PUBLICIDADE

PF prende Nuzman em desdobramento de investigação sobre compra de votos em eleição olímpica

5 out 2017 - 14h22
(atualizado às 14h50)
Compartilhar
Exibir comentários

A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, em um desdobramento de operação sobre suspeita de compra de votos na eleição que escolheu o Rio de Janeiro como sede dos Jogos de 2016, após investigadores descobrirem barras de ouro guardadas pelo dirigente na Suíça no valor de cerca de 2 milhões de reais.

Presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, é escoltado por policiais federais no Rio de Janeiro
05/10/2017 REUTERS/Bruno Kelly
Presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, é escoltado por policiais federais no Rio de Janeiro 05/10/2017 REUTERS/Bruno Kelly
Foto: Reuters

Além de Nuzman, o diretor-geral de operações do Comitê Rio 2016 e ex-diretor do COB Leonardo Gryner também foi preso pela polícia. Ambos serão indiciados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa pelo suposto envolvimento na intermediação de pagamentos a membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) em troca de votos na candidatura brasileira, de acordo com as autoridades.

"Enquanto atletas olímpicos lutavam pela tão sonhada medalha de ouro, dirigentes guardavam ouro na Suíça", disse a procuradora da República Fabiana Shneider em entrevista coletiva após as prisões.

Nuzman, de 75 anos, já havia sido alvo de mandado de busca e apreensão em sua casa no Rio de Janeiro e levado à PF para prestar depoimento no início de setembro em operação deflagrada pela PF e pelo Ministério Público Federal em parceria com a Procuradoria francesa.

As autoridades dizem que Nuzman foi o "agente responsável" por viabilizar repasse de propina do grupo criminoso do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral para a compra de votos de dirigentes africanos na eleição de 2009 do Comitê Olímpico Internacional (COI) para escolha da sede dos Jogos de 2016.

Inicialmente acreditava-se que os operadores brasileiros do esquema tinham efetuado pagamento de 2 milhões de dólares para comprar o voto do então presidente da Federação Internacional de Atletismo (Iaaf), o senegalês Lamine Diack, três dias antes da votação olímpica, mas novas provas encontradas em conversas por email apontam para um esquema possivelmente maior, envolvendo outros dirigentes africanos.

"Tínhamos inicialmente a informação de que foram pagos 2 milhões de dólares, e agora mais um indicativo de 450 mil a 500 mil dólares a mais. Pode ter havido mais distribuição. O dinheiro, como dizem os emails, foi distribuído entre os 'nossos amigos', numa clara referência a outros votos africanos", afirmou a procuradora Fabiana.

Em um dos emails, que foram divulgados pela Justiça Federal, Gryner se desculpa com o filho de Diack, Papa Diack, pelo atraso em "cumprir com a última parte do nosso acordo" firmado em Copenhague, e diz que um "patrocinador" estava enfrentando problemas para fazer uma transferência.

ALTA DE 416% NO PATRIMÔNIO

Nuzman, que também foi o presidente do Comitê Rio 2016, teve bens bloqueados pela Justiça Federal e foi proibido de sair do país até a conclusão das investigações da chamada operação Unfair Play, que resultou em bloqueio de ativos de suspeitos no total de 1 bilhão de reais.

Com o avanço das investigações, os procuradores descobriram que Nuzman mantinha recursos ocultos no exterior e só os declarou à Receita Federal após a deflagração da chamada operação Unfair Play no mês passado, incluindo 16 barras de ouro de 1 quilo cada depositadas na Suíça. Segundo o MPF, o valor atual das barras de ouro seria equivalente a cerca de 2 milhões de reais.

De acordo com o MPF, não há confirmação até o momento de propinas pagas a Nuzman, mas foi identificado um aumento patrimonial do dirigente de 416 por cento entre 2006 e 2016.

"O patrimônio no exterior do Nuzman cresceu sem ter uma justificativa da renda", disse o procurador do MPF Rodrigo Timóteo a jornalistas. "Estamos em cooperação com a Suíça, onde há maior parte do patrimônio dele no exterior."

Segundo a PF e o MPF, a organização criminosa liderada pelo ex-governador Cabral, que está preso desde o ano passado no âmbito da Lava Jato, comprou os votos na eleição olímpica de olho nas diversas obras que teriam de ser realizadas no Rio em virtude do evento.

O dinheiro para a compra dos votos teve origem no esquema de corrupção e propina em contratos de empresas prestadoras de serviços com o governo do Rio de Janeiro, pelo qual Cabral recebeu mais de 100 milhões de dólares em propina, de acordo com o MPF.

Nuzman, que é acusado de ter sido intermediário do pagamento, nega ter cometido irregularidade.

"Não procede que ele comprou votos para a Olimpíada de 2016", disse o advogado Nélio Machado, que representa o dirigente, a repórteres. "Essa medida de hoje é dura e não usual".

Em defesa por escrito entregue ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região, advogados do dirigente disseram que a candidatura do Rio sagrou-se vencedora "por mérito próprio", e que Nuzman atuou apenas na qualidade de presidente do COB e no "estrito cumprimento de suas funções", sem o cometimento de qualquer ilegalidade.

O Rio foi eleito sede dos Jogos Olímpicos em uma votação em que derrotou Chicago, Tóquio e Madri. Na votação final, contra a cidade espanhola, a candidatura carioca obteve um triunfo com margem folgada, 66 votos a 32.

Em comunicado enviado logo após a prisão do Nuzman, o COI afirmou que sua Comissão de Ética pode tomar medidas provisórias contra o dirigente, que é membro honorário da entidade.

"Dados os novos fatos, a Comissão de Ética do COI pode considerar medidas provisórias, embora respeitando o direito do sr. Nuzman de ser ouvido", afirmou o COI, acrescentando que já havia iniciado uma investigação interna logo após a revelação das acusações.

O atual presidente da comissão de ética do COI é o ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) Ban Ki-moon.

Reuters Reuters - Esta publicação inclusive informação e dados são de propriedade intelectual de Reuters. Fica expresamente proibido seu uso ou de seu nome sem a prévia autorização de Reuters. Todos os direitos reservados.
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade