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LANCE! destrincha o sucesso do Botafogo de Jair Ventura

Números mostram uma equipe de futebol prático. Treinador comanda superação de expectativas e recebe elogios internos e externos por sustentar a regularidade do time

24 jun 2017 - 08h03
(atualizado às 16h18)
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O time que arrancou da zona de rebaixamento à zona de classificação à Copa Libertadores. Na competição internacional, a equipe que já superou três fases. No Campeonato Brasileiro deste ano, quarta posição após nove rodadas. Na Copa do Brasil, quartas de final. Tudo isso contrariando expectativas, orçamento limitado, elenco sem grandes estrelas e com constantes desfalques. Esse time é o Botafogo de Jair Ventura, cujo trabalho começa a ser alçado como um dos melhores do país.

Mas como? Como o Glorioso alcança fases agudas e entra em sintonia com a torcida? Procuramos entender a mecânica do time alvinegro e, conversando com quem acompanha e é parte da rotina, as características dos quase dez meses de êxito do treinador (abaixo, como o time se defende).

Para começar, Jair fez o Botafogo ser mais prático. Neste Brasileirão, por exemplo, alguns números chamam atenção: a equipe é a terceira que menos troca passes (foram 2589), a terceira, ao lado do Vasco, que mais rouba bolas (167 desarmes) e a quinta que mais concretiza lançamentos (138). Os dados são do Footstats e indicam um time que se entrega, além de procurar definir com rapidez as jogadas. Aproveita as chances que tem (Abaixo, a atual formação ofensiva).

O contragolpe é arma conhecida, a defesa já chamava atenção pela solidez no ano passado, mas o arsenal está aumentando. Os gols contra o Vasco, na última quarta-feira, nasceram de jogadas variadas (Abaixo, variável ofensiva de sucesso contra a Chapecoense, por exemplo).

O vocabulário de Jair é vasto, mas alguns termos se repetem a cada entrevista, e parecem martelar na cabeça dos jogadores. Ao ouvir quem acompanha o trabalho, a "meritocracia", a "transparência", o conhecimento que vai se provando, a busca pela perfeição, o entrosamento com a comissão técnica, a ambientação com o clube e a capacidade de gerir o elenco são palavras e expressões que se repetem. Antes auxiliar, o treinador conhece bem o clube e as pessoas.

Quando precisou lidar com situações mais delicadas, o treinador soube ganhar o grupo mais ainda. Os episódios de indisciplina do já negociado Sassá foram repreendidos e afastaram o atacante dos planos de jogo. Quando Camilo cogitou deixar o clube por ter sido preterido do time titular, o comandante se manteve sereno e o tempo recolocou cada coisa em seu lugar. Quem, por enquanto, está fora, admira o comandante.

- Eu tenho uma admiração pela pessoa, pelo treinador e amigo que é. Ele está colhendo o que plantou. Honesto, transparente e estudioso, posso dizer. Até porque o trabalho é brilhante desde o ano passado. Espero voltar bem para somar com tudo que ele tem feito. Fico muito feliz por estar trabalhando com um cara do nível que ele tem hoje - confessa Luis Ricardo, afastado desde setembro do ano passado por fratura no tornozelo esquerdo.

O filho de Jairzinho sabe que faz bom trabalho. Entretanto, ele avisa. De nada adiantaria toda a capacidade que dizem ele ter se os atletas não acreditassem nele. Pelo visto estão acreditando.

- Os grandes responsáveis são os atletas. A maneira deles assimilarem a minha filosofia, minha metodologia de trabalho. Nós tentamos fazer o simples, tento simplificar ao máximo as questões. São muitos detalhes, mas não é tão complexo. Só consigo isso porque estou há dez meses. Por isso falamos tanto em manutenção do trabalho - ressalta o treinador, antes de concluir:

- Fica como uma cadeia. Neilton, Sassá e Diogo Barbosa saíram. O time é totalmente diferente, mas tem a mesma leitura. Temos tipos de marcação para cada momento do jogo. Já vai entrando no automático quando tem tempo de trabalho. Mas não adianta chegar com várias ideias e eles não fazerem nada. Eles estão comprando, é gratificante. Só consigo porque tenho tempo de trabalho. Se não tivesse, seria bem difícil - analisa Jair.

ESPECIALISTAS

Jair Ventura já pode ser considerado um dos melhores técnicos do país?

GONÇALVES - Zagueiro com quatro títulos pelo Botafogo:

Na verdade, Jair Ventura é hoje uma grata revelação. É muito cedo para considerá-lo um dos melhores treinadores do Brasil. Tem pouca idade, e ainda não tem um tempo de trabalho tão consistente quanto o de outros treinadores. No entanto, é inegável que seu trabalho no Botafogo seja muito bom.

Jair definiu um padrão tático para o Botafogo dentro das possibilidades financeiras da equipe. O grupo assimilou tão bem que, mesmo com a troca de jogadores por lesão, o rendimento segue satisfatório. Para isto, conta muito o fato de ele estar no clube há bastante tempo, conhecer a rotina. Um bom começo mas, não há dúvida, de que ele tem potencial para ser um dos melhores treinadores do país.

AFONSINHO - Campeão da Taça Brasil de 1968 pelo Botafogo:

É muito prematuro dar o posto de "melhor técnico do país" a Jair Ventura. Agora, a firmeza dele chama muito a atenção e indica que ele pode ter uma carreira muito grande no futebol. Em seu trabalho no Botafogo, ele mostra muita firmeza, uma equipe bem organizada. E, acima de tudo, ele não foge da responsabilidade dele quando perde, ao contrário de muitos que ainda se amparam em dar desculpas.

EDUARDO TIRONI - Colunista do LANCE!:

Estamos no meio da temporada, e são poucos times com trabalho sólido com o Botafogo de Jair Ventura. Isto demonstra sua capacidade. Mas, apesar deste bom trabalho, ele ainda precisa de mais tempo para ter experiência e mostrar serviço em outros clubes.

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO - Colunista do LANCE!:

Jair Ventura é um excelente treinador. Mas, acima do papel de técnico, ele se sobressai por ser um bom gestor. Um cara humano, atento aos detalhes, estudioso e que sabe administrar o clube. Além disto, mostra humildade e boa visão de jogo para lidar, inclusive com derrotas do Botafogo. É inegável que Jair, ao lado de Fábio Carille, surge como um dos melhores nomes da nova geração do futebol brasileiro.

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