Sochi: magnatas devolvem instalações para reduzir prejuízo
Investidores têm prejuízo com instalações de Sochi 2014 e decidem abrir mão de parte delas para o governo como forma de se livrar das dívidas
Os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi foram iniciados um ano atrás – no dia 7 de fevereiro de 2014. Ao custo de US$ 51 bilhões com infraestrutura e instalações, os planos de Vladimir Putin para a região localizada nos arredores do Mar Negro começam a provocar problemas (como era esperado).
A Olimpíada de Inverno se tornou a mais cara da história e alguns investidores bilionários assumiram parte desses custos. No entanto, um ano depois, dois de três grandes investidores estão secretamente repassando essas instalações para o Estado, deixando a conta para os contribuintes.
Para esses oligarcas, é uma forma de recuperar os bilhões de dólares em um momento que a economia russa é sufocada pela queda do preço do petróleo e pelas sanções do Ocidente (em razão dos conflitos provocados no leste da Ucrânia e a polêmica anexação da Crimeia). Alguns críticos apontam que essa é mais uma evidência do sistema que protege os super investidores dos problemas econômicos.
Em contato com a Associated Press, um porta-voz do vice-primeiro-ministro da Rússia informou que dois importantes investidores descartaram propriedades construídas para Sochi 2014 a um custo combinado de US$ 3 bilhões. O imbróglio é mais uma dor de cabeça para Putin, que precisa dar uma mão para os oligarcas e ao mesmo tempo evitar que esses acordos provoquem manifestações populares.
Sede da próxima Copa do Mundo e em recessão, o governo russo deve ser procurado por outros magnatas que estão esperando o momento para exigir uma recompensa ou compensação pelos projetos em Sochi.
“O governo irá ajudar os titãs da economia. Em retorno, eles seguirão quietos e leais (ao Kremlin)”, disse Sam Greene, diretor do King's Russia Institute at King's College London.
As instalações do salto de esqui e os arredores do resort de esqui se tornaram um exemplo dos excessos de Sochi. Em 2013, Putin, em tom sarcástico, visitou as construções e foi dar apoio ao investidor Akhmed Bilalov,criticado pelos custos crescentes com a obra. “Você está fazendo um belo trabalho”.
Dias depois, Bilalov fugiu da Rússia depois de promotores lançarem uma investigação sobre os custos das obras. O caso ainda não foi a júri, e o magnata segue no exílio em um país desconhecido.
Sberbank, o maior banco da Rússia, aceitou comprar as instalações após pedido do governo. Fez um empréstimo de US$ 1,7 bi para financiar mais do que 70% do projeto.
Como o local atualmente dá prejuízo, a solução é obter uma autorização do Kremlin para negociar o local que teve um custo de US$ 2,7 bi com o governo da região, que juntaria o complexo ao antigo Media Center (em Rosa Khutor).
Apesar de não ser muito claro que o Media Center seja atraente se colocado no mercado, a estratégia é que o banco estaria se livrando do valor do empréstimo e repassando o local do salto de esqui e o resort ao governo regional.
“Livrar-se dos ativos é uma forma de cortar custos em uma situação de crise. Preferia perder o que investi, meus 15 a 30%, mas não teria de pagar o restante dos empréstimos”, disse Mikhail Kasyanov, primeiro-ministro russo de 2000 a 2004.
Em outro projeto de Sochi, Viktor Vekselberg investiu meio de bilhão de dólares para construir dois hotéis próximos ao Parque Olímpico. Com o saturamento do mercado hoteleiro da região, o empresário decidiu abrir mão de um dos hotéis para o estado.
O empréstimo de US$ 450 milhões junto ao VEB Bank – que equivalia a 90% dos custos das construções dos hotéis – foi repassado ao estado. A negociação foi confirmada por um assessor do governo.
Outro motivo de polêmica na Rússia foi a tão comentada linha de trem de US$ 8,5 bilhões que liga o Mar Negro às montanhas. Por causa da disputa de quem irá pagar pela manutenção, a linha foi suspensa.
Por causa da explosão do orçamento em Sochi, alguns especialistas temem pela habilidade dos russos para organizar a Copa do Mundo de 2018.
Diferentemente de Sochi, o Mundial da Fifa será financiado diretamente pelo Kremlin com a participação de alguns magnatas. A desvalorização do rublo irá encarecer o valor do material para as construções dos estádios e infraestrutura nas 11 cidades-sede, tornando ainda maior a possibilidade de estourar o orçamento original de US$ 20 bilhões.
Apesar dos problemas e incertezas, uma recente Pesquisa feita na Rússia pela AP (entre os dias 22 de novembro e 7 de dezembro entre 2.008 residentes) mostrou que metade dos pesquisados espera que a Copa do Mundo seja boa para a economia.
E mesmo com os problemas em Sochi, a pesquisa também apontou que 51% acreditam que os Jogos de Inverno foram bons para a economia.