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Força paulista e abismo para outros estados marcam Brasil no Parapan

Com 30% da delegação composta por atletas de São Paulo, CPB admite que espalhar a prática pelo Brasil ainda é necessidade. 'Estado-chefe' concentra políticas públicas no setor

22 ago 2019 - 08h02
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A chegada da delegação brasileira aos Jogos Parapan-Americanos de Lima, que começam nesta quinta-feira (a cerimônia de abertura acontece na sexta-feira), teve forte sotaque paulista, algo que os peruanos podem se acostumar a ouvir em peso nos próximos dias.

O estado de São Paulo concentra 102 atletas (30,3%) dos 337 convocados. O cenário é ponto de atenção para as ações do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), uma vez que tem sido recorrente. Em Toronto-2015, foram 100 paulistas, cerca de 27% da delegação.

O Brasil será representado em Lima por esportistas de 24 de suas 27 unidades federativas. Somente Piauí, Roraima e Sergipe não têm nenhum convocado. Mas, do primeiro para o segundo colocado no ranking, há um abismo. O Rio de Janeiro tem 35 nomes (10,4%). Em 2015, havia 38 fluminenses.

A atual gestão admite que espalhar a prática dos esportes para pessoas com deficiência no território ainda é uma necessidade.

As explicações para o poderio paulista estão, entre outros fatores, na presença de políticas públicas como o Time São Paulo, que consiste em apoio financeiro do governo estadual para atletas de alto nível e vigora desde 2011.

A inauguração do Centro Paralímpico Brasileiro na capital paulista, maior legado da Paralimpíada do Rio, em 2016, embora mais recente, também fortalece a relevância do estado no movimento paralímpico nacional.

- Nossa ideia é que o CT seja para o Brasil como é a Fórmula 1 para a indústria automobilística. O objetivo é criarmos os programas lá e os reproduzirmos pelo país inteiro. O esporte paralímpico não pode acontecer só em São Paulo - afirmou Mizael Conrado, presidente do CPB, ao LANCE!.

Primeiro colocado nas últimas três edições do Parapan, no Rio-2007, Guadalajara-2011 e Toronto-2015, o Brasil tem como meta para Lima-2019 manter-se na liderança e quebrar o recorde de 109 ouros da última edição.

Dentre os destaques paulistas em Lima, estão o nadador Daniel Dias, de Campinas, dono de 27 medalhas de ouro em Parapans, e os judocas Alana Maldonado, de Tupã, campeã mundial em 2018, e Antônio Tenório, de São José do Rio Preto, quatro vezes campeão paralímpico.

Ainda que em número muito menor, a delegação conta com astros de diversos cantos do Brasil, como Petrúcio Ferreira, de São José do Brejo do Cruz (PB), atual recordista mundial dos 100m e 200m rasos do atletismo.

CPB muda prioridade e projeta centros de referência

O nadador Daniel Dias é um dos paulistas da delegação brasileira em Lima (Foto: Daniel Zappe/Exemplus/CPB)
O nadador Daniel Dias é um dos paulistas da delegação brasileira em Lima (Foto: Daniel Zappe/Exemplus/CPB)
Foto: Lance!

Bicampeão mundial de futebol de 5, Mizael Conrado foi eleito para o cargo em abril de 2017. Antes, ele era vice-presidente na gestão do brasileiro Andrew Parsons. Mas a sucessão não significou a manutenção da mesma linha de trabalho.

Sob a gerência de Conrado, o Brasil passou a priorizar mais a iniciação de atletas, com foco no longo prazo e nas políticas de inclusão, do que em metas ambiciosas nos Jogos Paralímpicos.

Para a Rio-2016, Parsons estabeleceu como objetivo o top 5, mas a nação terminou o evento em oitavo. O dirigente hoje preside o Comitê Paralímpico Internacional (IPC). Mizael não mira mais do que o top 10 em Tóquio-2020.

Na visão da atual diretoria, há muito potencial a ser explorado no Brasil para ampliar o número de praticantes. O CPB planeja inaugurar até o final do ano 12 centros de referência, nas seguintes unidades federativas: Distrito Federal, Roraima, Goiás, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Minas Gerais, Espírito Santo, Amazonas, Sergipe, Rio Grande do Norte e Mato Grosso do Sul.

A entidade, que ainda busca captar maiores investimentos para o projeto, pretende aproveitar as instalações que foram feitas para a Copa do Mundo e os Jogos do Rio, e encontram-se pouco utilizadas.

- Temos universidades onde foram construídas pistas de atletismo, por exemplo, para receber equipes de fora, e contam com profissionais e pesquisas científicas que podem dar suporte. A conversa com patrocinadores está em andamento para que tenhamos o maior subsídio possível - explicou Alberto Martins, diretor técnico do CPB e chefe de missão em Lima-2019.

Tênis de mesa abre o Parapan de Lima

O tênis de mesa inicia nesta quinta-feira a campanha do Brasil no Parapan de Lima. A partir das 12h (de Brasília), começará a fase de classificação, no Polideportivo 3, na Vila Nacional Deportiva (Videna).

O esporte foi uma das modalidades mais vitoriosas da campanha brasileira nos Jogos de Toronto-2015, com 31 medalhas (15 ouros, dez pratas e seis bronzes).

O Brasil será representado por 30 mesa-tenistas. Os campeões de cada classe se classificarão diretamente aos Jogos Paralímpicos de Tóquio-2020, sem a necessidade de passar por qualificatórios mundiais ou submeter-se ao ranking mundial.

Este será o único esporte a começar antes da cerimônia de abertura, marcada para amanhã, às 20h, no Estádio Nacional do Peru.

COM A PALAVRA

Mizael Conrado

Presidente do CPB

Preocupação com o desenvolvimento igualitário

O CT, com certeza, tem um papel importante na concentração dos atletas em São Paulo. As Seleções permanentes de atletismo e natação, as duas modalidades que contam com maior número de integrantes, têm suas bases lá. Outro fator são as políticas do governo de São Paulo, que acontecem desde novembro de 2011. Isso faz com que os atletas busquem o estado, por conta do apoio governamental que existe lá. Mas o CPB tem, sim, a preocupação com o desenvolvimento igualitário do esporte paralímpico no país. Até o final deste ano, nós inauguraremos 12 centros de referência pelo país, em parcerias com universidades e secretarias estaduais de Educação e secretarias estaduais de Esporte. O objetivo é replicar os projetos do CT, desde a iniciação até o alto rendimento, nesses locais.

A distribuição geográfica dos brasileiros no Parapan

Unidade federativa/Número de atletas/%

Acre - 2 - 0,6%

Alagoas - 3 - 0,9%

Amapá - 2 - 0,6%

Amazonas - 5 - 1,5%

Bahia - 8 - 2,4%

Ceará - 7 - 2,1%

Distrito Federal - 12 - 3,6%

Espírito Santo - 4 - 1,2%

Goiás - 15 - 4,5%

Maranhão - 5 - 1,5%

Minas Gerais - 26 - 7,7%

Mato Grosso do Sul - 12 - 3,6%

Mato Grosso - 1 - 0,3%

Pará - 12 - 3,6%

Paraíba - 9 - 2,7%

Pernambuco - 13 - 3,9%

Paraná - 27 - 8%

Rio de Janeiro - 35 - 10,4%

Rio Grande do Norte - 16 - 4,7%

Rondônia - 2 - 0,6%

Rio Grande do Sul - 7 - 2,1%

Santa Catarina - 11 - 3,3%

São Paulo - 102 - 30,3%

Tocantins - 1 - 0,3%

* O repórter viaja a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB)

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