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Vôlei

Campeonato Metropolitano e paixão de treinadores são responsáveis por gerar talentos, segundo Méndez

Treinador sente dificuldades para explicar como o vôlei argentino, que tem pouca visibilidade na mídia e estrutura precária, consegue formar tantos bons profissionais

8 mar 2020 - 04h40
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O voleibol brasileiro contou com um treinador visionário e intuitivo, capaz de içar a seleção brasileira das profundezas do ranking e promovê-la à condição de protagonista. Já a Argentina foi conduzida por uma espécie de Bebeto de Freitas sul-coreano: Young Wan Sohn.

Em sua primeira participação num Mundial, o de 1978, os argentinos ficaram na 22ª colocação. Quatro anos depois, sob o comando do asiático, na edição realizada em seu país, a seleção alviceleste conquistaria o bronze, ficando atrás apenas da União Soviética e do Brasil.

"Até os anos 70, a Argentina teve jogadores tecnicamente fantásticos, como Portugal, Del Pino e Thompson. Mas faltava experiência internacional. Isso começou a mudar na época de Sohn. O selecionado fez uma excursão de 60 dias ao Japão. Nesse período, disputou 80 jogos, contra as equipes da Toyota, Mazda e Panasonic, entre outras. Jogou mais de uma partida por dia muitas vezes", recorda Horácio Dileo, treinador do Vôlei Renata.

Aquele Mundial de 82 foi acompanhado com muita atenção por um certo rapaz de 18 anos chamado Marcelo Méndez, então jogador de vôlei do River Plate. A talentosa geração de Castellani, Martínez, Conte, Quiroga, Uriarte e do levantador Kantor encantou o país. Três anos depois, Méndez, ainda atleta do River, passou a treinar equipes de base do clube.

Antes de chegar ao time do Montes Claros, em 2009, Méndez papou títulos no River e no vôlei espanhol, chegando a ocupar o posto de treinador da seleção daquele país. A passagem pela equipe do norte de Minas foi rápida - chegou e mostrou serviço, o que o catapultou ao poderoso Sada Cruzeiro. "Ganhamos da Cimed, então campeã da Superliga, num torneio realizado pela TV Globo de Minas, e graças a isso recebi um convite do Cruzeiro", recorda o argentino, que chegou a conversar com dirigentes da CBV depois que Bernardinho deixou o comando da seleção masculina. Preterido por Renan dal Zotto e sondado também pela Polônia, acabou assinando mesmo com a federação argentina, em 2018, para suceder o monstro Julio Velasco (bicampeão mundial pela Itália) no comando da Argentina.

Dono de seis títulos da Superliga pelo Cruzeiro, Méndez sente dificuldades para explicar como o vôlei argentino, que tem pouca visibilidade na mídia e estrutura precária, consegue formar tantos bons profissionais, espalhados pelas principais ligas europeias na Superliga.

Ele elege dois motivos principais: uma quantidade razoável de treinadores estudiosos, dedicados e bem formados e o Campeonato Metropolitano de Buenos Aires. "Essa competição atrai os meninos do interior e permite que os jogadores atuem em mais de 50 partidas ao longo do ano. É um celeiro importantíssimo".

A qualidade dos técnicos, lembra Méndez, não se deve a nenhum projeto da FeVA, a Federação de Vôlei Argentino. "Fazíamos vaquinhas entre nós e contratávamos treinadores para nos dar cursos, como José Roberto Guimarães, Doug Beal (campeão olímpico pelos EUA em 84) e Célio Cordeiro", lembra o técnico do Cruzeiro. Cordeiro criou a Escola Nacional de Treinadores de Voleibol, em 1976.

Essa safra de dedicados treinadores argentinos, no entanto, não encontra reposição, segundo Méndez. "São técnicos com mais de 45, 50 anos de idade. É gente apaixonada, que trabalhava por idealismo, e acabou sendo recompensada financeiramente depois. Vejo que as gerações seguintes priorizam o dinheiro, talvez em função da crise econômica do país, mas colocam o trabalho em segundo plano. Não têm a mesma paixão que nós", compara o treinador, que enxerga aquele mesmo amor pelo esporte em treinadores argentinos que se destacaram em outras modalidades, como Mauricio Pocchetino, Diego Simeone, Rubén Magnano, Sergio

Hernández e Julio Lamas.

Estadão
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