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Motociclismo

Sem cortina de fumaça produzida por Marc Márquez, Honda enfim olha ao redor

Desfalcada do talento do hexacampeão, a Honda teve de contar com as habilidades de pilotos como Takaaki Nakagami e Álex Márquez e, finalmente, olhou para a RC213V para tentar salvar a temporada 2020 da MotoGP

27 out 2020 - 04h47
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Marc Márquez ainda não tem data para voltar
Marc Márquez ainda não tem data para voltar
Foto: Repsol / Grande Prêmio

É inegável que a ausência de Marc Márquez impacta não só o desenrolar do campeonato de 2020 da MotoGP, mas muito mais fortemente o resultado da Honda na temporada. Sem o hexacampeão, a marca da asa dourada encarou um longo e incomum jejum de pódios, mas foi só a partir do teste coletivo de Misano que as coisas começaram a entrar mais nos eixos.

Nas últimas três corridas, foram dois pódios com Álex Márquez ― nos GPs da França e de Aragão ― e uma pole com Takaaki Nakagami ― no GP de Teruel. A melhora é evidente, mas a posição na tabela segue bastante aquém. No ano passado, por exemplo, Marc conseguiu praticamente sozinho o título do Mundial de Equipes. Agora, a estrutura apoiada pela Repsol é a nona colocada entre as 11 participantes, com 163 pontos a menos que a líder Suzuki. Entre os Construtores, a fábrica japonesa está melhor apenas que a Aprilia, a lanterna.

Talento de Marc Márquez esconde as deficiências da moto da Honda
Talento de Marc Márquez esconde as deficiências da moto da Honda
Foto: Repsol / Grande Prêmio

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No fim de semana, Paolo Ciabatti, diretor-esportivo da Ducati, deu um pitaco sobre a mudança na performance da Honda e considerou que a ausência do titular absoluto teve um impacto positivo na performance da RC213V.

"Se você olhar para quem vai para o Q2, não dá para dizer que as cartas não foram redistribuídas e que esta situação é resultado apenas da ausência de Márquez. A ausência dele, ao contrário, ajudou a Honda a desenvolver o projeto, porque enquanto Marc estava lá para remendar as coisas para a HRC, eles não estavam muito preocupados", disse Ciabatti à imprensa italiana. "No fim, de fato, tinha uma pessoa que guiava aquela moto e os outros… lamento por eles. Agora, vendo a situação, eles trouxeram algumas coisas novas que fizeram a RC213V servir para todo mundo. Até mesmo para os pilotos que não são Marc Márquez", completou.

No fim do mês passado, Takeo Yokoyama, diretor-técnico da Honda, participou de uma coletiva de imprensa na Catalunha, e reconheceu que a atividade coletiva de Misano ajudou a melhorar a performance.

"O teste foi muito bem sucedido para nós. Dá para notar comparando o resultado de Misano 1 e Misano 2. Acho que demos algum passo. E isso foi por causa do teste", disse Yokoyama. "Na verdade, estamos trabalhando um pouco em tudo. Ano que vem, não poderemos melhorar o motor, mas estamos trabalhando muito do lado do chassi, tentando entender como usar o pneu Michelin, especialmente o traseiro, que tem uma nova construção do ano passado para este. Estamos trabalhando muito em todos os aspectos", assegurou.

Mas não foi só isso. Sem Marc, a Honda tinha apenas quatro pilotos para focar: o lesionado e azarado Cal Crutchlow, o novato Álex Márquez, o piloto de testes Stefan Bradl ou o piloto de moto defasada Takaaki Nakagami. Do quarteto, o espanhol e o japonês apareciam como as melhores opções.

Takaaki Nakagami vai ter moto do ano em 2021
Takaaki Nakagami vai ter moto do ano em 2021
Foto: Red Bull Content Pool / Grande Prêmio

Nakagami tanto correspondeu à pressão por melhora que teve o contrato renovado com a HRC para seguir com a satélite LCR em 2021. E ainda garantiu uma moto atualizada para o próximo campeonato.

Álex, por outro lado, superou as expectativas, ainda mais considerando que foi rebaixado antes mesmo de começar a temporada. Apesar de seguir contratado pela HRC, a partir do próximo ano o irmão de Marc estará com o time de Lucio Cecchinello.

Mas, se Marc Márquez estivesse na pista, a Honda teria buscado maneiras de melhorar a HRC? Difícil acreditar. Afinal, os resultados do espanhol criam uma verdadeira cortina de fumaça, ocultando as fraquezas da RC213V.

Atual chefe da Honda, Alberto Puig é rápido em apontar para os pilotos como o elo fraco da estrutura. Na visão do dirigente, são eles que não conseguem extrair o potencial da RCV. Ainda que o 'eles' se refira a pilotos do calibre de Dani Pedrosa e Jorge Lorenzo.

"Acho que tem a ver com o fato de que, qualquer que seja o motivo, esses dois pilotos mencionados, que são dois dos melhores que conheci e dos melhores que já existiram, não souberam se adaptar ao que a moto necessitava, porque é evidente que o valor e os feitos deles são indiscutíveis", comentou Puig em entrevista ao serviço de streaming espanhol DAZN. "Eles foram campeões, foram os melhores no momento mais bonito do motociclismo, campeões jovens. Mas, qualquer que seja a razão, Álex soube compreender a moto, que é delicada e tem de ser guiada de uma certa maneira. Ele tem muito mérito. É preciso parabenizá-lo", comparou.

Puig, contudo, não reconhece as fraquezas da moto e insiste que as pessoas que têm uma percepção errada da situação da Honda.

"Álex não conhecia a categoria e, pouco a pouco, entendeu a moto. Agora, ele a entende muito melhor do que há três ou quatro meses. Começa a entender como se guia a moto e, depois de oito ou nove corridas, faz pódios", disse Puig. "Isso mostra que esta moto não é tão ruim quando as pessoas diziam. O que aconteceu? Como a moto antes não ia bem e agora vai? Acho que tudo isso é exagerado", seguiu.

Reconhecendo as dificuldades do protótipo ou não, a ausência de Marc na temporada 2020 ajudou a Honda a olhar para a moto com outros olhos. E isso vai ajudar não só Álex e Takaaki, mas ao hexacampeão também.

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