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A história do Menino da Vila gaúcho preterido no Grêmio e hoje santista

Criado em Imbé, litoral norte do Rio Grande do Sul, Guilherme Nunes rodou por clubes da região e fez até teste no Tricolor antes de ser trazido ao Santos. Agora, espera sua chance

21 out 2018 - 05h03
(atualizado às 05h03)
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Enquanto espera sua chance de jogar sob o comando de Cuca no Santos, o volante Guilherme Nunes atendeu a reportagem do LANCE! e por quase meia hora contou um pouco de sua história. Gaúcho nascido em Novo Hamburgo, mas criado em Imbé, litoral norte do Rio Grande do Sul, o volante de 20 anos rodou pelo Sul do país antes de encontrar portas abertas para ser jogador de futebol. Hoje feliz da vida na Baixada Santista, já se sente um caiçara nato.

Ainda garotinho, Nunes deu os primeiros passos com a bola nos pés em uma escolinha chamada Santa Terezinha. Fez teste no Grêmio em 2012, mas não ficou no clube gaúcho. Desde então, colocou na cabeça o que queria para o futuro e teve de enfrentar outras fechadas de porta antes de concretizar o sonho e ser descoberto pelo olheiro Sandro Orlandelli.

- Em 2012, eu estava jogando os campeonatos da cidade, em 2012, um senhor me viu jogar e gostou. O filho dele havia jogado já no Grêmio, então ele tinha uns contatos, aí ele me chamou. Eu fui, fiquei na casa dele um mês mais ou menos, fazendo teste. Não fiquei. Voltei para minha casa. Então, peguei firme e coloquei na cabeça que queria ser jogador de futebol. Em 2013, vi que tinha que ir para Porto Alegre ou Novo Hamburgo, onde meu primo jogava e morava. Apareceu uma oportunidade lá, fui, fiz teste no começo de 2013 para o infantil. Passei, mas não tinha alojamento. Então voltei de novo para casa. Não deu. Vamos que vamos, vida que segue, eu pensei - conta, com a história fresca na cabeça:

- Foi então que apareceu uma chance no Ivoti, perto de Novo Hamburgo, onde meu tio morava. Ele trabalha de cabeleireiro, então um cara foi cortar o cabelo com ele e contou que uns empresários iriam pegar um clube para investir e queriam molecada, peneirão para formar time e lançar. Meu tio falou com minha mãe e eu topei, queria estar jogando em algum clube. Meu sonho. Fui, passei no teste, mas de novo não tinha alojamento. Só tinha para o juvenil e eu era infantil. Eu estava com 15 anos. Dessa vez, a gente teve a ideia de ficar em algum parente. Fiquei o ano todo lá, me destaquei no infantil, disputamos o campeonato regional e vencemos.

A chance que conseguiu aproveitar no Ivoti, modesto clube da região, transformaria para sempre a carreira e Guilherme Nunes. Afinal, em outubro daquele mesmo 2013, um dos olheiros do Santos, Sandro Orlandelli, esteve presente em um dos jogos dos meninos do juvenil do clube gaúcho. A história curiosa do Menino a Vila, embora cheia de percalços, teve um final feliz.

- O olheiro do Santos ia para ver um atacante nosso. Nisso, eu tinha subido para o juvenil recente e estava de reserva, né? Igual agora, subi e estou no banquinho (risos). Eu entrei no segundo tempo, não fiz nada. Falo até que foi Deus, porque eu tinha acabado de subir. Só lembro de uma bola que coloquei nas costas do zagueiro. Na época, eu não era volante, eu era meia atacante. Terminou o jogo e na semana os caras soltaram no site do clube que o olheiro tinha gostado de um 98. O diretor da base me chamou. Os moleques do time viram que ele conversou comigo e já estava me chamando de Menino da Vila, que era eu o escolhido - conta empolgado.

Mudança de posição e percalços para ser Menino da Vila

Mesmo tendo sido escolhido por Sandro para fazer o teste no Santos, não foi fácil pra Guilherme se tornar um Menino da Vila. A primeira ida à Baixada Santista - momento no qual também andou pela primeira vez de avião - resultou em frustração. Foi preciso esperar 2014 para, enfim, conquistar uma vaga nas categorias de base do Alvinegro. Orgulhoso da própria história, o volante lembra com detalhes.

- Eu jogava de meia, mas o Sandro queria que eu viesse para cá como zagueiro. Eu falei que sim, mas disse que nunca tinha jogado de zagueiro. Então ele disse para eu treinar no Sul um mês como zagueiro e depois fazer o teste. Topei. Fiquei um mês treinando de zagueiro, me adaptei. Zagueiro é fácil (risos). Vim para cá no fim do ano, só que acho que a comunicação entre os dois clube falhou. Eu vi na terça, só que meu voo atrasou. Cheguei em cima da hora do treino, não deu tempo de treinar. Na quarta, fui treinar, foi um amistoso que só deu a gente, fui direto no grupo. Eu nem encostei na bola direita. No fim do treino, avisaram que era o último treino do ano. Não deu para mostrar nada. Conversaram lá e disseram para eu voltar só em fevereiro para Santos - explica.

Na volta a Santos, em fevereiro do ano seguinte, mais um desafio se aproximava: se firmar de vez como zagueiro ou então tentar se reaproximar de sua posição original no meio-campo. Pouco a pouco, as coisas foram acontecendo. Homem de confiança do ex-treinador do Peixe Aarão Alves, Nunes foi se soltando aos poucos na base santista.

- Em fevereiro, já era o primeiro ano de juvenil. Na época, era o Aarão Alves. Cheguei como zagueiro e ele me aprovou depois de duas ou três semanas. No meio do ano, teve um campeonato na África que levava garotos 95, 96 e 97. Os caras levaram alguns 97 do juvenil, então abriu espaço para eu jogar de zagueiro. Bambu foi. Quando eles voltaram, eu segui titular. Nesse ano de 2014, ganhei moral com Aarão. Em 2015, pedi para voltar à minha posição. Mas não a posição original, porque eu era meia atacante. Aprendi a marcar nesse tempo como zagueiro, então quis ser primeiro volante. Mais pegada. Em 2015, foi onde minha carreira subiu muito, peguei Seleção, fui para o Mundial.

Paciência para se firmar, aversão à chimarrão e paciência

Hoje no grupo profissional do Santos, Guilherme Nunes ainda aguarda pela primeira chance com o técnico Cuca. No ano, apenas três jogos. Mais maduro e totalmente à vontade na Baixada Santista, nem chimarrão toma mais. Com a família por perto, aposta em um 2019 de sucesso no Alvinegro.

- O cara, às vezes, tem uma visão do profissional e chega aqui e vê que é totalmente diferente. Muda muito. Na base, era correria. No profissional não é assim. Ano que vem acho que já vou estar na média de maduro, porque tem muita diferença. Eu não peguei a pré-temporada dos caras. Cheguei depois da Copinha. Cada ano, o cara aprende alguma coisa. Esse ano foi muito de aprendizado, experiência. Tivemos momentos ruins, também. Agora, estamos em um momento bom. Estou trabalhando e me sinto bem nessa posição. Vou dar meu máximo. Vou fazer cinco anos aqui, já perdi o sotaque (risos). Minha mãe até fala que eu sou um falso gaúcho, não tomo chimarrão. O Sasha, todo mundo vê que é gaúcho. Eu não - conta.

Sonho com gigante europeu

Guilherme garante não ter medo de sonhar alto. Se no começo da carreira colocou na cabeça que seria jogador de futebol, agora espera trilhar uma bonita história no Peixe para depois, quem sabe, assinar contrato com um clube gigante da Europa, de preferência na Inglaterra.

- Planejo fazer uma história bonita no Santos e daqui um tempo ir para fora num grande clube na Europa e na Seleção. Jogar uma Premier League deve ser muito top. Entre o Barça e o Real, eu prefiro o Barça. Mas uma liga da Inglaterra, City, Manchester United... Sonho alto, de já chegar em time grande. O cara sonha e vai atrás disso, vou em busca desse sonho - finaliza.

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