, é importante homenagear a autora Glória Perez e o diretor Jayme Monjardim. Pelo reconhecimento que a novela está tendo através de menções honrosas e premiações, é justo dizer que O Clone foi um sucesso estonteante. Principalmente pela manifestação popular. Todo o ator sonha em realizar um trabalho de sucesso, mas que tenha um sentido instigante de levantar discussões que possam aperfeiçoar o nosso universo social. E o meu personagem, o Lobato, cumpriu, junto com outros de O Clone, uma função bem destacada neste sentido. E transformou-se em um grande personagem na medida em que a questão das drogas obteve maior penetração no país.A televisão, em princípio, é entretenimento e informação. O ideal seria que distraísse, educasse e discutisse as questões essenciais. Assim os telespectadores teriam parâmetros para entender o mundo e transformá-lo no sentido do bem-estar geral. E O Clone atingiu este objetivo. Abordou cultura islâmica, drogas e clonagem e levantou discussões éticas em torno destes assuntos. No caso da clonagem, a novela mostrou que estas experiências não devem ser utilizadas de uma forma torpe ou mesquinha. Ainda mais relevante é a maneira com que Glória Perez enfocou o problema das drogas. Toda campanha anti-droga fala mal da droga, como se ela fosse um demônio a ser exorcizado. A ousadia em O Clone foi mostrar esta problemática através do sofrimento das pessoas envolvidas. A droga é um sintoma, a dependência é que é a doença. Não só da droga, mas da gula, do consumo exacerbado do álcool, do cigarro... Sintomas que caracterizam uma doença que traz flagelos à sociedade. É importante pensar porque se recorre a droga. E O Clone mostrou que, paralelamente ao combate à droga, tem de se combater a miséria e se ter uma política onde o dinheiro público seja utilizado para o bem público e não para a corrupção. Então, a novidade de O Clone é, primeiro, entender a droga. Ninguém fica dependente daquilo que é ruim. A droga traz algum prazer como o sexo, o ato de comer... Mas tudo em excesso gera flagelos. O Lobato mexeu mais comigo porque os meus outros personagens, com exceção do Tabaco, tinham dramas setorizados. E o Lobato é um drama nacional, internacional, global... Há Lobatos espalhados pelo mundo. E o Lobato é facilmente identificável, porque é um homem comum, que se pode esbarrar na rua. É advogado, mas poderia ser engenheiro ou de segmentos mais pobres da população. Porque o filme que amordaça a vida destas pessoas é o mesmo. Houve uma identificação muito direta com o Lobato por ser ele um ser humano. Um ser de carne e osso, através da ficção, oriundo da realidade. Esta simbiose entre realidade e ficção gerou uma personagem de esperança global. Hoje o Lobato é muito mais forte do que eu. Na realidade, sou um instrumento de interpretação dele, com o qual aprendo. É importante frisar que o público não me confunde com o personagem porque não é o meu primeiro sucesso. As pessoas sabem que já fui o Tião Galinha, o Sérgio Cabeleira, o Tabaco, o Júnior de "A Grande Família"... Se fosse meu primeiro sucesso como ator, estaria perdido. Iria haver esta confusão, sem dúvida. Sinto que as pessoas reconhecem profundamente o meu trabalho como ator em O Clone. Falam do Lobato como um ser cujo corpo e alma emprestei para que se consolidasse através da imagem da tevê. O Lobato tornou-se forte e fico feliz por ter conseguido alcançar este estágio. A grande responsável por isso, no entanto, chama-se Glória Perez. O Clone prova duas coisas. Primeiro que não se pode paternalizar o público. Ninguém tem competência para dizer o que o público deve assistir. O único que pode decidir o que quer ou não assistir é o próprio público. Por isso, a autora Glória Perez manda por terra a teoria de que certos assuntos não devem ser oferecidos ao espectador porque não serão entendidos. Outra coisa fundamental: quando é bom, bem realizado e feito com o coração, não há quem não assimile determinado assunto. O Clone destrói a paternalização imbecil e oligárquica de que tem de se filtrar aquilo que vai ao ar. Quem tem que determinar isso é o público. Tem que se fazer o melhor para ele sempre. Porque o melhor para o público representa o melhor para o país.
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Osmar Prado avalia a novela O Clone
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