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Pedro Abad: 'Já tivemos movimentos para tirar presidentes e fomos parar na Série C'

Em entrevista ao LANCE!, mandatário do Fluminense destrinchou a situação política do clube, falou sobre o processo de impeachment, situação Scarpa e descrédito com a torcida

26 out 2018 - 05h03
(atualizado às 05h03)
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Salários atrasados, descrédito com a torcida, gestão quebrada e pedido de impeachment. Depois de assumir o Fluminense em 2017, Pedro Abad passa por um período conturbado a frente da equipe carioca. Em entrevista de pouco mais de uma hora ao LANCE! na sede das Laranjeiras, o presidente do Flu fez uma análise geral sobre sua gestão no clube, avaliou erros e comentou sobre o momento conturbado que a instituição passa. Esta é a primeira de três matérias com o mandatário tricolor.

- O ambiente político atrapalha bastante. Os parceiros pensam "será que esse presidente vai continuar?" Eles não têm conhecimento do processo interno. Dificulta obter as soluções. Mas mesmo assim estamos nos mexendo bem no mercado, fora do mundinho da política o mercado me conhece, sabe da seriedade. Nos lugares que eu vou as pessoas escutam, alguns que ninguém tem acesso, eu tenho. Temos conseguido algumas coisas interessantes pela credibilidade que a minha pessoa leva a partir do momento que consigo conversar. A política interna atrapalha, causa tumulto. Óbvio que os jogadores também não gostam de ver o presidente com falta de apoio, ninguém gosta. Mas é mais um obstáculo. O Fluminense sempre foi assim, uma vontade de se autodestruir que não passa. Não adianta lamentar - disse.

Em maio, cinco vice-presidentes pediram renúncia do cargo, entre eles, o vice geral, Cacá Cardoso. Todos estavam na gestão atual e outros que também deixaram as suas funções agora apoiam o processo de impeachment. Abad se mostrou tranquilo com a questão, mas fez duras críticas à instabilidade atual e lembrou das consequências de movimentos passados que tentaram retirar presidentes na história do clube.

- Acho que esse processo é democrático, regulado pelo estatuto e vai acontecer. Posições políticas mudam, não vou ficar falando de "a" ou de "b", isso não ajuda em nada. Cada um tem sua posição e vai responder por isso. Já tivemos movimentos pesados na história do clube para tirar presidentes e tudo que conseguimos foi parar na Série C. Quem quiser andar neste sentido vai encontrar uma oposição pesada e vai arcar com uma eventual instabilidade política se isso acontecer. Estou muito tranquilo com o meu trabalho - falou.

Scarpa durante a passagem no Flu (Foto: MAILSON SANTANA/FLUMINENSE FC.)

Caso Scarpa e mensagem "de paz" criticada pela torcida

A novela entre Gustavo Scarpa e Fluminense, que começou em dezembro de 2017, se encerrou no início de outubro. O processo movido pelo meia contra o Flu tinha valor de R$ 9,282 milhões. No final das contas, o clube carioca receberá 1,5 milhão de euros (cerca de R$ 6,7 milhões) do Palmeiras e o jogador terminou abrindo mão de alguns valores que pedia.

- Esse processo foi muito espinhoso para todas as partes. Finalmente terminou. O atleta vai tocar sua carreira em paz e o clube também segue sua vida. Em todos os processos se toma decisões e paga-se o preço por elas. Eu não diria certas ou erradas, mas cada parte tomou a decisão que achava acertada. Falar quem acertou ou errou não tem muita finalidade. Foi uma relação que demorou a se acertar e todos os ânimos se acalmarem, acredito que palavras podem ser mal interpretadas. O mais importante é que acabou. Cada parte vai aprender as lições de tudo que aconteceu e a vida segue - avaliou.

Uma das contrapartidas do acerto final foi que o Fluminense usasse o termo "conduta correta" no comunicado oficial sobre o acordo. Na nota, o clube escreveu que agradecia "ao atleta pelo profissionalismo, dedicação e conduta correta durante todo o período". Isso não repercutiu bem entre os torcedores.

- O acordo que foi feito foi o melhor possível para todas as partes e existia risco para todas as partes. Existe um modelo que acabou sendo satisfatório, na medida do possível, para todos. A nota refletiu aquilo que precisava ser dito de uma forma ou de outra. Ela foi feita em conjunto com todas as partes. Acho que faz parte do processo e do acordo que falássemos algo para encerrar a discussão - disse.

Pedro Abad com a Taça Rio (Lucas Merçon / Fluminense F.C.)

Confira outras respostas da entrevista de Pedro Abad para o LANCE!:

No meio da confusão relacionada a Scarpa, Autuori e Abel falaram sobre uma proposta do Palmeiras que estava tudo certo, mas o jogador voltou atrás. O que aconteceu, de fato? Qual era a proposta e você sabe os motivos que fizeram ele recuar?

É complicado falar disso. Existiam tratativas por uma troca com o Palmeiras, sim, do Gustavo por outros jogadores, mas não foi a frente. Veio o processo judicial e encerrou com qualquer possibilidade de acordo. Falar que o faríamos ou não é um pouco complicado pois envolve outros atletas, o próprio Palmeiras. Queremos deixar no passado. Já se resolveu e isso não é adequado para este momento. Não tive contato com o atleta depois que ele deixou o clube. Não tive como saber os motivos.

Como analisa o processo de impeachment que está sendo movido no Conselho Deliberativo? Te incomoda o procedimento ou saber que a maioria do Conselho está a seu favor te tranquiliza?

O que me tranquiliza é minha forma de agir, honesta, correta, informando as pessoas sobre o que acontece dentro do clube, tomando decisões não só da minha cabeça. Isso faz com que as pessoas apoiem o trabalho. Não é mera política ou me fechar pois tenho grande parte do conselho. Isso não acontece, falo com todos. No final, cada um toma sua decisão.

A torcida do Fluminense ouviu muitas promessas suas e da sua gestão desde o início do mandato, mas parece ter perdido a paciência. O esse "descrédito" com a torcida é visto por você?

O torcedor tem direito de se manifestar e reclamar, não cabe ficar falando mal disso. A gente mostra com trabalho dentro das nossas possibilidades. A situação do clube que eu encontrei não era a que eu esperava. Então, acabo tendo que corrigir rumos. Um dos principais é o desempenho do futebol. A gente não poder investir e dar mais opções ao treinador dificulta e, mesmo assim, estamos refinando o modo de fazer futebol. Nesta temporada tivemos um desempenho bem melhor do que no ano passado. Conseguimos melhorar com menos dinheiro. A tendência é esse modelo se solidificar neste momento. Sobre as promessas, algumas coisas talvez não sejam realizadas. Mas é fruto de uma situação financeira complicada - disse, admitindo que as vaias surtem algum efeito nele.

Te incomodas as vaias nas arquibancadas?

Dizer que não incomoda é mentira. Óbvio que é muito ruim você trabalhar 14, 16 horas por dia pelo clube, sacrificando vida pessoal e profissional às vezes, e as pessoas te vaiarem. Mas já houve períodos em que isso me afetava mais. Hoje eu entendo que é um direito legítimo do torcedor. Cabe a nós, com o resultado, mudar a percepção e o ânimo do torcedor. Sabemos que também tem política envolvida. Quando a política atua menos, o torcedor tende a se alegrar com as vitórias. Quando perde, é isso mesmo. Todos os presidentes com quem converso passam pelo mesmo problema, alguns não tão ostensivamente como aqui, mas todos tem essa questão.

Como você avalia o seu segundo ano de mandato à frente do Fluminense? Mais tranquilo ou pior que o primeiro?

Foi um ano em que eu já tinha mais experiência que o primeiro. Você tinha um olhar diferente para os problemas. Você consegue visualizar um leque de opções para resolver maior. Mas também um ano muito difícil, assim como 2017. Mas a gente já conseguiu fazer um futebol melhor do que o do ano passado, investindo muito menos. A posição nossa no Brasileiro é melhor que a do ano passado e temos boas chances na Sul-Americana. A gente conseguiu fazer com que a nossa forma de fazer futebol é efetiva e tende a melhorar a partir do momento em que pudermos investir mais no nosso elenco.

O que você tira de mais proveitoso da sua gestão em 2018?

Mostrar que a forma que estamos fazendo a gestão do futebol, de forma colegiada, onde temos cinco pessoas que tomam decisões e a vontade da maioria é respeitada independe de quem ocupe as posições. Eu já fui voto vencido em votações e elas mesmo quando sou vencido eu compro a ideia. Hoje eu vejo que minhas decisões seriam piores se não tivesse ouvido a maioria. Essa foi a melhor noticia de 2018. Saber que nosso modelo funciona e os resultados em campo evidenciam esse acerto.

E o que acredita que mais deixou a desejar?

Tudo aquilo que não andou bem, obviamente ocorreram erros pessoais meus. Houveram erros importantes, mas a falta de uma imprevisibilidade financeira atrapalhou muito. Tudo que não conseguimos entregar, foi impactado pela falta de dinheiro. O inicio do ano foi muito complicado, com a saída dos atletas, com a questão Scarpa. Eu considero que a transição de um ano para outro foi muito complicado na pré-temporada/temporada.

E qual as principais mudanças para 2019?

Acho que 2019 a gente pode refinar o que está sendo feito no trabalho de observação técnica de futebol. Embora não tenha sido ruim, mas o investimento poderia ter trazido mais retorno. Embora tenhamos acertado bastante, algumas coisas não funcionara. Esses erros não podem acontecer. Temos que ter um refinamento de elenco para o ano que vem mais aguçado do que teve esse ano. Deixar o clube em ordem nas questões fiscais, trabalhistas, fornecedores. Esse quadro de dificuldade financeira são batalhas diárias e vence-las é motivo de alegria. Nós também comemoramos pequenas vitórias aqui dentro.

Você tinha 10 promessas na sua campanha política. Paga o preço da cobrança?

Sem dúvidas. Quando você parte de uma realidade diferente do que acredita, é natural que as coisas não aconteçam como você previu. Tem coisas ali que queríamos fazer, se tivéssemos com o fluxo de caixa equacionado, mas não é assim. É natural que o torcedor fique chateado. Retrata a imagem que a gestão tem. Não tem muito o que fazer, precisamos resolver os problemas e cumprir o que der.

Pedro Antonio declarou que foi procurado pelo senhor para voltar ao Fluminense. Qual é a sua relação com Pedro Antonio e quais eram seus planos para o retorno dele?

Eu e Pedro conversamos sobre alguns assuntos. Ele é do Conselho e foi um apoiador meu, não tenho motivos para não falar com o Pedro. Ele me perguntou diversas coisas sobre a gestão e eu fui respondendo. Tivemos algumas conversas. Em determinado momento ele achou que não era o momento de prolongar a relação. Não tem nenhum grande assunto envolvendo isso. Tudo vira notícia e as coisas vão mais longe do que efetivamente são. O Pedro não estava de volta dentro da gestão. Não porque não podia estar, porque é uma pessoa competente, mas não foi o caso.

Lance!
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