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Saiba por que hoje é o Dia do Maratonista

Data se refere ao nascimento de Abebe Bikila, maior nome da história da maratona

7 ago 2020 - 15h37
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Sete de agosto. Esta data é muito significativa para quem curte correr 42km, pois hoje é o Dia do Maratonista. Ele é uma homenagem ao etíope Abebe Bikila, nascido em 1932, que, por uma coincidência, era o mesmo dia da Cerimônia de Abertura das Olimpíadas de Los Angeles. Filho de pastores, ele foi o primeiro africano a ganhar uma medalha de ouro e o primeiro atleta a vencer duas maratonas olímpicas (Roma-1960 e Tóquio-1964). Por suas conquistas, Bikila é considerado o maior maratonista de todos os tempos.

Correndo descalço, Abebe Bikila venceu a maratona das Olimpíadas de Roma-1960
Correndo descalço, Abebe Bikila venceu a maratona das Olimpíadas de Roma-1960
Foto: Lance!

Em 1969, por causa de uma manifestação em Adis Abeba, capital da Etiópia, Bikila sofreu um acidente de carro, que o deixou paralítico. Quatro anos depois, em 23 de outubro de 1973, ele morreu em decorrência de uma hemorragia cerebral. Em 2012, foi imortalizado no Hall da Fama do atletismo da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), que naquele ano comemorava seu centenário.

Em 1960, Bikila foi incluído na equipe de atletismo apenas no último momento, quando o avião já se preparava para partir para Roma. Ele foi no lugar de outro atleta, Wami Biratu, que havia quebrado o tornozelo durante uma partida de futebol. Onni Niskanen, treinador finlandês da Etiópia, resolveu inscrever então os maratonistas Bikila e Abebe Wakgira.

A primeira Olimpíadas

A Adidas, patrocinadora oficial dos Jogos Olímpicos de 1960, tinha poucos pares disponíveis quando Bikila foi experimentar o que usaria na prova. Como ele não achou nenhum deles confortável, o maratonista resolveu correr descalço, pois ela dessa maneira que ele treinava.

Antes da prova, o técnico Niskanen falou sobre os 68 maratonistas que Bikila enfrentaria. O etíope teria que se preocupar mais com o marroquino Rhadi Ben Abdesselam, que usaria o número 26.

Cadê o 185?

A prova, que pela primeira vez seria disputada à noite, foi iluminada pelas tochas de guardas romanos. Ao fazer o reconhecimento do trajeto dias antes, Bikila observou o obelisco de Axum, erguido há aproximadamente 1700 anos na Etiópia e retirado do país por tropas italianas em 1935, na Segunda Guerra Ítalo-Etíope. O obelisco estava a 1,5km da linha de chegada, bem no ponto em que o maratonista etíope deveria dar a arrancada final.

Durante a corrida, Bikila, que usou o número 11, ultrapassou diversos corredores, sempre procurando o tal número 26. Na metade da prova, o maratonista etíope passou a correr ao lado do número 185. Os dois abriram uma grande distância dos demais competidores. Bikila continuou forçando o ritmo para alcançar Abdesselam. E o número 185 o acompanhou quase até o fim da prova, quando Bikila deu a arrancada final. O etíope cruzou a linha de chegada no Arco de Constantino, com o tempo de 2h15m16s. Além do recorde mundial, Bikila se tornava o primeiro negro africano a ganhar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. Em segundo lugar, com uma diferença de 25 segundo, ficou o 185, que era Abdesselam, que correu com o número que competiu os 10.000m.

Após a corrida, Bikila disse que coreu descalço porque "queria que o mundo soubesse que meu país, a Etiópia, sempre tinha conseguido suas vitórias com heroísmo e determinação".

Herói nacional

Bikila voltou à Etiópia como herói nacional. No ditado popular, a frase mais falada na época era que "foram necessários um milhão de soldados italianos para invadir a Etiópia, mas apenas um soldado etíope para conquistar Roma". O maratonista foi promovido a cabo e condecorado pelo imperador Haile Selassie.

Pouco após os Jogos, uma tentativa militar de golpe de estado na Etiópia. Bikila, que nada entendia de política, foi obrigado a participar dele. Ele se recusou a matar autoridades e, quando o golpe foi derrotado, os principais envolvidos foram condenados à morte. Bikila foi perdoado pelo imperador após os pedidos de várias pessoas que atestaram sua recusa em participar dos assassinatos. A imprensa do país declarou que ele "devia sua vida à sua medalha de ouro".

Em 1961, ele disputou maratonas na Grécia, no Japão e na Tchecoslováquia, vencendo todas elas. Sem competir por mais de um ano e meio, em abril de 1963 ele disputou a Maratona de Boston, chegando em quinto lugar. Essa foi a única maratona que não venceu em sua carreira. Depois da prova americana, ele voltou a competir novamente em 1964, numa maratona em Adis Abeba. E venceu.

Dúvida para Tóquio-1964

Quarenta dias antes dos Jogos de Tóquio, durante um treino perto da capital, Bikila começou a sentir fortes dores e teve um colapso ao tentar continuar correndo. Levado ao hospital, o maratonista foi diagnosticado com apendicite aguda. Após a operação, ainda em convalescência, voltou a fazer pequenas corridas noturnas nos jardins do hospital.

Bikila foi para as Olimpíadas de Tóquio-1964 sem saber se participaria da maratona, seis semanas após ser operado de urgência do apêndice. Mas no dia da prova, ele estava alinhado para defender seu título de campeão olímpico. Mas desta vez, o etíope correu calçado, por exigência dos organizadores.

Como em Roma-1960, Bikila adotou a mesma estratégia, mantendo-se no primeiro bloco de corredores até a metade da prova, quando começou a forçar o ritmo. Poucos quilômetros depois, ele tinha a companhia de dois corredores, um deles o australiano Ron Clarke, então recordista mundial dos 10.000m, que havia ganho a medalha de bronze nesta prova alguns dias antes.

Bikila entrou no estádio olímpico sob a vibração de 70 mil espectadores. Com o tempo de 2h12m12s, com quatro minutos de vantagem para o segundo colocado, Basil Heatley, da Grã-Bretanha. ele estabelecia um novo recorde mundial e se tornava o primeiro homem na história a vencer por duas vezes a maratona olímpica.

Maratonista número 1 nas Olimpíadas do México-1968

Mais uma vez Bikila e Mamo Wolde foram inscritos na maratona das Olimpíadas do México-1968 (simbolicamente, a organização deu o número 1 à Bikila). O bicampeão olímpico não teve sorte. Ele teve que abandonar a prova no Km 17 por causa de uma contusão em um dos joelhos. A vitória foi do compatriota Wolde. O campeão declarou, depois da prova, que caso não fosse a contusão do amigo, Bikila certamente venceria pela terceira vez.

Em 1969, Bikila sofreu um acidente com o carro que ganhou do governo durante manifestações civis na capital. Ele perdeu o controle e capotou num barranco. Retirado com vida, o acidente lhe deixou paralítico, confinado a uma cadeira de rodas, mesmo depois de operado na Inglaterra.

Morte aos 41 anos

Convidado do COI par assistir aos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique, Bikila viu fracassar a tentativa de Wolde de se igualar a ele com uma segunda medalha de ouro. Mas o compatriota chegou em terceiro, com o norte-americano Frank Shorter sendo o campeão. Após a premiação, ele fez questão de cumprimentar Bikila.

Abebe Bikila morreu aos 41 anos, em 23 de outubro de 1973, de hemorragia cerebral, complicação neurológica decorrente do acidente de carro. Uma multidão de 75 mil pessoas acompanhou o enterro de seu herói nacional e o Imperador Selassie declarou um dia de luto oficial na Etiópia. (Iúri Totti/Corrida Informa)

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