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River x Boca em Madri: sensação de derrota para argentinos

Torcedores das duas equipes e imprensa local ainda lamentam mudança de palco da final

9 dez 2018 - 14h54
(atualizado às 16h43)
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A grande final da Copa Libertadores entre Boca Juniors e River Plate terá neste domingo, finalmente, o seu desfecho. A história desta decisão de super clássico começou há 28 dias em Buenos Aires e terminará em Madri, no Santiago Bernabéu, às 17h30 (horário de Brasília).

Pela primeira vez, uma final do principal campeonato sul-americano entre as duas maiores equipes argentinas. Pela primeira vez, uma final levada à outro continente. Pela última vez uma final com jogos de ida e volta. Essa semana, milhares de torcedores viajaram até a Espanha para acompanhar um Boca e River nunca jogado antes. Renunciaram empregos, relacionamentos, bens pessoais e alguns até se endividaram. Porém, na capital portenha, o clima é outro.

No último dia 24, que marcou os incidentes violentos contra o ônibus do Boca Juniors e a postergação da partida, o Estádio Monumental recebeu aproximadamente 60 mil torcedores do River Plate que acompanhariam a decisão em sua casa, assim como foi no primeiro jogo realizado na Bombonera. Mudar o confronto para o Bernabéu, um cenário inédito na história do troféu, deixou um grande vazio naqueles que não poderão estar presentes. Principalmente aqueles que esperaram por sete horas nas arquibancadas do River, até que uma decisão fosse tomada.

Torcedor do River Plate antes de entrar no Santiago Bernabéu, palco da final da Libertadores
Torcedor do River Plate antes de entrar no Santiago Bernabéu, palco da final da Libertadores
Foto: Paul Hanna / Reuters

Todos dizem o mesmo: roubaram a maior glória da Argentina e do seu futebol. A sensação de desapropriação é compartilhada por todos, torcedores do River concordam com os torcedores do Boca, e uma final marcada pela violência da rivalidade, acabou unindo o país e as duas "tribos". Os millonários sentem que lhes tiraram a possibilidade de se consagrar com sua gente e suas cores, já os xeneizes, perderam a ilusão de dar a volta olímpica no estádio de seu maior rival.

"Boca e River não nos pertence. O G20 passou por Buenos Aires e nada aconteceu, mas o futebol é mais produtivo, é um presente mais precioso, um bem para ser negociado. Nós o roubamos, todos são cúmplices e todo mundo está lucrando, exceto o povo, menos os torcedores, menos a Argentina que é consumida e diminuída, que se torna vulnerável, terceiro mundista", contou Cristina Cubero, vice-diretora do jornal Mundo Deportivo de Barcelona.

'Vivemos um extremo luto'

Durante essa semana, muitos portenhos ressaltaram que a decisão por parte da Conmebol de tirar o jogo do continente, tenha roubado todo prestigio do futebol local entregando-o ao dinheiro, já que muitos denunciam uma possível "venda" do super clássico para a Espanha, já que, para o argentino, os europeus veem o futebol sul-americano como espetáculo e entretenimento.

"A sensação é comparada ao futebol de Messi, gente da nossa gente, mas não possuímos seu talento, nem mesmo a seleção. Nos tiraram o Messi, uma das maiores glórias do nosso futebol atualmente, e agora nos tiram nossa final histórica, imperdoável. Só haverá festa quando um dos clubes for decretado campeão, antes disso, todos vivemos um extremo luto", contou Juani Matías, torcedor do Boca Juniors.

No Brasil, somos o país do "futebol e samba". A Argentina, por sua vez, é o país do "sentido de pertencer". Para que você entenda a história, Messi é um dos melhores jogadores do mundo e venerado por todas as nações, menos em sua própria terra. O camisa dez migrou ao Barcelona ainda criança porque o clube se disponibilizou a pagar seu tratamento, já que na Argentina não obteve a mesma sorte, por se tratar de um jogador muito jovem. Messi jogou por toda sua vida fora do país, por isso, ao contrário de Maradona, o jogador nunca representaria o território albiceleste tão bem quanto aqueles que desfilaram nos gramados do país. Muitos o chamam de mercenário, por saber que o craque jamais trocaria a estrutura europeia pelo que se vive atualmente na América do Sul. Portanto, apesar de representar sua seleção em todos os Mundiais, o craque está fora e o que está fora não representa a essência argentina. Tirar Boca e River é tirar também a essência de Buenos Aires.

'Final pertence a torcedor que não estará no Bernabéu'

Não faz sentido que a final da Copa Libertadores não seja disputada em Buenos Aires, apesar de ser justa uma punição devido aos tristes incidentes. Entretanto, não é justo para o torcedor genuíno, é a festa deles, aquela que nunca foi dada, nem para os europeus, fascinados pelo cheiro, pelo gosto e pelo suor que vem da Bombonera e do Monumental. Por muito tempo, o futebol na Europa mais se vê do que se sente, o torcedor foi substituído por um espectador que assiste aos jogos como uma final de Super Bowl. O novo desafio da La Liga é fazer com que Girona e Barcelona seja realizado em Miami. Algumas semelhança com Boca e River? Futebol "exportação".

"Um super clássico na final da Libertadores, um River e Boca no Monumental que decide o título mais importante da América do Sul, a inveja do mundo. Real Madrid e Barcelona que nunca disputaram uma final de Champions. Dizem que a América do Sul não está preparada como nós. E aqueles que devem levantar a voz e tomarem uma posição viajam de primeira classe para Madri, ficam em um super hotel de luxo e presenciam a maior final de todos os tempos, aquela que pertence ao torcedor de verdade, aquele que não estará no Bernabéu", concluiu Cristina Cubero.

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