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'A cobrança por transmissão foi uma atitude oportunista da diretoria do Flamengo', diz especialista

Consultor de marketing e gestão esportiva, Amir Somoggi apontas falhas no plano de ação rubro-negro e diz: 'Os dirigentes jogaram no lixo a chance de mudar o futebol nacional'

5 jul 2020 - 09h07
(atualizado às 09h42)
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Rodolfo Landim durante entrevista coletiva: 'O Flamengo vai ter de se retratar', crê Amir Somoggi (Foto: Marcelo Cortes / Flamengo)
Rodolfo Landim durante entrevista coletiva: 'O Flamengo vai ter de se retratar', crê Amir Somoggi (Foto: Marcelo Cortes / Flamengo)
Foto: Lance!

A conduta do Flamengo em relação à transmissão da reta final do Campeonato Carioca não rende controvérsias apenas entre os torcedores. Sócio da Sports Value, uma das principais empresas de marketing esportivo do país, Amir Somoggi vê uma série de equívocos na postura do Rubro-Negro anunciar que cobrará R$ 10 para não sócios acompanharem a exibição do duelo com o Volta Redonda, pela semifinal da Taça Rio neste domingo.

- Na verdade, o Flamengo fez tudo errado. Você só se impõe com honestidade e transparência. O clube tinha de dizer que o primeiro jogo transmitido pela FlaTV era grátis mas, a partir do segundo jogo, ia ser cobrada uma taxa para não sócios. O que não pode é ser oportunista - e, em seguida, afirmou:

- A direção do Flamengo vem se mostrando oportunista faz tempo. Com a MP (984, das transmissões) também foi assim... Agora, eles resolveram ter oportunismo com o torcedor, que está sentindo as atitudes erradas do Flamengo perante a sociedade. O clube vai ter de se explicar para a torcida, uma vez que ela é a base de toda a estratégia do Flamengo. Achar que vai faturar com streaming só porque tem a maior torcida do mundo não necessariamente dará certo. Será desafiador fazer streaming, em especial agindo desta forma com o torcedor - complementou, ao LANCE!.

A opção do Rubro-Negro por transmitir o jogo por meio da plataforma MyCujoo também não foi vista por Amir como uma cartada ideal.

- O melhor caminho era fazer isto dentro do aplicativo do clube e ainda sem consumir o plano de dados, fazendo parceria com operadoras - disse.

Criada pelos irmãos portugueses João e Pedro Presa, a plataforma MuCujoo está em 120 países e transmite 30 mil jogos de futebol. A ferramenta já era utilizada para transmitir jogos das categorias de base do Rubro-Negro desde 2016. Saiba detalhes sobre a plataforma aqui.

FLAMENGO IGNOROU O MODELO DO 'FREEMIUM', DIZ SOMOGGI

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Somoggi indicou que a ideia de exigir um pagamento pelas partidas só apresentaria bons resultados a longo prazo e com boas medidas.

- Já que o Flamengo tem este plano de ter uma cobrança mensal, o melhor caminho seria colocar o Carioca em um pacote muito corriqueiro no mercado, chamado "freemium" (mistura de "free" com "premium"). O Spotify é freemium, pois disponibiliza um período grátis para teste do consumidor e só depois o assinante começa a pagar. Seria interessante o Flamengo deixar com opção gratuita o Carioca e em um acordo posterior estipular o preço a R$ 10 para cada jogo do Brasileirão e da Copa do Brasil, por exemplo - afirmou.

Aos olhos do especialista de gestão e marketing esportivo, havia outros meios do Rubro-Negro obter faturamento com as partidas.

- Os R$ 10 não eram nada perto do faturamento que o clube podia ter com venda de produtos, doações... Ganhariam mais com os superchats (doações feitas por torcedores via YouTube) durante o jogo do que com estes R$ 10 de cada não sócio - declarou.

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BRASIL AINDA ENGATINHA NO STREAMING

Amir Somoggi também constatou alguns erros de estratégia que assolam o futebol nacional.

- No momento decisivo, todos os clubes erram. Não conseguem segurar o afã oportunista e querem ganhar no curtíssimo prazo porque não é legal ser honesto, transparente. Os dirigentes aproveitam um momento do "bem-bom", da boa fase para, como diz o torcedor no Twitter, colocarem uma facada nas costas - disse.

Em relação à nota oficial do Flamengo (que afirmou que o valor de R$ 10 corresponde a um quarto do que custaria o ingresso da semifinal), o especialista em marketing e gestão financeira é categórico.

- O Flamengo tira o jogo da TV aberta, que é grátis, para cobrar na Internet. É absurdo! O futebol é um produto que chega de graça na casa das pessoas e nos bares. Ainda acho que o clube voltará atrás porque a rejeição da massa vai ser maior. Foram dezenas de torcedores se queixando. O Flamengo jogou no lixo uma grande oportunidade para mudar o futebol brasileiro - completou.

Amir Somoggi ainda detalhou quais são as perspectivas do streaming no país.

- O streaming é uma plataforma importante, mas para ser uma receita complementar. A TV aberta e fechada em um país de 207 milhões de habitantes continuarão a ter um grande impacto. Não podem ser substituídas por streaming, ainda mais que 80% das pessoas têm plano pré-pago de celular - e destaca:

- Agora, é fundamental começar a ter jogo transmitido assim. O Flamengo mostrou a força dele, outros não vão ter mesma força dele, mas podem contar com um ganho adicional se souberem gerenciar a relação com a plataforma digital e com a própria Rede Globo - complementou.

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