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Nos gramados do futebol virtual, talento brasileiro tipo exportação

Sem regulamentação da profissão de cyber atleta no Brasil, gamers de Fifa se destacam por equipes da Europa

1 ago 2019 - 04h40
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Em linha reta, 9.816 quilômetros separam São Bernardo do Campo, no ABC paulista, de Amsterdã, na Holanda. A distância foi rapidamente percorrida por uma oferta que transformou sonho em realidade. Victor "Tore" Santos fechou acordo para representar o Ajax em janeiro deste ano, se tornou jogador profissional de Fifa, principal simulador de futebol, e, ao lado de outros quatro brasileiros, vai brigar pelo prêmio de US$ 250 mil (R$ 943 mil) destinado ao campeão da eWorldCup 2019, que começa nesta sexta-feira e vai até domingo, em Londres, na Inglaterra.

A oferta holandesa surgiu após o brasileiro de 18 anos se destacar no FUT Champions Cup, um dos torneios da temporada do game da EA Sports, em Bucareste, quando foi vice-campeão na plataforma Playstation, pela equipe SPQR. "No começo, achei que era uma loucura, me destaquei em apenas um torneio", comentou "Tore".

Foi o impulso para entrar no eSport. Atualmente, "Tore" se dedica exclusivamente ao Fifa, após concluir o ensino médio. O acordo com o Ajax é intermediado por uma agência chamada Bundled, que é especializada em pro players e faz o repasse do salário. "Consigo ajudar a minha mãe em casa, que é uma das coisas que mais tenho orgulho", disse. Silvia acompanha o filho nos torneios.

Ainda não há uma legislação sobre o eSport no Brasil. Atualmente, existem dois projetos de lei em análise na Câmara (3.450/2015, do deputado federal JHC, do PSB-AL, e 7.747/2017, da deputada federal Mariana Carvalho, do PSDB-RO), com alterações na Lei Pelé, e um no Senado (383/2017, do senador Roberto Rocha, do PSDB-MA), que é mais amplo. A discussão promete se arrastar.

Outro representante do Brasil na eWorldCup, Ebinho, de 21 anos, que atua no Xbox, vive situação similar a de "Tore". Agenciado pela Bundled, o paulista de Jundiaí assinou contrato com o Wolverhampton, da Inglaterra, neste ano. A equipe inglesa contratou também Flávio "Fifilza", que mora em Guarulhos e vai ao Mundial no Playstation. "Ainda dependemos das premiações, mas é um salário bom", afirma Ebinho, que trancou o curso de jornalismo para se dedicar ao Fifa neste ano.

Melhor brasileiro do ranking do Xbox, em oitavo, Pedro Resende, de Anápolis-GO, tem acordo assinado com o M10 Team, equipe formada pelo meia Özil, jogador do Arsenal. Ele recebe no Brasil como autônomo. O mesmo ocorre com Henrique "Zezinho" Lempke, do Team Gullit, do ex-jogador holandês Ruud Gullit, para atuar no Playstation. "Pago impostos como autônomo", explica o gaúcho de 19 anos.

Apesar de não ser oficialmente uma profissão no Brasil, os pro players têm uma rotina de muita dedicação. O dia não se resume em passar diversas horas diante da televisão com o controle na mão, especialmente nos finais de semana. Eles cuidam da alimentação, do aspecto físico e mental. "Todo mundo pensa que é só ficar sentado, jogando", comentou Resende, que tem ajuda até de um coach para melhorar o rendimento e analisar os adversários.

Os outros jogadores, como "Tore", tem um técnico que atua nas competições. Antes dos playoffs, torneio que aconteceu em Londres e antecedeu o Mundial em Londres, o jogador do Ajax realizou até uma pré-temporada, utilizando inclusive o CT do clube holandês.

Em Londres, os principais adversários dos brasileiros serão o inglês Donovan "F2TekKz" Hunt e o saudita Mossad "MsDossary" Aldossary, atual campeão do Fifa, no Xbox. No Playstation, o favorito é o argentino Nicolas, do Basel, da Suíça. Os 32 jogadores, 16 em cada plataforma, se enfrentam em uma fase de grupos e os melhores vão às oitavas. O campeão sairá do confronto entre os vencedores das duas plataformas.

"Estou bem tranquilo, meu objetivo foi alcançado nesta temporada. Vou jogar como se tivesse em casa", afirma "Tore". "Fifilza" está confiante. "Tenho condições de ser campeão. Ninguém me assusta."

PREMIAÇÃO

Apesar de oferecer quase R$ 1 milhão ao campeão, os pro players que enfrentaram uma temporada exaustiva e conseguiram ficar entre os 32 melhores do mundo, em cada plataforma, recebem apenas US$ 750 (R$ 2,8 mil) pela participação na eWorldCup 2019. Ao todo, o Mundial vai distribuir US$ 500 mil (R$ 1,88 milhão). O vice fatura U$ 100 mil (R$ 377 mil), o terceiro e quatro, US$ 25 mil (R$ 94,4 mil), quem fica de quinto ao oitavo lugar, recebe US$ 12 mil (R$ 45,3 mil), e de nono até 16º, US$ 5 mil (R$ 18,8 mil).

"A distribuição teria de ser feita de outra maneira. A classificação para o Mundial, que é muito difícil, vale apenas 750 dólares, mas, se você passar da fase de grupos, já ganha 5 mil dólares. Mas não dá para reclamar muito porque eles pagam todos os custos da viagem", afirmou Ebinho. "É um prêmio bom apenas para quem chega longe. Ganhar 750 dólares por classificar para o Mundial, que não é fácil, acaba sendo pouco", comenta "Fifilza".

Estadão
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