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Rally Dakar começa nesta segunda com recorde de presença feminina

Competição terá 17 mulheres, maior número desde que a prova é realizada na América do Sul

7 jan 2019 - 04h41
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O tradicional Rally Dakar começa nesta segunda-feira, em Lima, no Peru, com um feito histórico para completar os 40 anos da competição. A presença feminina chega à marca de 17 inscritas, o maior número desde que o evento deixou de ter o trajeto entre a Europa e África para ser disputado na América do Sul, há dez anos.

Além da numerosa participação das mulheres, a maior competição off-road do mundo traz como diferenciais ser disputada pela primeira vez na história no mesmo país. Ao longo de dez dias os mais de 500 competidores vão percorrer mais de 5 mil km de obstáculos, principalmente dunas, entre cidades peruanas. A saída e a chegada serão na capital, Lima.

As mulheres têm como principal nome a espanhola Laia Sanz, das motos. Aos 33 anos, ela disputará pela nona vez o rali e tem como melhor resultado o nono lugar obtido em 2015."Esta corrida também é para as mulheres disputarem", disse em entrevista coletiva.

Por pouco, ela não conseguiu disputar o rali, pois nos últimos meses esteve hospitalizada para se curar de uma infecção bacteriana. "As mulheres estão fazendo um bom trabalho há anos. É muito bom ter mulheres e meninas que vejam o rali pela televisão, assim como eu fazia desde pequena", afirmou.

A checa Gabriela Novotna vai competir nas motos depois de desafiar a contrariedade da família ao vê-la iniciar em provas de rali. "Todos os familiares tiveram uma reação interessante. Minha avó reclamou: 'Você passou por três faculdades para ficar andando de moto no meio do perigo?' ", contou.

As 17 competidoras estão distribuídas nas cinco categorias e sonham em repetir o feito da alemã Jutta Kleinschmidt. Em 2001, a pilota ganhou a competição entre os carros e é a única mulher da história a ter vencido o Rally Dakar.

Embora nenhuma brasileira esteja na lista das competidoras, o país também está representado. A empresária Nany Varela, de 57 anos, será chefe de uma equipe. Sob o comando dela estarão o filho mais novo, Bruno, de 22 anos, e o marido Reinaldo, de 59. Os dois vão competir na categoria UTV, de veículos utilitários, na qual Reinaldo foi campeão em 2018.

Como chefe, Nany viajará junto com os dois e dará apoio logístico, cuidar da alimentação e dar auxílio em reparos com as vestimentas. "A grande participação das mulheres me deixa orgulhosa. Elas se mostram competentes e corajosas para encarar esse desafio. Fazer rali é como desafiar uma selva", explicou a brasileira.

Nany esteve presente em outras edições do Dakar e frequenta provas de rali há mais de 30 anos. Inclusive, foi em um evento do tipo em que conheceu o marido, em 1985 no Rio Grande do Sul. "É ótimo ela estar junto conosco, como suporte nosso, com os cuidados de mãe e de mulher. A Nany passa tranquilidade para todo mundo", afirmou Reinaldo.

BRASILEIROS

O País terá 11 representantes no Rally Dakar. Serão nove entre os UTVs e dois entre as motos. O atual campeão Reinaldo Varela, o marido de Nany, disputará pela oitava vez a competição e aponta os sul-americanos como os principais obstáculos para o bicampeonato.

"Estamos no mesmo nível dos competidores regionais. Eles são os grandes favoritos, porque nasceram e viveram nas dunas, que são a parte mais difícil. Elas são uma surpresa o tempo inteiro, porque cada uma é muito diferente da outra", afirmou.

Nas motos, a participação de destaque é de Lincoln Berrocal. Aos 60 anos, ele disputará o primeiro Dakar para realizar um sonho. "Sinto que a hora de parar está chegando e quero cumprir esse sonho de competir. Só penso em terminar todos os dias de competição e já me sentirei um vencedor", afirmou.

TRÊS PERGUNTAS PARA...Nany Varela, chefe de equipe

1. Você participa de provas de rali há mais de 30 anos. A presença feminina hoje em dia chama menos a atenção?

A grande presença de mulheres nos dias atuais é algo surpreendente para mim. Antigamente, era raridade, gerava estranheza. Minhas amigas não entendiam o que me levava a ir para essas competições para dormir mal, sem ter luxo, em locais pequenos. Mas nunca reclamei. Eu prefiro estar em um trailer do que em um hotel cinco estrelas.

2. Como chefe de equipe, como será a sua rotina durante a competição?

Antes da viagem eu fiz uma lista enorme do que tínhamos de levar. Quando o rali for começar, nós vamos fazer todos os dias o mesmo trajeto dos competidores. Então, a primeira preocupação é sair muito cedo e conseguir chegar. É preciso estar em um lugar bom para dormir, por isso eu preciso tomar decisões certas sobre as nossas paradas, com responsabilidade. Eu tenho de cuidar também da vestimenta deles, com reparos e a lavagem das peças durante as etapas.

3. Apesar de seu marido disputar provas há mais de 30 anos, pela primeira vez você estará junto com seu filho. Como será essa experiência?

Eu participo de ralis há muito tempo. Só não pude ir quando estava no final da gravidez dos meus três filhos. Todos eles são pilotos, inclusive. Nunca esperei que meu filho mais novo, o Bruno, fosse participar de um Dakar tão jovem, aos 22 anos. Todos nós estamos com uma ansiedade enorme, é natural. Como mãe também é difícil estar nesse papel. Eu preciso dar um apoio moral, um conforto para eles na hora da chegada. Preciso ficar lado a lado.

Estadão
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