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Luiz Gomes: 'Entra Ceni, sai Dome e o Flamengo continua refém de Jesus'

Sobre Dome, rondava o fantasma de Jorge Jesus. O mesmo que paira sobre a cabeça de Ceni. É difícil sobreviver assim

22 nov 2020 - 08h04
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Acompanhe essa novela.

Rogerio Ceni no Flamengo: por ora, quatro jogos, três derrotas e uma vitória (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)
Rogerio Ceni no Flamengo: por ora, quatro jogos, três derrotas e uma vitória (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)
Foto: Lance!

Capítulo 1: desfalcado de dois dos seus principais jogadores, Pedro e Everton Ribeiro, convocados para a seleção de Tite, o Flamengo entra em campo para enfrentar o São Paulo num jogo decisivo com um time ainda mais modificado. Diego Alves no gol no lugar do menino Hugo, destaque dos últimos jogos.

Imagine também que em meio a tantas mudanças Gustavo Henrique, o Judas das últimas partidas, malhado nas redes sociais pelas falhas cometidas, mantém a posição, fazendo dupla de zaga com Léo Pereira e deixando no banco jovens revelações da base rubro-negra.

Imagine, por fim, que o goleiro que recebeu a preferência do técnico saia com cãibras no meio do segundo tempo e que Hugo, aquele que o técnico barrou, volte a campo, frio, fora do ritmo da partida e cometa uma falha bisonha que resulte no gol da vitória do Tricolor paulista, em pleno Maracanã.

Imaginou tudo isso? Vamos então capítulo 2.

O Flamengo entra em campo para enfrentar o Atlético-GO, o mesmo time que lhe impôs uma derrota acachapante no primeiro turno do Brasileirão, quando venceu por 3 a 0. Uma espécie de prelúdio do que viria pela frente. O time goiano, que se diga, tanto quanto o Flamengo, tinha alguns desfalques importantes, provocados pela Covid.

O Rubro-Negro até tem alguns bons momentos, marca, mas é incapaz de ampliar o placar. Imagine, então, que o empate em 1 a 1 termina com uma inesperada e quase inacreditável pressão do Dragão no final do jogo, com o banco carioca pedindo para o juiz soprar o mais rapidamente possível o apito final.

Chegamos ao capítulo 3, de volta à Copa do Brasil.

Em um novo confronto contra o São Paulo o Flamengo faz um primeiro tempo animador, quase que como nos bons tempos. Imagine um time de marcação avançada, pressão intensa sobre o adversário quando perde a bola, transição mais rápida do meio ao ataque. O Tricolor mal consegue jogar. Mas no retorno após o intervalo o rubro-negro revisita o inferno, toma três gols - são nove só do São Paulo nos últimos três jogos - se desarruma no campo. Perde chances, é verdade- como a de Lincoln com o gol escancarado, o novo bode expiatório da má fase. O insuficiente para endurecer o jogo.

Mas por que você não ficou irado com tudo isso, não disparou a metralhadora giratória da cornetagem nos twitters e facebooks da vida chamando o técnico de burro, incompetente, exigindo a sua cabeça? A resposta é simples: porque o técnico se chama Rogerio Ceni e não Domenec Torrent.

Sim, são dois pesos e duas medidas, mas é só uma questão de tempo. O Flamengo de Ceni, convenhamos, começou tão ou mais vulnerável do que o de Dome. A vitória de ontem contra o cambaleante Coritiba pode até gerar um pouco de paz. Suspiros como o catalão também teve ao longo de sua curta passagem, como na vitória de cinco sobre o Corinthians. O que o ex-técnico do Fortaleza precisa é de tempo - essa semana entre os jogos contra o Racing foi um presente - para montar o time como quer montar, ainda mais enfrentando uma enxurrada de desfalques como tem ocorrido,

Sobre Dome, rondava o fantasma de Jorge Jesus. O mesmo que paira sobre a cabeça de Ceni. É difícil sobreviver assim. Bastou uma boa atuação como a deste sábado para que as comparações se intensificassem. Rogério - que antes do jogo começar disse que o time ia jogar como em 2019 -, não pode cair nessa armadilha. Muito menos, alimentá-la.

Enquanto não se convencer de que 2019 foi um ano atípico, realmente mágico em que tudo deu certo, mas que não vai se repetir tão cedo - provavelmente nem que Jesus estivesse entre nós- o Flamengo não vai se reencontrar. Libertar-se desse passado, ainda que tão próximo, é fundamental. Pois disso depende o equilíbrio emocional dos jogadores para que possam reencontrar o seu melhor futebol. Disso depende a tranquilidade para o treinador trabalhar. Disso depende, enfim, voltar a vencer, naturalmente, sendo o Flamengo de hoje e não o Flamengo de ontem.

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