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Faixa-preta exalta parceria com a FJJD-Rio e dá detalhes sobre criação da Comissão de Direitos das Mulheres no Jiu-Jitsu

Saiba mais sobre o que consiste e quais são os propósitos da Comissão de Direitos das Mulheres no Jiu-Jitsu e a importância da parceria firmada com a FJJD-Rio

13 nov 2020 - 10h33
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Marcado para acontecer nos dias 21 e 22 de novembro, no Velódromo Municipal do Rio, localizado no Parque Olímpico da Barra da Tijuca, o Sul-Americano da FJJD-Rio/CBJJD vai marcar a primeira etapa do Super Ranking 2020/2021 do Circuito Rio Mineirinho, e em meio aos preparativos para o torneio, a Federação ganhou um importante aliado no que se refere ao crescimento do Jiu-Jitsu feminino. Formada em Educação Física e faixa-preta de Jiu-Jitsu da Academia Carlson Gracie, com 29 anos de experiência na arte marcial, Luciana Neder foi responsável por idealizar a "Comissão de Direitos das Mulheres no Jiu-Jitsu", que nasceu pela necessidade de um órgão que represente os interesses das mulheres na arte suave e atue como a principal instância de negociação e de observância e monitoramento de seus direitos.

Luciana Neder é idealizadora da Comissão de Direitos das Mulheres no Jiu-Jitsu (Foto: Divulgação)
Luciana Neder é idealizadora da Comissão de Direitos das Mulheres no Jiu-Jitsu (Foto: Divulgação)
Foto: Lance!

A Comissão recebeu, recentemente, o apoio da FJJD-Rio, representada por Rogério Gavazza. A entidade, em setembro, também já havia fechado parceria com o projeto "Lutadoras", ação que é uma parceria da Umbra/Vasco, Revista TATAME e Prefeitura do Rio. O movimento, vale ressaltar, visa o combate à violência contra a mulher.

Pentacampeã brasileira pela CBJJ, campeã do Internacional de Masters da IBJJF, do NAGA, entre outros títulos, Luciana Neder foi a primeira coordenadora mulher da rede de Academias Body Tech. Além disso, foi a primeira professora de Jiu-Jitsu a sair do Brasil com a difícil missão de ensinar a arte suave para meninas mulçumanas nas escolas públicas dos Emirados Árabes Unidos, sendo promovida a supervisora no Ministério de Educação, onde criou a política didática-pedagógica e metodologia de ensino do Jiu-Jitsu nas escolas do país, unindo a arte marcial e o desenvolvimento humano.

Em contato com a TATAME, Luciana deu mais detalhes sobre o desenvolvimento da Comissão de Direitos das Mulheres no Jiu-Jitsu e os desafios ao longo do processo, o contato inicial com Rogério Gavazza e o estreitamento da relação com a FJJD-Rio, entre outros assuntos.

Confira abaixo:

- Como foi a construção da Comissão de Direitos das Mulheres no Jiu-Jitsu? E quais barreiras surgiram no decorrer deste processo?

Desde que eu escrevi o Projeto Político-Pedagógico, em parceria com os advisors do Abu Dhabi Education Council, eu sentia uma necessidade enorme de criação de um programa de desenvolvimento do Jiu-Jitsu feminino, pois lá nos Emirados ficou muito claro para mim a desigualdade de gênero no esporte. Não só pela cultura do país, mas pela cultura patriarcal e machista que existe nos esportes, e em específico no Jiu-Jitsu.

Quando voltei a morar no Brasil, fui trabalhar em uma ONG internacional de lutas e artes marciais, que tinha um baixo número de praticantes mulheres, até porque das nove modalidades que faziam parte do pilar de lutas e artes marciais, em nenhuma delas tinham professoras mulheres. E aí, eu comecei a colocar nessa ONG uma parte da metodologia desse programa que criei, em todas as modalidades. Fiquei três anos nessa ONG, e no último relatório do ano que estive trabalhando lá, o número de meninas tinha pulado de 12% para quase 40%. Foi uma conquista e tanto.

Com isso, eu vi na prática que essa metodologia de desenvolvimento dá super certo, o que é necessário é oferecer oportunidades às minorias, ou seja, praticar a equidade. Uns anos depois, eu tentei inserir essa metodologia em uma federação, mas me deu um insight de que esse programa de desenvolvimento do Jiu-Jitsu feminino precisa ser muito maior para estar dentro de apenas uma federação, já que o Jiu-Jitsu possui várias, e possui altos índices de desigualdade de gênero. Essa metodologia precisa abranger toda a comunidade do Jiu-Jitsu, e por isso, acreditei que uma comissão seria o melhor a ser criado. A comissão tem apenas quatro meses, e sei que vamos esbarrar ainda em muitas barreiras, mas a principal delas é, obviamente, a falta de investimentos, pois a CDMJJ é uma ONG sem fins lucrativos, com objetivo de desenvolver a categoria feminina, e não lucrar em cima das atletas. Todas nossas ações serão gratuitas às mulheres.

- Recentemente, você sugeriu algumas mudanças no edital do Campeonato Sul-Americano da CBJJD. Quais foram as sugestões apresentadas e como foi estabelecido o diálogo com a entidade?

No nosso pilar de proteção da CDMJJ, criamos uma política de prevenção e enfrentamento à violência contra a mulher. E nessa política, temos um canal de Ouvidoria, onde recebemos diariamente denúncias de todos os tipos de violências que acontecem no Jiu-Jitsu, decorrentes dessa desigualdade de gênero. E uma das denúncias foi com relação à desigualdade de premiações na CBJJD. Imediatamente, entrei em contato com o Presidente, que foi muito aberto a ouvir as sugestões, e na mesma hora, fez até mais que iríamos sugerir. Igualou todas as premiações. Nós iríamos sugerir algo mais relativo ao número de inscritos e inscritas, mas ele foi além e igualou tudo. O objetivo da CDMJJ é ser a voz das mulheres para promover diálogos mais assertivos com todas as entidades e órgãos relacionados ao Jiu-Jitsu, utilizando embasamento teórico e oferecendo sugestões eficazes.

- A Federação de Jiu-Jitsu Desportivo do Rio (FJJD-Rio) aderiu a campanha Lutadoras, do Projeto Umbra/Vasco da Gama, que objetiva combater o assédio e violência dentro e fora das artes marciais. Como você avalia a iniciativa?

Trata-se de uma excelente iniciativa de todos envolvidos. Fiquei muito feliz por participar dessa campanha. É de extrema importância que sejam realizadas campanhas educativas visando conscientizar, mudar comportamentos, atitudes e práticas ligadas à prevenção de suas vulnerabilidades, empoderamento, exercício dos direitos e enfrentamento das violências e desigualdades. O esporte é uma excelente ferramenta de desenvolvimento humano, mas não podemos ser levianos e achar que ele está dentro de uma bolha. O que acontece com as mulheres nos esportes em geral, é espelho dessa nossa sociedade cheia de desigualdade. E não são só as mulheres que sofrem, mas toda as minorias: os negros, a comunidade LGBTQIA+, as pessoas com deficiência, e etc.

Além das campanhas, que fazem parte do pilar de educação da CDMJJ, criamos em conjunto com as primeiras associadas da comissão o selo Women Friendly, que é um protocolo de engajamento de meninas e mulheres para que elas façam sua iniciação no Jiu-Jitsu da melhor forma possível, em um ambiente seguro e amigável. Existe uma carência enorme de uma metodologia de iniciação esportiva para a mulher por conta da grande desistência no Jiu-Jitsu. Com isso, vimos a necessidade de se criar locais de treinamento e competição que não sejam ao menos passivamente hostis às mulheres. Isso se constitui pelo fato do Jiu-Jitsu ser um esporte de predominância masculina e os fatos históricos, com relação a cultura do esporte sendo hostil às mulheres, negando a elas oportunidades de promoção, desvalorizando suas contribuições, silenciando suas vozes, subestimando suas habilidades e as penalizando pelo comportamento pelo qual os homens são recompensados. E por isso, em sua maioria, academias, agremiações, clubes e federações não estão preparadas para atender às demandas das mulheres no esporte. Muitas pesquisas já relataram casos de mulheres que já sofreram alguma forma de discriminação com base no gênero no Jiu-Jitsu, senão assédio direto ou mesmo agressão, então precisamos criar ambientes desportivos, onde as mulheres possam prosperar, e para isso, precisamos capacitar, certificar e monitorar os espaços relacionados ao Jiu-Jitsu.

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