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'Olimpíada não vai tirar a nossa identidade', afirma Bob Burnquist

Skatista com mais medalhas no X-Games, o brasileiro falou com o L! sobre sua expectativa para Tóquio 2020, a vida de gestor e garantiu que ninguém perderá sua essência

24 nov 2018 - 07h03
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Skatista com maior número de medalhas da história do X-Games, 30 no total, sendo dez de ouro, Bob Burnquist se tornou protagonista na evolução do skate no Brasil, além de ser uma lenda mundial em sua modalidade. O carioca já chegou a dividir jogos de vídeo-games com Tony Hawk e tem uma Mega Rampa no quintal de sua casa, na Califórnia (EUA).

Bob Burnquist
Bob Burnquist
Foto: Querô Filmes / Lance!

Além das conquistas individuais, Burnquist também ficou conhecido por criar o switch, técnica em que ele inverte a posição dos pés na hora de andar e fazer manobras com o skate, desenvolvendo uma espécie de ambidestria.

Não para por ai! O brasileiro também é dono de façanhas inacreditáveis no mundo do skate. Em 2006, montou um half-pipe (estrutura em forma de U para manobras verticais) na beira do Grand Canyon, nos Estados Unidos. Depois de algumas acrobacias, Bob saltou da pista para dentro de um dos penhascos da região e abriu um paraquedas. Anos depois, saltou de um helicóptero diretamente para a sua Mega Rampa, em queda livre e girando no ar. Mas, também passou por momentos difíceis em sua carreira, como as 28 fraturas sofridas.

Sobre a modalidade, o skate foi oficializado como modalidade olímpica no ano passado e fará sua estréia nas Olimpíadas nos Jogos de Tóquio 2020. Contudo, antes mesmo do anúncio oficial, o número de skatistas já vinha em uma crescente enorme no Brasil e se tornou o segundo esporte mais praticado do país, com aproximadamente 8 milhões de praticantes (atrás apenas do futebol).

Em setembro de 2017, Bob deixou de ser apenas um skatista e se tornou presidente da Confederação Brasileira de Skate (CBSK). E como gestor, ele tem o objetivo de deixar marcas tão expressivas quanto as que cravou ao longo de mais de duas décadas como atleta.

Burnquist ainda tem um projeto, nomeado de Burnkit, que tem como objetivo ampliar a prática esportiva em escolas públicas e na sociedade em geral. A instituição também irá reformar quatro pistas públicas de skate pelo Brasil, como forma de incentivo para novos profissionais. Tudo isso terá incentivo da BV Esportes.

Ao LANCE!, o atleta de 42 anos falou sobre a entrada do skate nas Olimpíadas, planejamento para Tóquio 2020, vida de presidente da CBSK e casos de doping em sua modalidade. Confira a seguir o bate-papo com o maior skatista brasileiro de todos os tempos.

Já se acostumou com a vida de presidente da CBSK (Confederação Brasileira de Skate)? O que mudou desde então?

Temos que ser criativos para encaixar tudo que queremos que fazer. Esse lado da confederação tem sido gratificante, pois a equipe que eu tenho em volta é muito eficiente e talentosa. Isso faz com que eu tenha um suporte melhor. Há muita burocracia, mas como falei, é questão de ter uma equipe qualificada. Sempre tive que lidar com meus patrocinadores e tinha um lado profissional, porque eu empreendia e criava marcas. Não é muito diferente hoje em dia. Só estamos trabalhando com uma confederação, onde temos uma responsabilidade maior, ainda mais nesse momento olímpico.

Qual a expectativa para o desempenho dos skatistas brasileiros em Tóquio 2020? Você influenciará na forma de andar?

Eu não cobraria ninguém, pois me vejo no lugar. Mas, acho que pelo estamos vendo nos resultados, temos tudo para voltar de Tóquio com sucesso. O Pedro acabou de ganhar o Mundial, a bandeira levantou, tocou o hino nacional, e poderia ter sido muito bem uma Olimpíada e medalha de ouro. Pelo fato dele estar disputando com os melhores. A gente consegue acompanhar os resultados e sabemos que temos a oportunidade de trazer medalhas, não uma medalha. Sabemos do nosso potencial. Essa expectativa e pressão está com os estrangeiros. Como em todo evento, cada um compete de um jeito. Eu sabia que tinha uma responsabilidade, mas não entrava em pressão. Competir por diversão é mais a nossa 'vibe'. Não queremos perder nossa identidade. Fui contra o skate nas Olimpíadas durante anos, mas eu acreditava que as organizações e a forma com que a modalidade estava sendo comandada, não ia render. O Brasil conseguiu um espaço nos Jogos quando conquistamos uma representatividade no passado. Sendo assim, achei que fosse melhor sair do muro, pois precisávamos tentar e parar de falar. Eu pensei em ir lá e fazer tudo do nosso jeito. Teremos uniformes que nós mesmos vamos fazer e nada impede de ser um uniforme diferente, não precisa ser igual as demais modalidades. Nós somos o skate. Isso que é legal, pois há uma tranquilidade maior de todo mundo. Repito, não vamos perder a identidade.

Como será selecionada a equipe que defenderá o Brasil nos Jogos Olímpicos?

A princípio, a Seleção será composta automaticamente pelos três primeiros do ranking e uma quarta escolha que não necessariamente precisará ser técnica. Queríamos ter alguém para ser substituo imediato e que se encaixa em qualquer momento. Mas, a técnica que vai ser desenvolver e ser a base da Seleção para 2019. No ano seguinte, a gente pode alterar um pouco para casar com a janela olímpica. Talvez vamos usar apenas o ranking mundial. Ainda estamos estudando, mas é um projeto inicial e que está evoluindo muito. Foi algo muito bom esse ano. Acredito que os skatistas começaram a entender o que estamos fazendo e quais são nossas metas. Isso é o mais gratificante.

Como está a estrutura para a preparação da Seleção Brasileira até os Jogos Olímpicos?

Tem um pessoal que cuida dessa parte, então nós do CBSK estamos seguimos focados com outras coisas. Tenho feito mais do que pregar um perfil de competidores para os Jogos. Estamos fazendo nosso trabalho aqui no Brasil, montamos as pistas do jeito que a gente acha que tem que ser e não pergunto para ninguém de de outro país. Nós, da equipe brasileira, fazemos tudo muito bem e vamos seguir trabalhando forte para seguir melhorando a nossa estrutura. A união, o desempenho, o fato de a Seleção Brasileira ser novidade e de sermos um dos únicos países de ter apoio do governo e da população, aumenta nossas esperanças. O sonho de todo mundo é ter um suporte. O lado de construção de pistas e design fica fora do nosso alcance.

Já tem uma equipe definida para o Pan de 2019?

Os skatistas ainda vão ser definidos para o Pan. É mais uma questão de ver quem vamos mandar. Temos muitos competidores que ainda estão de fora, mas é como eu falo, nosso banco de reservas é de elite e muito bem representado.

Você sempre se demonstrou ser contra a entrada do skate nas Olimpíadas. O que te fez mudar de ideia? A parceria seguirá entre os skatistas mesmo com a competitividade olímpica?

Skatista não vai perder identidade só porque agora é olímpico. Eu sempre curti muito o meio do skate, pois mesmo competindo com meus ídolos buscava fazer o melhor, mas não deixava de admirá-los. Cada um tem uma personalidade e eu sempre fui assim. Claro que ganhar de alguém de alto nível é muito gratificante e não há motivos para jogar uma 'pedrinha' para prejudicar outro competidor. Eu não me sentiria bem desejando o mal de alguém. Quero ganhar com todo mundo competindo igual. O espírito do skate vai chegar e acho que estamos mais próximos dos Jogos Olímpicos do que outras modalidades. Querendo ou não, sempre estou andando com meus 'adversários', todos nós somos amigos. Vamos ver uma coisa diferente. Todo mundo que não acompanha campeonatos de skate não entende e faz essa pergunta: 'Ele é seu competidor e você está batendo palmas?'. Minha resposta é sempre a mesma: 'Nós somos assim'. Esse é o natural do skate, o resto é consequência.

O esporte vive um momento de indefinições no Brasil. A fusão do Ministério do Esporte com os da Educação e Cultura é um dos planos do presidente eleito Jair Bolsonaro. Como você avalia essa iniciativa?

Não tenho muita experiência com política, nem em saber como funciona governança de estado ou algo assim. Mas, acredito que o esporte é muito importante, como a educação, segurança e cultura também são. O Brasil vinha em uma situação que precisava passar por mudanças. Sempre vou incentivar o gasto com esporte, pois sei que é algo importante para a sociedade se desenvolver. Se essa fusão é boa ou não para o esporte, contando que continuamos com alguns projetos, é algo que independe. Eu não sei e ninguém sabe como vai ser. Temos que aproximar para educar. O presidente pode não entender muito de skate e outras modalidades, mas ainda assim é o presidente do Brasil. Vamos procurar estar ao lado para tentar de alguma maneira manter o incentivo no esporte.

Tem alguma novidade sobre o caso do Pedro Barros, que ainda aguarda julgamento por doping?

Isso é uma situação entre o skatista e a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD). Agora, todo mundo está ciente que é um novo momento. Obviamente, o Pedro foi pego no doping por uso de cannabis e que sinceramente, eu acho que isso vai mudar e tem que mudar. Estamos vendo uma evolução, onde na verdade a cannabis não é necessariamente uma droga. É um remédio e a gente como esportista que se machuca muito, sabe que é bem melhor lidar como esse tipo de dor com um produto como a cannabis, do que muito desses produtos que viciam e prejudicam. Falei tudo isso, mas repito, enquanto for regra dentro da Wada (Agência Mundial Antidoping), que o THC é doping, nós temos que seguir essa regra. Se podemos fazer um movimento para que isso saia, tudo bem. Mas, enquanto é, temos que respeitar. Para mim não é um caso sério, acho que temos como lidar com esse fato e é um momento novo. Porém, é o Pedro que resolve esse caso.

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