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20 anos do Mundial: Timão se firma como 'Todo Poderoso' no Maraca

Empurrado por sua torcida e mostrando brio de sobra, Corinthians leva a melhor sobre o Vasco nos pênaltis, em noite para não esquecer: 'Momento magnífico'

14 jan 2020 - 09h02
(atualizado às 09h56)
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O esperado sonho de ver o futebol do Corinthians ganhar proporções mundiais foi alcançado em 14 de janeiro de 2000. Após um empate em 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação, o Timão superava o Vasco nos pênaltis e se consagrava como o "Todo Poderoso" campeão do Mundial de Clubes diante de 73 mil pessoas.

- Fomos para o tudo ou nada naquela noite. Uma coisa que motivou muito a gente foi o fato de jornalistas dizerem nos dias anteriores que o Vasco era favorito, pois não tinha passado pela mesma sequência de jogos que a gente. E desafiar um time com tantas estrelas também dava muita gana pra nós... - revela Rincón.

O Cruz-Maltino se classificou para a decisão após ter obtido 100% de aproveitamento no Grupo B. A equipe comandada por Antônio Lopes venceu o South Melbourne (AUS) por 2 a 0, despachou o favorito Manchester United (ING) por 3 a 1 e bateu o Necaxa (MEX) por 2 a 1 para chegar a final, e tinha um elenco estelar.

- Além da base campeã da Copa Libertadores em 1998, vieram grandes jogadores para o Mundial. O Romário chegou para formar o ataque com o Edmundo. Vieram o Jorginho, Júnior Baiano... Aumentamos a força do nosso elenco. Vínhamos confiantes depois da campanha da primeira fase, ainda mais devido ao jogão que a equipe fez contra o Manchester United - recordou Mauro Galvão, que, em seguida, reconheceu:

- Agora, contra o Corinthians, a gente sabia que precisava ter atenção redobrada. Qualquer investida do Edílson, do Marcelinho, podia ser fatal - completou.

O lateral-esquerdo corintiano Kleber não esconde que a partida teve outra intensidade:

- Eram duas equipes que se conheciam, que se respeitavam. A gente sabia que não podia correr grandes riscos, ainda mais contra um time forte.

O técnico Oswaldo de Oliveira ainda viu os corintianos terem de se desdobrar para seguirem na briga pelo título inédito.

- O Vasco tinha uma verdadeira seleção. Romário, Edmundo, Juninho... Era um desafio para a gente. E nós tínhamos perdido o João Carlos por lesão contra o Al Nassr. Porém, o Adilson, que é um cara muito experiente, formou muito bem a dupla com o Fábio Luciano e fechou os espaços para o Romário e o Edmundo - e em seguida, o treinador destacou outro jogador:

- Notei que o Ricardinho tinha voltado a sentir desgaste muscular. No intervalo, coloquei o Edu, que também foi determinante para a gente na decisão - complementou o comandante.

Após 90 minutos de batalha acirrada, o mistério persistia no Maracanã.

'VINGANÇA', INTUIÇÃO E OS 'CAUSOS' EM MEIO AO DRAMA DOS PÊNALTIS

'Pegar o Vasco no Maracanã, me fez correr que nem um louco', diz Luizão (Foto: ANTONIO SCORZA / AFP)

A epopeia em torno da final do Mundial de Clubes de 2000 se estendeu até a prorrogação. Como estava previsto o "Golden Goal" (no qual o jogo acabaria caso uma das equipes balançasse as redes), jogadores até hoje se lembram do momento em que estiveram perto de decretarem o fim do jogo.

- Teve uma jogada na qual eu quase marquei um gol olímpico. Cara, foi por um triz... - disse Marcelinho Carioca.

Lançado por Antônio Lopes no lugar de Felipe nos minutos finais, o meia Alex Oliveira lamenta o fato de o torneio quase ter tomado o rumo de São Januário.

- Eu tinha entrado em campo com a adrenalina a mil, pedindo que tudo corresse bem. Teve uma falta que eu cobrei, a bola raspou na cabeça do Fábio Luciano e depois o Dida espalmou. Agora, imagina se eu faço (risos) - diz o camisa 23 vascaíno daquela partida.

O técnico Oswaldo de Oliveira exalta uma "cartada" que teve a poucos minutos do fim da prorrogação:

- Foi no momento no qual o Edílson pediu para sair. O Dinei entraria, mas eu tive uma intuição e lembrei que ele havia perdido pênalti pouco tempo antes. Aí pus o Fernando Baiano, que sempre treinava muito bem as cobranças. O Fernando acertou o segundo pênalti.

Com o empate em 0 a 0 persistindo, a decisão do Mundial de Clubes foi para a marca de cal. Coube a Rincón assumir a responsabilidade de abrir a série.

- Para você colocar a braçadeira de capitão, ainda mais de um time com tantos jogadores de qualidade, tem de ter algo a mais. Minha perna estava doendo muito, mas cobrei para dar tranquilidade aos meus companheiros - disse o colombiano, que converteu.

Após Romário e Alex Oliveira fazerem os gols vascaínos e Fernando Baiano marcar os corintianos, coube a Luizão um desafio árduo na marca da cal:

- Quando jogava no Vasco, eu costumava treinar pênaltis contra o Helton. Ele conhecia meu estilo de cobrar, tive de mudar de canto. Fico feliz, porque bati bem para caramba, mas na hora foi difícil... - diz o camisa 9 corintiano.

Em seguida, o lateral-esquerdo do Cruz-Maltino Gilberto cobrou e Dida voou para defender.

- Por mais que se fale que pênalti é uma loteria, não dá para negar que o Dida era um baita goleiro. Foi um jogo forte, de dois clubes grandes, e a equipe do Corinthians tinha grandes nomes como o Rincón, Vampeta, Edílson, Luizão...

Após Edu marcar para os corintianos, nem mesmo o fato de Viola ter igualado o placar para o Vasco evitou que Marcelinho Carioca estivesse a um passo de se tornar o herói do jogo. Porém, o chute do camisa 7 parou nas mãos de Helton.

- Fui mudar o canto no qual eu costumava cobrar, pois já tinha desperdiçado pênalti na Libertadores contra o Palmeiras (pelas quartas de final da competição de 1999). Se eu cobrou no meu canto de origem... Vai entender, né?! - disse.

Oswaldo de Oliveira contou sua reação após a cobrança desperdiçada pelo "Pé de Anjo".

- Aquele foi um momento de baque, era nosso melhor cobrador. Enquanto o Edmundo se preparava para bater, eu já me apressei a escolher quem seria o próximo da série.

Contudo, após partir para chutar, o camisa 10 do Cruz-Maltino mandou sua cobrança para fora e fez explodir o grito de "Corinthians campeão mundial".

- Costumo dizer que o Edmundo livrou minha cara naquela hora - não esconde Marcelinho.

O título teve um gosto mais saboroso para o atacante Luizão:

- Com todo carinho que tenho pela torcida do Vasco e pela instituição... Mas eu fiquei dez meses sem receber lá, até hoje não me pagaram. Para enfrentar eles, no Maracanã... Corri que nem louco, queria ganhar de qualquer maneira. Foi muito emocionante!

O MUNDO CONHECE O 'TODO PODEROSO TIMÃO'

'Foi sensacional quando vimos a arquibancada tomada', diz Kleber (Foto: Sérgio Moraes/LANCE!)

A torcida do Corinthians rendeu um espetáculo à parte naquele 14 de janeiro de 2000. Os campeões mundiais não escondem que o cântico "Todo Poderoso Timão" fortaleceu a equipe durante o confronto com o Vasco.

- Foi uma "Invasão Corintiana" maravilhosa, digna do que foi a de 1976 (na qual o Corinthians empatou em 1 a 1 com o Fluminense, pela semifinal do Brasileiro). Eles não pararam de cantar, apoiaram a gente até o final - disse Marcelinho.

O lateral-esquerdo Kleber revelou que se surpreendeu ao se deparar com tantos corintianos no Maracanã.

- A gente esperava que teria um número grande de torcedores nos apoiando. Foi sensacional quando vimos a arquibancada tomada. O apoio deles o tempo todo pesou muito, ainda mais em meio ao desgaste no qual a gente estava - disse.

O atacante Luizão também evidenciou a presença da torcida.

- O "Todo Poderoso Timão" ajudou a gente a manter a garra o tempo todo. É uma torcida maravilhosa - afirmou.

O técnico Oswaldo de Oliveira endossa o quanto a torcida não esmoreceu na partida.

- Foi magnífico. Eram 25 mil corintianos gritando "Todo Poderoso Timão" fortalecendo a gente cada vez mais - declarou.

A 'INVASÃO CORINTIANA' DE 2000

'A gente já via corintianos tomando as praias do Rio', disse João Pontes, torcedor corintiano (ANTONIO SCORZA /AFP)

COM A PALAVRA

JOÃO PONTES

Jornalista, tinha 13 anos quando assistiu à decisão

Fui com minha família para o Rio assistir à final do Mundial de Clubes de 2000 e, desde de manhã, tínhamos notado uma movimentação grande de corintianos se concentrando nas praias de Copacabana e de Ipanema. Aos poucos, começamos a ver alguns ônibus de torcedores do Corinthians...

Fomos para o Maracanã de metrô com a camisa escondida, pois o vagão estava tomado por torcedores do Vasco, e somente depois do bloqueio policial vimos vários ônibus com torcidas corintianas. Dentro do estádio, a própria torcida vascaína se surpreendeu com o número de torcedores do Corinthians.

A Gaviões da Fiel levou para o estádio um bandeirão que só abria no Morumbi, e como a Fifa permitiu que a torcida ficasse no anel superior do Maracanã, foi uma emoção muito grande. Aquele jogo também deu uma dimensão diferente ao grito de "Todo Poderoso Timão".

Esse grito já era cantado desde o "mata-mata" do Brasileiro de 1999, mas a torcida cantou direto nos 90 minutos do tempo normal e nos 30 minutos da prorrogação da final do Mundial.

Foi um jogo bem nervoso, no qual o time do Corinthians era muito forte, mas o Vasco tinha um timaço. E eu me lembro que, em certa hora da prorrogação, fui ao banheiro e, no corredor, via gente ajoelhada, um torcedor com tremedeiras... Só a partir dos pênaltis veio a confiança da torcida mesmo, porque a gente tinha o Dida, que era muito bom goleiro.

Depois do título foi só a alegria. Estar com a família, com meus tios que me fizeram torcer para o Corinthians, a parte da premiação... Lembro que a gente voltou de ônibus e passou por um grupo de torcedores que ficou batendo palmas para a gente. Foi uma festa só!

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