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Cerimônia dos Jogos de Tóquio reúne tradição milenar com tecnologia para homenagear vítimas da covid

Com o Estádio Olímpico praticamente vazio (apenas mil convidados presentes), a cerimônia foi pensada essencialmente para privilegiar a transmissão pela TV

23 jul 2021 - 10h51
(atualizado às 11h56)
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A cerimônia de abertura da Olimpíada de Tóquio uniu a milenar tradição japonesa com a tecnologia para homenagear as vítimas da covid-19 em todo o mundo. A luta contra a pandemia que manteve o planeta recluso inspirou a concepção do evento, valorizando o esforço e a persistência individual.

Com o Estádio Olímpico praticamente vazio (apenas mil convidados estavam presentes), a cerimônia foi pensada essencialmente para privilegiar a transmissão pela TV. Isso se tornou visível com uma das primeiras ações, em que uma moça agachada esticou o corpo acompanhada de uma sombra que não era a dela, mas de uma planta germinando. Mesmo assim, o desafio foi equilibrar as infinitas possibilidades do uso da tecnologia com a valorização do homem e sua limitação. O plano era mostrar como o ser humano, apesar da fragilidade diante de um vírus, resiste.

Assim, a referência à obra da artista plástica japonesa Yayoi Kusama logo no início da cerimônia, quando faixas de luz vermelha criaram desenhos segundo seu traço, foi significativo - em sua obra, Kusama explora os limites físicos e psicológicos da pintura, o que provocou uma feliz conexão com o esforço dos atletas que, durante o ano de 2020, foram obrigados a improvisar treinamentos em casa. Os Jogos foram adiados de 2020 para 2021.

Foi significativa, portanto, a aparição de atletas, no centro do estádio, se exercitando solitários em esteiras e bicicletas ergométricas, lembrando o que aconteceu no mundo esportivo no ano passado. Ou mesmo com cada um de nós. E também a escalação de competidores e profissionais da saúde para carregar a bandeira japonesa.

Apesar de celebrar a vida, a cerimônia também prestou homenagem aos mortos, especialmente as vítimas pela covid-19. Foi o que mostrou a performance do ator e dançarino japonês Mirai Moriyama, cuja apresentação de dança-arte, marcada pelos gestos silenciosos, teve como tema a morte, o renascimento e a simbiose.

O tom de homenagem prosseguiu quando um grupo de bailarinos e sapateadores lembrou uma classe muito respeitada no Japão, os bombeiros, especialmente os que foram vitimados pela covid-19 e também pelo terremoto de 2011. A cena lembrou o trabalho de marceneiros que resultou na confecção em madeira dos arcos olímpicos.

A tecnologia voltou a imperar com a exibição de um belo clipe cuja edição alternou cenas de atletas em competição com músicos tocando seus instrumentos clássicos: a sincronia corporal revelou o mesmo objetivo: a busca pela perfeição.

A entrada das delegações seguiu a ordem do idioma japonês, o que deixou o Brasil atrás de países como Uruguai e Zâmbia. E, apesar de ocupar boa parte da cerimônia, foi reduzida pelo número menor de atletas participantes.

Despertou atenção a entrada da delegação da Arábia Saudita, com uma mulher ajudando a carregar a bandeira. E também a dupla brasileira (Ketlyn Quadros, do judô, e Bruninho, (do vôlei), aplaudida ao ensaiar passos de samba.

Após a entrada da última delegação, a do Japão, e com todos os atletas e dirigentes unidos no estádio, a cerimônia voltou a reforçar a lição que vai marcar os jogos: além da competição, o que vale é a união. A mensagem tornou-se particularmente cara para os japoneses, que enfrentaram um terremoto seguido de um tsunami, em 2011, e, por causa da pandemia, precisaram adiar em um ano a realização dos jogos, um fato inédito na história.

Japão, no entanto, é sinônimo de tecnologia e isso se tornou claro em um dos momentos mais esperados da abertura: quando uma enorme quantidade de drones com luzes se posicionou acima do estádio olímpico a fim de reproduzir o desenho do globo terrestre - para isso, houve uma interrupção no tráfego aéreo da região.

Como trilha sonora para o momento, um coral de jovens e cantores representantes de todos os continentes entoaram a já clássica Imagine, de John Lennon e Yoko Ono. Foi a senha para os discursos de praxe que vieram em seguida, dos presidentes do Comitê Olímpico de Tóquio, Seiko Hasimoto, e Internacional, o alemão Thomas Bach, que deu boas vindas em especial aos atletas refugiados. "Aqui, somos todos iguais e respeitamos as mesmas regras. A experiência olímpica nos dá humildade, pois somos parte de algo maior que nós mesmos", disse ele.

A importância da solidariedade continuou relevante durante a condução da bandeira olímpica - inicialmente carregada por atletas representantes de todos os continentes, o estandarte passou ainda pelas mãos de trabalhadores japoneses que, como boa parte do mundo, sofreu com as limitações impostas pela pandemia. A cerimônia se encaminhou para o encerramento com uma criativa combinação de artes gráficas e atuação a vivo, com modelos representando todos os 50 pictogramas que simbolizam os esportes olímpicos, uma ação que só não foi perfeita porque um deles deixou cair a raquete. Mais que uma falha, um belo exemplo da falibilidade humana que certamente vai marcar as competições.

O esperado momento em que a tocha olímpica acendeu a pira, que envolveu desde atletas veteranos até profissionais de saúde, finalizando com a tenista Naomi Osaka, finalizou a cerimônia de abertura de uma olimpíada na qual Tóquio vai priorizar o esporte, mas sem se esquecer de suas cicatrizes.

Estadão
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