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São Paulo quebra barreiras com Alex e abre caminho para trabalho estruturado na base

Ex-jogador que fez história no Palmeiras comandará as categorias inferiores do Morumbi com uma das maiores responsabilidades de um time de futebol: formar e revelar jogadores

7 abr 2021 - 18h06
(atualizado às 18h06)
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Quando o São Paulo tratou com Alex para fazer parte da sua comissão técnica nas categorias de base, estava quebrando barreiras e apostando numa parceria duradoura, inteligente e produtiva. A barreira derrubada é antiga no futebol brasileiro. Ela diz respeito à tradição ultrapassada de entender que profissional de um time não pode trabalhar em outro. Esse caminho já vem sendo reconstruído e o São Paulo só ajuda a pavimentar novos trechos.

O que ele vivenciou como atleta, os garotos da base do São Paulo vão poder aprender", disse o ex-atacante Amoroso, ídolo do clube do Morumbi, encarregado de dar as boas vindas ao novo treinador das bases. As instituições no futebol precisam ser livres para contratar os melhores, mesmo se um desses melhores já marcou gols contra seu time.

Alex também leva para as categorias de base do Morumbi sua experiência como jogador, capitão, comentarista esportivo e estudioso da função. Sempre viu o jogo do meio para frente. Onde tudo acontece. Leva inteligência. Pensava nos detalhes e assim construiu sua carreira. Alex tem um lado e isso é importante também na nova empreitada. Sempre esteve do lado do futebol, das coisas corretas e das palavras inteiras.

Chega pisando em ovos como todo profissional recém-contratado, querendo agradar, mas não necessariamente pago para isso. Muricy Ramalho é o maior exemplo deste tipo de profissional, comprometido com os resultados, independentemente de ser considerado um cara legal ou não. Ele é. Os bons profissionais passam por cima disso. Não são de tomar café, fazer churrasco ou forçar a barra com o grupo. Estão lá para trazer resultados e fazer a máquina funcionar.

Se der para ser um sujeito bacana, muito bem. Alex está no futebol há muito tempo para saber das manhas e manias de dirigentes, treinadores, gestores e atletas. Vai ser difícil enganá-lo. "Temos de trabalhar com os valores que o São Paulo sempre teve, das pessoas que vestiram sua camisa. Fui capitão em muitos clubes, venho me preparando faz sete anos para isso, conversando com muitos presidentes de clubes e gestores", disse Alex, mostrando que ele não é um paraquedista que tira da cartola, do nada, o desejo de ser um treinador e liga o celular esperando uma chamada. Alex tem um projeto. Portanto, a chance de ele dar certo no São Paulo existe.

Seu trabalho é um dos mais relevantes dos clubes brasileiros na atualidade: revelar jogadores na base. Pode parecer uma função menor aos olhos da exposição que os super técnicos têm no País, como Renato Gaúcho, Abel Ferreira, Cuca, Rogério Ceni e Miguel Ramírez, por exemplo, e diante de remunerações milionárias desses caras. Mas não é. Alex vai ganhar menos. Mas seu trabalho de garimpar garotos bons de bola é um dos principais do futebol nacional. Ele tem dupla finalidade: ajudar o time principal a se reforçar e fazer dinheiro com a venda desses talentos quando eles estiverem prontos. Não há responsabilidade maior neste momento no futebol.

Formar, usar e vender. É tudo que um bom clube precisa planejar para se sustentar nas temporadas, ganhar partidas e campeonatos e fazer dinheiro ao fim dela. O cargo é tão importante que deveria ter a supervisão do presidente do clube, como aquela história do cobrador de pênalti numa final de torneio. A responsabilidade é tamanha que o presidente do clube deveria descer das tribunas para o campo e fazer ele a cobrança derradeira.

O São Paulo entrega a missão a um inexperiente e jovem treinador que teve carreira brilhante no Palmeiras e Cruzeiro, além da Turquia. Alex é respeitado porque sempre respeitou. A solidez da família, as conversas nos tempos de jogador e as ideias que eram reveladas são suficientes para fazer dele uma grande promessa na empreitada. "Não vai haver choque de estilo porque todas as categorias vão estar alinhadas ao São Paulo, ao conceito do estilo do São Paulo", disse.

Ou seja, Alex não vai trabalhar para o que sempre trabalhou no futebol: ganhar campeonatos. Isso acabou para ele. Ele vai forjar garotos para entregar para Crespo ou qualquer outro treinador que o time de cima tiver.

Mas o resultado que ele precisa dar agora é outro, muito mais difícil do que nos seus tempos de camisa 10. Muito mais demorado do que os 90 minutos de uma partida. Muito mais lento do que a fervura costumeira da torcida após uma sequência de derrotas. É um trabalho que pode demorar até quatro anos ou mais, como uma fruta no pé. É um trabalho que precisa ser feito pensando na carreira de um garoto, no seu sonho, no sonho de sua família, na blindagem do assédio, na educação desse menino ou menina, na sua formação como atleta, mas também como cidadão... Há muito mais a ser desenvolvido do que o "simples" jogar futebol.

Alex não estará sozinho no CT de Cotia do São Paulo, onde deve passar a maior parte do seu tempo. Em sua primeira entrevista, fez questão de mencionar algumas vezes o trabalho "junto com a comissão técnica". Deverá ter uma sala. Deverá ficar pelos campos observando e se aproximando dos meninos. Poderá olhar jogadores apontados por parceiros do clube. Fará uma ponte com o CT da Barra Funda, com Muricy Ramalho, que lhe estendeu a mão, e com o treinador Crespo. Vai ser um trabalho em conjunto. Mais ainda. Alex terá ao seu lado para novas tabelinhas todos os treinadores e profissionais que já estão ralando em Cotia.

Recentemente, Muricy deixou escapar que o São Paulo tem duas safras excelentes para mostrar. Jogadores diferenciados, como disse. O São Paulo planta agora para colher lá na frente. Não trabalha com imediatismo nesta situação, mas sabe da necessidade que o time tem de erguer uma taça nesta temporada, qualquer que seja. Isso dará mais tempo para todos trabalharem com tranquilidade. Importante frisar também que a troca de presidente lá na frente não pode colocar por terra ideias que estejam funcionando.

Um último ponto a ser observado neste primeiro dia de trabalho é a carreira de Alex como treinador. Daqui a alguns anos ele estará preparado para subir mais um degrau nela. Isso significa assumir um time de futebol, ser ele próprio o comandante para quem outros Alex vão trabalhar. São Paulo e Alex têm de pensar nisso, estipular prazos, respeitar desejos e pavimentar um caminho para que as partes não se frustrem nem interrompam o trabalho proposto. A falta de continuidade das boas gestões e ideias tem sido o calcanhar de Aquiles no futebol.

Estadão
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