"Meu 'feeling' diz que seremos campeãs olímpicas", diz Virna
Ex-atacante e duas vezes medalha de bronze em Pequim-2008 e Londres-2012, acredita que as brasileiras vão ser campeãs olímpicas no Japão
A Seleção Brasileira feminina de vôlei entra em quadra pela semifinal, diante da Coreia do Sul, na Ariake Arena, nesta sexta-feira, às 9h (de Brasília), valendo uma vaga para a grande final dos Jogos Olímpicos de Tóquio.
O time comandado por José Roberto Guimarães terminou a fase classificatória em primeiro lugar no grupo A, com 14 pontos, com cinco vitórias: na estreia contra a mesma Coreia do Sul (3 a 0), República Dominicana (3 a 2), Japão (3 a 0), Sérvia (3 a 1) e Quênia (3 a 0). Com a vitória diante do Comitê Olímpico Russo por 3 sets a 1, de virada, na última quarta-feira, o time brasileiro mantém os 100% de aproveitamento e ampliou a sua invencibilidade para seis jogos.
Quem passar do duelo entre Brasil e Coreia do Sul vai enfrentar o vencedor de Sérvia e Estados Unidos, que vai acontecer à 1h (de Brasília). Curiosamente, as três rivais (Coreia do Sul, Estados Unidos e Sérvia) jamais ganharam o ouro olímpico na modalidade. Já o Brasil foi bicampeão consecutivo em Pequim-2008 e Londres-2012, além de duas vezes terceiro colocado.
Virna, que participou nas duas vezes em que o país conquistou as medalhas de bronze em Atlanta-96, e Sidney-2000, acredita que o time comandando por José Roberto Guimarães tem todas as condições de ficar com a medalha de ouro no Japão. “Estou bem confiante e meu feeling diz que vamos ser campeãs olímpicas”, cravou em entrevista ao portal Terra.
Mas antes de chegar à decisão, a ex-atacante tem a consciência de que será necessário passar pelas asiáticas e sabe como facilitar as coisas. “Tem que ter muita tranquilidade e principalmente sacar bem para quebrar a velocidade do jogo delas. Vai ser um jogo de paciência. O Brasil não pode perder a cabeça”, alertou.
Para a ex-jogadora, o Brasil soube evoluir na hora certa nessa Olimpíada. “A Seleção foi crescendo dentro da competição e isso é muito importante”. E destaca conjunto como sendo o ponto forte da equipe. “Não tem uma jogadora que resolve sozinha. Essa sintonia de todas estarem bem é que faz a diferença”, destacou.
Veja a entrevista completa de Virna ao Terra a seguir:
Terra: Qual é a expectativa para Brasil e Coreia do Sul na semifinal?
Virna:
É a melhor possível. O retrospecto é muito favorável. Depois do jogo contra a Rússia, estou muito confiante. Esse jogo deu um novo ânimo para a sequência do Brasil na Olimpíada
O fato de o Brasil ter vencido na primeira fase, tem alguma influência?
No começo da Olimpíada as seleções ainda estão se encontrando, se conhecendo, analisando os rivais. Naquele jogo a Coreia não havia apresentado seu melhor jogo, assim como o Brasil. Da pra ver a nítida evolução delas já no duelo contra a Turquia. Melhorou muito em quadra.
Qual é a diferença entre o vôlei da Rússia e o da Coreia do Sul?
É totalmente diferente. As russas jogam mais na base de muita força, ataque, bloqueio de forma bem intensa, a toda hora. Além do mais, a estatura das jogadoras era bem alta formando um verdadeiro paredão. Contra as sul-coreanas vai ser um jogo mais de paciência. O Brasil não pode perder a cabeça. Tem que ter muita tranquilidade e principalmente sacar bem para quebrar a velocidade do jogo delas.
Qual é a melhor jogadora sul-coreana?
Basicamente elas só tem a ponteira Kim. Tem que saber marcá-la bem, pois ela é a principal estrela do time. As principais jogadas caem sempre na mão dela. Ela está nos momentos decisivos. É uma excelente jogadora, uma das melhores do mundo. Mas tenho a certeza de que o Zé Roberto (técnico) vai saber neutralizá-la, pois ele já a comandou em um time e sabe todas as características dela, seus pontos fortes e fracos.
E quem você considera que é a principal destaque brasileira?
Sem dúvida alguma é o conjunto. Não tem uma jogadora que resolve sozinha. Essa sintonia de todas estarem bem é que faz a diferença. Um dia uma não está bem e outra resolve. Tem sido assim. Eu percebo um grupo forte, unido e bem fechado.
O fato de o Brasil estar invicto serve de incentivo ou funciona como pressão?
Isso é excelente, dá mais confiança a cada jogo que passa. A estreia não foi das melhores, apesar da vitória. O outro grupo era até mais difícil, mas a Seleção foi crescendo dentro da competição e isso é muito importante. Não éramos as favoritas no começo, quando todos apontavam Rússia, China e Estados Unidos e acabamos surpreendendo.
Quem você acha que o Brasil vai se dar melhor se for para a final?
Não pode pensar em final antes de se jogar a semi. Temos sempre que fazer a nossa parte primeiro, pensar jogo a jogo. Time que quer ser campeão não pode escolher adversário.
Dá pra pensar em medalha? Qual?
Estou bem confiante e meu feeling diz que vamos ser campeãs olímpicas. Tem duas jogadoras impressionantes como a Fernanda Garay e a Gabi, que tem a função de recepcionar juntamente com a Brait para a Macris jogar com velocidade. As brasileiras estão em um nível de competitividade altíssimas. Cada jogadora tem o seu momento de destaque. A regularidade do volume de jogo me impressiona. A Ana Cris, Tandara, Rosamaria estão sendo decisivas. O esporte coletivo é isso, sabe que uma depende da outra. O equilíbrio emocional é a grande chave da atleta, principalmente nos momentos decisivos. A recuperação da Macris foi sensacional. Essa contusão dela não é simples, foi quase um rompimento de ligamento. E com ajuda do médico, fisioterapeuta colocou ela pra jogar em tempo recorde e ela também está com a cabeça muito boa.
Qual é o papel do José Roberto Guimarães nessa campanha?
A experiência faz toda a diferença. O Zé Roberto sabe comandar, a hora de dar bronca, de afagar e todas as jogadoras entendem muito bem isso. Ele tem o grupo na mão. Percebo isso pelo olhar, vibração em quadra e isso é o diferencial. Não precisa ter o melhor time, o grupo faz uma equipe vencedora. Em uma Olimpíada não se pode ter um time com seis titulares. É muito difícil manter a mesma equipe que começou a partida sempre.
Percebo que a Seleção tem várias novas jogadoras em quadra. Como analisa essa renovação?
Excelente. Quanto mais dar oportunidades para novos talentos, melhor. A Ana Cristina tem 17 anos e é um fenômeno. Não tenho dúvidas de que vai ser a melhor do mundo muito em breve. O Zé Roberto a chamou para ela já ir se acostumando com o clima, conhecendo o próprio grupo ou até as rivais. O Brasil está muito bem servido nas categorias de base. Tem um Centro de Excelência em Saquarema (RJ) da melhor qualidade. Somos muito respeitados lá fora e uma das grandes potências mundiais. Não é à toa que muita gente de fora vem se aperfeiçoar aqui. sempre estamos brigando pelas primeiras colocações. O vôlei do Brasil é muito respeitado.
O que representou Cuba para o vôlei brasileiro?
Foi ai que tudo começou. Muita coisa mudou no vôlei, que a gente aprendeu com as cubanas até com as derrotas. Foi uma escola, um grande aprendizado. Começamos a dar valor também, além do trabalho técnico, que o físico se faz muito importante. Hoje as jogadoras são bem acompanhadas, saudáveis, com uma condição física espetacular. Só lamento que hoje eles nem se classificaram para a Olimpíada. Era um grande potência, que triste.
O que significa pra você as medalhas de bronze conquistadas em Atlanta-96 e Sidney-2000?
As medalhas para mim têm o significado de ouro. É uma das coisas mais importantes que aconteceu em minha vida. Na de Atlanta ainda mais histórico, porque foi a primeira vez que o esporte coletivo no país, somente com mulheres, obteve uma medalha olímpica. Foi o pontapé para que o Brasil fosse reconhecido mundialmente no vôlei. Zé Roberto, Bernardinho, Renan e tantos outros contribuíram para que se tornássemos uma potência, cada um com seu estilo próprio.
Além de impor em quadra, vocês eram bem unidas e partiam pra briga se acontecesse. Você acredita que essa geração mantém esse mesmo espírito?
Acredito que sim, que essa nova geração mantém aqueles mesmos ‘olhos de tigre´ que demonstram garra, vontade e determinação. Lógico que hoje não existe mais aquela rivalidade, mas sim o respeito maior, por isso é que acabaram as brigas. Mas se precisarem ir para o pau, eu não tenho dúvida que enfrentam com certeza. As jogadoras mantém essa mesma personalidade e são aguerridas.
A união prevaleceu na sua geração, mas agora existe claramente uma divisão por causa da política e é bem nítido nas redes sociais. Isso iria interferir se fosse agora?
Não tem nada a ver. Desde sempre existiu alguma divergência, pois cada um tem a sua cabeça, opinião diferente, formação, olhar. O mais importante é que dentro de quadra tudo era esquecido pelo firme propósito de vencer, ganhar título e hastear a bandeira do Brasil no lugar mais alto do pódio.