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'Livre' na Rússia, Muricy vê atuação da Alemanha como a melhor da Copa e pede alternativas para a Seleção

Comentarista da TV Globo, ex-treinador fica impressionado com a reação alemã, diz que Neymar pode ser armador e que repertório de jogadas de bola parada do Brasil é fraco

25 jun 2018 - 07h02
(atualizado às 07h10)
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Hospedado em um hotel próximo à Praça Vermelha, na região central de Moscou, Muricy Ramalho viu a goleada por 6 a 1 da Inglaterra sobre o Panamá ao lado do hoje colega de TV Globo, o ex-árbitro Arnaldo Cezar Coelho, num telão no saguão, durante a tarde de domingo. A manhã foi reservada para exercícios físicos na academia. Entre jogos, seja "no ar" como comentarista ou mais relaxado no sofá, e os programas dos quais participa no SporTV, o ex-treinador diz estar feliz de viver a liberdade de estar numa Copa do Mundo em sua função atual. Ele se recuperou de uma infecção intestinal que o afastou de algumas transmissões na Rússia, nos primeiros dias de Copa, e afirma estar bem. Muito melhor do que quando passava dias longe de casa como técnico...

Antes de voltar a ver mais uma partida, o ex-treinador, de 62 anos, parou para atender à reportagem do LANCE! e deu suas impressões sobre o nível do futebol no Mundial, detalhou pontos que podem fazer Neymar e a Seleção melhorarem, cobrou variações de jogadas em bola parada do Brasil, comentou o nervosismo que viu em Tite e foi claro ao dizer qual a melhor atuação que viu na Copa: Alemanha, na vitória por 2 a 1 sobre a Suécia. "Incrível". Confira as respostas que Muricy Ramalho deu ao L! sobre a Copa do Mundo:

Qual a sua avaliação sobre o nível da Copa, o que se tem visto?

Alguns jogos me chamaram atenção, como Espanha 3x3 Portugal, que inclusive eu comentei. Foi um jogaço, o que se prometia do jogo eles entregaram. Outro jogo que me impressionou foi a vitória da Alemanha. É um time impressionante, a frieza, com técnica, o time jogando com um jogador a menos (Boateng foi expulso no segundo tempo). Volta a ser um time perigosíssimo. O Brasil voltou a jogar bem no segundo jogo. No geral, taticamente estão usando modelos antigos, muita gente com três zagueiros, às vezes com linha de cinco, voltou o que era antigamente. Não temos grande mudança tática. Alguns jogos fracos tecnicamente, deixando a desejar nessa primeira fase. Eu acho que a Copa realmente vai começar no mata-mata, aí vamos ver quem é quem.

Muitos dizem ser a Copa da retranca e da bola parada. Você concorda?

Concordo. Algumas equipes, ou a maioria, jogam atrás da bola, é algo mundial. Até mesmo time grande. Quem tem velocidade faz muito isso, para usar isso no contra-ataque. São muitos poucos times que jogam pressionando, é mais ou menos isso. Não sei se é retranca, é estratégia de jogo.

Você não acha que é uma evolução de algumas seleções menores, que arrumam suas maneiras de neutralizar grandes?

Das menores, sim. Tem motivo para fazer isso. O Panamá não fez e tomou de seis da Inglaterra. Isso é uma coisa do jogo, que é normal. Mas com os pequenos. Os grandes, que tem muitos jogadores, deveriam jogar mais adiantados.

Sobre a Seleção, o que você viu de dificuldades. Esperava-se mais?

Numa estreia é sempre normal ter time nervoso, sentimos isso. Até o Tite estava nervoso, sem falar e sem vibrar. Isso acontece até com treinador. O primeiro jogo foi muito amarrado. No segundo, mesmo com dificuldade enorme, o Brasil forçou o jogo. O Tite fez algo que não está acostumado a fazer nas mudanças, foi algo casual que deu certo. Isso é importante porque criou uma alternativa tática de jogar só com um volante e colocando o Firmino para confundir a defesa adversária, principalmente contra equipes com linha de cinco. Isso confunde muito. Se joga entre as linhas, o Firmino lê bem o jogo. Está dentro da normalidade a Seleção, a tendência é melhorar. Estamos ainda preocupados com Neymar, que não está 100%. O time ataca muito pelo lado esquerdo, precisa criar mais pela direita, o Willian fica muito isolado. Danilo e Fagner não apoiam. Temos que criar mais ali. O Douglas Costa poderia jogar ali se não machucasse. Tem outro ponto que precisa melhorar: a bola parada. Todas as bolas o Brasil levanta direto. A gente está vendo outros jogos, muita jogada ensaiada. Se há um fundamento para melhorar, é isso: bola parada precisa ter criatividade e bola ensaiada. A jogada é sempre a mesma dentro da área, é uma bola marcada.

Você acha que o Neymar tem voltado muito, além da conta?

O grande problema é que se ele ficar enfiado, marcam ele forte. Ele recua para jogar, isso é ideal. Ele jogar, não segurar a bola no meio. Ele precisa sair da marcação para confundir a infiltração do Coutinho e do Jesus. O Brasil não tem um grande armador, alguém que pense como o Tite quer, um ritmista. Tem carregador de bola, o Coutinho é carregador de bola. Neymar também é... Não temos um pensador. Tite procurou isso e não achou. Ele precisa dar um jeito. Se o Neymar fica lá aberto, vai ser marcado como na vida toda dele. O que ele tem de fazer é, quando sai para o meio, armar o time e não fazer jogada individual, porque não adianta nada. Jogada individual boa é perto da área. Neymar já tem experiência e qualidade para armar, o Tite está buscando isso.

Você falou que sentiu o Tite nervoso. Com sua experiência como técnico, o que acha que aconteceu?

É normal, é ansiedade. O treinador tem o time na mão até determinado momento. Tem o treino tático na mão. Quando o time passa a atacar, não tem muito mais na mão. Tem o imponderável, quando o jogador não está bem, o adversário em grande dia. Isso é imponderável. O treinador vai dormir um dia antes com tudo na cabeça, quem vai atacar, como vai marcar. Isso vai ter. Mas esse imponderável deixar o treinador inquieto, inseguro às vezes. Junta uma estreia. É natural ele ficar nervoso, porque o treinador não tem nas mãos o que vai acontecer naquela partida. É mortal.

Como fazer para melhorar isso durante uma Copa?

Com muitas informações. Ansiedade você não tira totalmente, mas diminui com muita informação para você e seu time. Hoje tem muita gente na comissão que faz isso. Quanto mais informação, mais segurança para técnico e jogador. A ansiedade diminuiu.

Qual é a seleção que você mais gostou?

A Alemanha é a que eu mais gostei, mesmo indo mal na estreia. Nesse último jogo, a Alemanha mostrou porque é campeã do mundo. Com um homem a menos, colocou pressão e não levantou uma bola na área. É incrível. Nem escanteio levantava bola na área. É uma seleção que tem pouco improviso. O que é natural num fim de jogo com escanteio, precisando do resultado? Bola na área. Não, eles saem jogando, com um homem a menos. O técnico tirou meio-campista e colocou atacante. Esse time para mim é o que fez mais diferente, nesse jogo contra a Suécia. A atuação da Copa até aqui é essa da Alemanha. A qualidade do jogador, o toque de bola. O melhor jogo que um time fez nesta Copa foi da Alemanha.

Você gostou da Bélgica? Vê nela qualidade para ir longe?

Eu gostei, mas quero ver contra um time de mais categoria. Aí vamos saber a real condição da Bélgica. Pegou times fracos, mas tem uma ideia de time, joga com três zagueiros, está voltando tudo que era antigo... Mas do meio para a frente é muito forte, o Hazard em grande fase, Lukaku fazendo gols. A Bélgica tem banco também, é uma grande safra. Esses países tem poucas safras, precisa aproveitar agora. Pode dar trabalho, mas precisa pegar alguém com mais qualidade para sentirmos que é a Bélgica.

Como está sendo viver o ambiente de Copa?

Está sendo muito legal, conversando com muita gente diferente do futebol. Encontrando pessoas que não via há muito tempo. É importante ver de perto também como está o futebol hoje, as variações, as jogadas... O ambiente de estádio em Copa é muito legal, aquela festa toda. As pessoas estão se divertindo. Tem torcida que não está nem aí para o jogo. O Panamá fez um gol e parecia que tinha vencido a Copa, isso é bonito no futebol. A organização está muito legal, estive aqui ano passado na Copa das Confederações e melhorou demais. As cidades são muito seguras, muito limpa, principalmente Moscou. A Copa está de parabéns, pela festa...

Quem você reencontrou que foi legal?

O Seedorf eu reencontrei. Ele participa do programa no SporTV, ouvir um cara desse falar de futebol é legal. Estou também todo dia com o Petkovic... Você aprende com essas pessoas. É um mundo diferente, com pessoas diferentes, você enriquece e com certeza vai voltar melhor para o Brasil.

O que você tem feito no tempo livre na Rússia?

Não sou muito de rua. Sou viciado em televisão, em ver jogo. Não sou de fazer compras. Fazia uns três dias que não saia, no sábado fomos jantar. Sempre papo com futebol com os amigos que estamos fazendo nessa nova função. Está sendo legal. Eu vim aqui no ano passado, andei na Praça Vermelha, em tudo quanto é lugar, Kremlin... Esse ano não é mais novidade, mas é um lugar muito legal. Estou gostando do ambiente.

Qual a diferença de viajar, tanto tempo fora de casa, na função de hoje em comparação com a época de treinador?

Simples: liberdade! Tenho liberdade. Eu posso ir onde eu quero. É claro que tem os programas para cumprir. Mas nos momentos livres, faço o que eu quero, vou comer onde eu quero. Não tem negócio de esperar jogador descer em hotel, não fico preso no meu quarto, que é o pior que tem.

Fez até bem para a saúde, né Muricy?

Para mim está ótimo (risos). A minha arritmia diminuiu um pouco. Estou me sentindo muito melhor. Pressão estamos acostumados desde garoto, mas o que mais me deixa contente é fazer o que quero. Hoje de manhã fiquei na academia, fiz esteira e musculação por uma hora. Isso me faz muito bem.

Relógio do Kremlin #moscow #copadomundo #worldcup

Uma publicação compartilhada por Muricy Ramalho (@muricyramalhoreal) em

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