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Luiz Gomes: 'Venezuelanos'

Como em tudo na vida dos venezuelanos, os efeitos da ditadura de Nicolás Maduro, a crise institucional e econômica que abala o país, se fazem sentir fortemente no futebol local

22 jan 2019 - 19h59
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O início da fase classificatória da Libertadores, envolvendo a partir de hoje 19 equipes do continente, tem um sabor a mais para dois clubes: o Deportivo La Guaira e o Caracas, representantes da Venezuela. Para eles, chegar à disputa de uma vaga na fase de grupos do maior torneio das Américas é mais do que uma conquista no campo. É um exercício de sobrevivência, um exemplo de superação daqueles que só o esporte é capaz de proporcionar. E de emocionar.

Como em tudo na vida dos venezuelanos, os efeitos da ditadura de Nicolás Maduro, a crise institucional e econômica que abala o país, se fazem sentir fortemente no futebol local. As dificuldades se multiplicam, desde a falta de equipamentos para treino, de insumos básicos para a adequada alimentação e preparação física dos jogadores, até a fuga de patrocinadores e dos próprios torcedores dos estádios, o que compromete a saúde financeira das equipes. Não têm sido raros os casos de atraso no pagamento de salários e premiações por algumas equipes, mesmo entre as mais ricas da primeira divisão.

O próprio campeonato venezuelano sobrevive aos trancos e barrancos. São problemas bizarros, inadmissíveis num país que já foi um dos mais ricos da América. A oferta cada vez menor de voos internos dificulta o deslocamento das equipes e interfere significativamente na elaboração da tabela. As dificuldades com o abastecimento de energia faz com que, em algumas regiões, os jogos noturnos tenham sido suspensos, como forma de economia.

O futebol está longe de ser o esporte das massas na Venezuela. Antes dele, o rugby, o beisebol e o basquete têm a preferência da população. Mas o aprofundamento da crise chega exatamente em um momento raras vezes vívido pelo futebol no país. Se os "vinotintos" do time principal não fizeram uma boa campanha nas últimas Eliminatórias - foram apenas duas vitorias contra Bolívia e Paraguai - ficando longe de uma vaga na Rússia, os meninos do Sub-20 têm dado voos bem mais altos. Os venezuelanos são, simplesmente, os vices campeões mundiais tendo disputado o título contra a poderosa Inglaterra, em 2017, na Coreia do Sul, na Copa do Mundo da categoria. E perdido apenas por 1 a 0.

Agora mesmo, no sul-americano Sub-20 que se disputa no Chile, a Venezuela derrotou os donos da casa por 2 a 1 e assumiu a liderança de um grupo difícil onde também estão Brasil, Bolívia e Colômbia Este jogo aliás, foi marcado por um incidente desagradável, discriminatório e que só contribui para aumentar o fardo carregado pelos jogadores venezuelanos.

Inconformado com a derrota, o lateral chileno Nicolás Díaz, agrediu verbalmente o venezuelano Pedro Bonilla a quem chamou de "morto de fome", enquanto os dois deixavam o campo. Um horror. As imagens correram o mundo e, mesmo com os pedidos de desculpa da federação chilena e do próprio jogador, através das redes sociais, será injustificável que a Conmebol e os próprios dirigentes do futebol chileno não apliquem algum tipo de punição ao desbocado. Com o rigor que o caso exige.

Que o episódio deste fim de semana seja único. Que os jogadores do La Guaíra, que estreia amanhã, em casa contra o Real Garcilaso (PER) e do Caracas, bem como do Deportivo Lara e do Zamora, já classificados a fase de grupos, não sejam obrigados a passar por situações semelhantes. Que ao lado das manifestações racistas, da catimba desleal dos bastidores e da violência frequente na arquibancada e nos gramados, ações xenófobas como a do chileno não sejam incorporadas agora ao famigerado discurso de que "isso é Libertadores". Não pode ser. A civilidade agradece!

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