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Desiludida, torcida do São Paulo teme outro vexame no Campeonato Paulista

Derrota para o São Caetano nesta quarta-feira pode tirar o time da fase de mata-mata do Estadual

20 mar 2019 - 04h41
(atualizado às 17h26)
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O advogado João Fernando Ideriha viajava duas vezes por ano com seu pai, Jarbas, para assistir a jogos do São Paulo no Morumbi. Saía de Londrina e gastava R$ 1.400 com hospedagem, alimentação, estacionamento, táxi e outras despesas. Era um ritual de 14 anos. Era. João não pretende mais fazer a aventura tão cedo. Ele está desiludido com a equipe, que corre risco de ficar fora da fase final do Paulistão. Para ele, sua ausência é um protesto.

A crise que não desgruda do São Paulo há dez anos está em caixa alta na história do clube, mas também na letrinha miúda das histórias dos torcedores comuns. Cada um tem um relato simples e dolorido sobre a influência da fase do time em sua vida de fã.

Com umas 15 camisas no guarda-roupa, o jornalista Rafael Peciauskas também não vai mais ao estádio. Sua última partida foi a vitória sobre a Chapecoense por 2 a 0 no primeiro turno do Brasileirão do ano passado. "O ideal seria ter mais jogadores protagonistas para dividir a responsabilidade com o Hernanes", avalia.

O advogado Nelson Eduardo Rodrigues Gomes quase enfrentou uma pequena crise conjugal por causa do São Paulo. Ele começou pagando o valor mais barato do plano de sócio-torcedor. Quando estava pensando em aumentar o investimento, a mulher colocou freio na sua paixão. Hoje, ele paga R$ 69, mas está pensando em cancelar o plano Clube da Fé. "A situação de crise da equipe deixou de ser pontual. Virou uma realidade", lamenta o torcedor. "Também estou pensando seriamente em cancelar o meu plano de sócio torcedor, pois não sei como é utilizado esse dinheiro pelo clube", diz o gerente comercial Ricardo Moraes.

Os relatos apontam uma tendência. A torcida não pensa mais em título quando começa um torneio, mas em evitar vexames. A conclusão não tem lastro estatístico, tampouco representativo, mas se apoia em entrevistas com 13 torcedores ouvidos pelo Estado. "Não tenho esperança de título. Precisamos parar de dar vexame", diz o advogado Waldemar Cemin.

O torcedor está escaldado depois de perder todos os clássicos de 2019. Foram três. As conversam mostram sentimentos distintos diante da freguesia para os rivais. "Ser freguês nos clássicos é o que mais me dói. Nos últimos cinco anos, eu virei motivo de piada. Não é fácil. Já viajei para várias cidades para ver os jogos, mas essa situação desestimula", diz João Ideriha.

"Sinto raiva pela inoperância e por ter virado chacota dos rivais. Tristeza pelo fato de o São Paulo estar se apequenando a cada ano", aponta Rafael. "Impotência", sintetiza Waldemar. "Aquela magia de ver o São Paulo em campo diminuiu, e muito, de uns anos pra cá", lamenta Natália Milreu, que faz questão de destacar que continua indo ao estádio.

Na hora de encontrar razões para a crise sem fim, duas unanimidades: má gestão e um sistema sem eleição direta para os cargos principais. "O que acontece hoje com o time é reflexo de uma má gestão que vem de anos", diz o gerente comercial Ricardo Moraes.

"O conselho precisa ser renovado. Com os atuais cardeais que só pensam em benefício próprio e não no do clube, fica difícil. Precisaria haver uma grande reformulação na administração do clube, com pessoas realmente identificadas. Talvez uma administração independente do futebol seja uma boa saída", opina Peciauskas. "O problema está na presidência e nos conselheiros. Eles não pensam no bem do clube, e sim no próprio nem", opina Natalia.

Para Waldemar, os problemas começaram com a admistração de Juvenal Juvêncio, presidente do clube até 2014 e falecido em 2015. "Os problemas começaram na última reeleição do Juvenal Juvêncio. Ali estava costurado um acordo com os antigos cardeais que sempre se revezavam na administração do clube. Houve uma quebra. A unidade política (que permitia um jogo de oposição e situação) foi quebrada. Isso coincidiu com as organizações dos rivais que, em 10 anos, ocuparam o lugar deixado pelo São Paulo. Com a quebra política veio a desorganização administrativa e, em seguida, a falta de resultados no campo", opina o advogado.

Nelson alerta sobre o risco de soluções imediatistas. "É uma consequência de decisões ruins administrativas para responder imediatamente a uma situação", avalia.

O analista de sistemas Paulo Padilha conta que o primeiro jogo que assistiu foi em 1969, no colo do pai ainda. Vitória do São Paulo sobre o Santos por 3 a 2, no Morumbi. "Participei de um evento nos anos 2000, logo depois da conquista do título mundial, e vi sócios e conselheiros falando que nós éramos soberanos. Esse foi nosso primeiro passo para cair", diz o torcedor que tentou levar o filho para no Pacaembu, no último sábado, mas não conseguiu.

Estadão
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