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Corinthians perdeu dois titulares em tragédia há 50 anos

Eduardo e Lidu morreram em acidente de carro na Marginal Tietê, quando voltavam de restaurante após partida contra o São Bento

26 abr 2019 - 07h03
(atualizado às 14h58)
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O dia 28 de abril de 1969 ficou marcado na história do futebol por um momento trágico. Neste dia, o ponta-esquerda Eduardo, de 25 anos, e o lateral-direito Lidu, de 22, que eram jogadores titulares do Corinthians, morreram em acidente de carro na Marginal Tietê, enquanto voltavam de um restaurante, após a partida contra o São Bento pelo Campeonato Paulista, que terminou empatada em 1 a 1. A data completa exatos 50 anos neste domingo.

Fusca de Lidu acabou esbarrando em guias de concreto e capotou por várias vezes (Foto: Reprodução de internet)
Fusca de Lidu acabou esbarrando em guias de concreto e capotou por várias vezes (Foto: Reprodução de internet)
Foto: LANCE!

A delegação alvinegra saiu de Sorocaba a noite e seguiu para São Paulo diretamente para o Parque São Jorge. Ao chegar na sede do clube, parte do grupo decidiu jantar no restaurante Recreio Chácara Souza, no bairro de Santana. No retorno ao Parque São Jorge, aconteceu o acidente, próximo da ponte da Vila Maria, (hoje ponte Jânio Quadros).

Lidu, que era recém habilitado, dirigia seu fusca pela Marginal, na época em construção e com pouca iluminação. Em determinado momento, o lateral capotou o carro ao passar por guias jogadas no asfalto, perto da ponte da Vila Maria. Com o impacto, os jogadores foram arremessados para fora do veículo, sofreram traumatismo craniano e morreram na hora. Antes do socorro chegar, os corpos ainda foram saqueados, e objetos como relógios e carteiras foram levados. Não haviam outras pessoas dentro do carro acidentado.

O acidente foi capa de diversos jornais do Brasil no dia seguinte. A população ficou sem acreditar na tragédia que tirou dois titulares importantíssimos do Corinthians. O velório, que aconteceu no Parque São Jorge, contou com a presença de milhares de pessoas, entre torcedores e personalidades do esporte. Após o velório aberto, o corpo de Lidu seguiu para Presidente Prudente (SP), enquanto o corpo de Eduardo foi levado para o cemitério do Caju, no Rio de Janeiro. Ao todo, Lidu jogou 36 partidas pelo Timão (com 24 vitórias, seis empates e seis derrotas). Já Eduardo fez 71 jogos (com 44 vitórias, 12 empates e 17 derrotas) e 15 gols com a camisa do clube. O Corinthians sentiu muito a falta da dupla nas partidas seguintes.

"Em 1969 o Corinthians entrava em seu 15° ano sem ser campeão. E fazia uma ótima campanha: pela primeira vez em todo o tempo do jejum, havia vencido todos os quatro clássicos do primeiro turno, contra Palmeiras, Santos, São Paulo e Portuguesa, e liderava o campeonato com folga. Aliás, se fossem pontos corridos, o Corinthians teria sido campeão. Mas justo naquele ano o regulamento mudou, e no quadrangular final, sem os dois jogadores que morreram, o time naufragou e ficou em último", disse Celso Unzelte, jornalista da ESPN e autor do Almanaque do Timão.

Para ter uma ideia da caída de produção do time após o acidente, no quadrangular da fase final, o Corinthians perdeu todos os jogos que disputou, acabando em último lugar do grupo. O Santos acabou sendo campeão paulista de 1969.

O apelido de 'Porco'

Uma história no mínimo curiosa cerca o acidente na Marginal Tietê. Como o Paulistão daquele ano tinha data limite para a inscrição de jogadores, e o prazo para o registro já havia se encerrado, o presidente do Corinthians, Wadih Helu, pediu a Federação Paulista de Futebol (FPF) a inscrição de dois atletas para substituírem Eduardo e Lidu. Todos os clubes deveriam aceitar o pedido do Timão, pois a decisão teria de ser unânime. Porém, o Palmeiras, representado pelo presidente Delffino Facchina, foi o único clube contra o pedido do rival, impossibilitando a inscrição.

Irritado, Wadih teria chamado os dirigentes do Palmeiras de 'porco', afirmando que os cartolas do Alviverde tiveram espírito sujo. Segundo Celso Unzelte, no entanto, o apelido já existia antes deste episódio.

"A história do porco não é só essa. Os italianos (e, portanto, palmeirenses, por extensão) eram chamados pejorativamente de porcos desde os tempos da Segunda Guerra Mundial. Naquele primeiro momento, principalmente por são-paulinos, que participaram ativamente da campanha para o Palestra mudar de nome. Em 69, os corintianos apenas ressuscitaram o apelido, que já existia", disse o jornalista.

Entre os torcedores do Corinthians o apelido 'pegou'. Os corintianos passaram a provocar os palmeirenses. Na partida seguinte entre os dois times, torcedores alvinegros soltaram um porco no campo do Morumbi antes do jogo. Enquanto o suíno corria, assustado, os corintianos entoavam o coro de "porco! porco!".

O apelido ficou marcado de forma odiosa no Palmeiras por muitos anos, mas a história começou a mudar em 1983. Naquele ano, por inciativa do então gerente de marketing do Palmeiras, João Roberto Gobbato, surgiu pela primeira vez a ideia de assumir o apelido pejorativo e transformá-lo em um mascote do clube. Alguns cartolas mais antigos rejeitaram de imediato a proposta, mas ela ganhou força entre as torcidas organizadas. Uma das torcidas, no ano seguinte, chegou a comercializar porquinhos de porcelana para a torcida. As vendas foram um sucesso, e ajudaram a fortalecer a ideia da adoção do novo símbolo.

A iniciativa de Gobbato foi amadurecendo até que, em 29 de outubro de 1986, o "Dá-lhe Porco" foi ouvido pela primeira vez na arquibancada da torcida alviverde, em duelo contra o Santos. No jogo seguinte, diante do São Paulo, no Morumbi, o novo mascote foi integrado de vez. Torcedores levaram um porco vivo ao gramado, desfilaram em campo com fantasias e bandeiras do novo xodó e, desta vez de forma unânime, exaltaram o suíno nas arquibancadas.

Já firmado pela torcida, chegava a hora de o porco também ganhar espaço na imprensa esportiva. Em novembro de 1986, a conceituada Revista Placar estampou em sua capa uma foto histórica do meia Jorginho Putinatti, um dos símbolos do Palmeiras na década de 80, carregando um porco no colo. Na oportunidade, a edição da revista ganhou enorme repercussão.

"Em 86, com a atitude da Mancha Verde, e com jogadores como Edu Manga e Jorginho entrando com o porco, a torcida viu que esse apelido dava originalidade. Ao assumir o grito de 'porco', os rivais pararam com a brincadeira. Foi no contexto da Copa do México, o bom time do Palmeiras, e a torcida da Mancha que ainda era nova, com três anos de atividades. Todos esses fatores contribuíram para a adoção do apelido de 'porco' pela torcida palmeirense", diz o jornalista Mauro Beting.

Jorginho Puttinati contou ao LANCE! como os jogadores do Verdão lidavam com as brincadeiras.

Era mais para a torcida. Era chato quando nós entrávamos no campo e a torcida soltava um leitãozinho no gramado. Nós brincávamos que devíamos pegar um gambá para soltar, mas era difícil pegar esse bicho", disse o ex-meia.

Jorginho falou ao LANCE! como surgiu a ideia de posar para a revista.

"Em 86, um repórter do Placar conversou comigo para fazer umas fotos com o porquinho no colo, porque eu era um dos ídolos nessa época. Tirei as fotos e a torcida aderiu, a diretoria aceitou e acabou virando um grito de guerra do clube. Eu não esperava essa reação da torcida. Me sinto lisonjeado, naquela época nós não esperávamos dar essa repercussão. Não havia tanta imprensa como tem hoje, redes sociais e tudo mais. Me sinto bem feliz por ter deixado uma marca no clube como o Palmeiras", declarou.

* Sob supervisão de Vinícius Perazzini

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