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Diretor do COB quer 'entendimento' por brasileiros no surfe em Tóquio

Critérios de classificação do surfe para as Olimpíadas demandam participação em eventos paralelos ao Circuito Mundial; Jorge Bichara, diretor de esportes, preza por diplomacia

19 dez 2018 - 16h16
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Em meio à comemoração de seu bicampeonato mundial de surfe, conquistado nesta segunda-feira, Gabriel Medina disse que "seria" uma honra representar o Brasil numa Olimpíada. O natural de Maresias logo corrigiu-se, afirmando que "vai ser" especial surfar pelo país em Tóquio-2020. Mas sendo esse um ato falho ou não, é preciso ir a fundo para entender um pouco mais do que está por trás de uma eventual participação dos brasileiros no surfe dos Jogos.

As expectativas para a presença de surfistas tupiniquins como Filipe Toledo e Ítalo Ferreira (além do próprio Medina) são grandes - mas há alguns detalhes que precisam ser esclarecidos antes que se crie um frenesi.

Quando se trata do sistema de classificação aos Jogos Olímpicos, além dos requisitos conquistados dentro das águas, há outros adicionais no caminho dos surfistas que desejam estar em Tóquio-2020. São os chamados "critérios de elegibilidade": o primeiro é ter "um bom relacionamento" com sua confederação nacional e a Associação Internacional de Surfe (ISA, na sigla original em inglês), seguindo as regras desta.

O segundo é cumprir os requisitos mínimos de participação nos Jogos Mundiais da ISA em 2019 e 2020 - mas esses ainda não foram divulgados pela associação internacional. Os atletas teriam de participar dos Jogos Mundiais de Surfe, torneio sem apelo, organizado pela entidade. E é aí que começa o problema.

Vale ressaltar, ainda, que a CBSurfe teve seu presidente Adalvo Argolo afastado na última quinta-feira, após decisão da Justiça Federal de Brasília. O pedido para o afastamento veio de ninguém menos que o vice da confederação, Guilherme Pollastri - este alegou administração temerária e disse ainda não conhecer a metodologia para administração dos recursos. É seguro dizer que não há um bom relacionamento nem dentro da própria CBSurfe, menos ainda para com os atletas.

Jorge Bichara concedeu entrevista ao LANCE! durante Prêmio Brasil Olímpico (Foto: Bárbara Mendonça/LANCE!)

CBSurfe não quis apoio do COB para Jogos Mundiais de 2018

Com a entrada do surfe no programa olímpico, a CBSurfe é mais uma das confederações filiadas ao COB. Durante a preparação para os Jogos Mundiais de Surfe em 2018, o comitê nacional propôs auxílio com a parte logística.

A confederação negou e preferiu caminhar sozinha, mas acabou não tendo sucesso. Dificuldades logísticas deixaram a CBSurfe sem recursos - e sem as passagens aéreas - para levar a delegação brasileira a Tahara (Japão), onde ocorreu a disputa da ISA.

Durante a realização do Prêmio Brasil Olímpico, nesta terça-feira, o LANCE! conversou com Jorge Bichara, diretor de esportes do Comitê Olímpico do Brasil (COB). O dirigente citou o episódio pré-Jogos Mundiais neste ano e reforçou a missão do COB em fornecer apoio às confederações filiadas.

- Nossa função é dar suporte às confederações em seus campeonatos mundiais, disponibilizar recursos. No caso da CBSurfe, a organização logística. Eles fizeram a opção de seguir o caminho deles. Respeitamos. Entendíamos que eles iam enfrentar dificuldades, como acabaram não conseguindo levar a delegação ao torneio. Óbvio que isso traz prejuízos aos atletas, que se prepararam para esse evento. A gente espera que eles tenham entendido e que, da próxima vez, isso não venha a acontecer novamente trazendo prejuízos para a modalidade - declarou à reportagem.

Conflito de datas pode levar atletas a priorizarem o Circuito Mundial

A disputa dos Jogos de 2019 será entre os dias 7 e 15 de setembro. Mas há um "porém" importante: o começo do torneio será apenas seis dias após o fim da etapa do Tahiti no Circuito Mundial de surfe, além de terminar só quatro dias antes da etapa de Surf Ranch Pro - a piscina de ondas artificiais de Kelly Slater, apresentada ao público em 2018.

Hoje, Filipe Toledo estaria classificado às Olimpíadas pelas vagas da WSL (Foto: Keoki Saguibo/WSL)

São duas etapas de peso, sendo que uma delas ainda requer maior preparação, principalmente por ser extremamente nova para os surfistas. Esse conflito de datas poderia levar os atletas a priorizarem o Circuito Mundial - mas Bichara mantém a fé de que haja uma saída diplomática para o entrave com a ISA.

- A questão do Medina (e dos brasileiros no geral) envolve participação em eventos de uma outra entidade, que é a ISA e tem seu campeonato. Ele é uma pessoa que tem uma quantidade de eventos esportivos grandes no seu calendário. Os atletas precisam, em alguns momentos, de descanso. Hoje, entendemos que ele tem uma prioridade sim, que é o Circuito Mundial de surfe da WSL. Já está previsto que a gente se reúna, converse e tente buscar um entendimento. É de nosso interesse, do COB e dos brasileiros, que os melhores atletas estejam nas Olimpíadas - completou o diretor de esportes do Comitê Olímpico do Brasil.

Hoje, o Brasil teria ao menos três classificados pelas vagas da WSL, reservadas aos dez primeiros colocados do ranking: Gabriel Medina (líder da lista), Filipe Toledo (quinto) e Ítalo Ferreira (sexto).

- O que falar de uma equipe que pode contar com três dos quatro principais atletas do mundo nesse momento? Seria fantástico para o Brasil poder contar com eles. Vamos sentar e conversar. Mas seria, neste momento, o time dos sonhos - finalizou Jorge Bichara.

Participação de surfistas em Tóquio-2020 passa por uma série de critérios (Foto: Ed Sloane/WSL)
Participação de surfistas em Tóquio-2020 passa por uma série de critérios (Foto: Ed Sloane/WSL)
Foto: Lance!
Lance!
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