Vexame expõe crise do futebol carioca
Cenas de pais protegendo seus filhos e de idosos sendo amparados em meio à fumaça das bombas de gás lançadas por PMs contra torcedores fora do Maracanã, na tarde desse domingo (17), são um retrato do atual futebol carioca. Com dirigentes de clubes e de entidades incapazes de chegar a um acordo para definir o local das torcidas A e B no estádio, a final da Taça Guanabara (primeiro turno) do Campeonato Carioca por pouco não se transformou numa nova tragédia.
A cúpula de Vasco e de Fluminense, com suas bravatas em nome de prestígio político junto a grupos de torcedores, deixou a esportividade de lado e optou por caminhos de risco. Tudo isso com a anuência da Federação de Futebol do Rio e do consórcio que administra o Maracanã. A omissão da CBF em intervir no caso quando a situação já era extrema e a inoperância da justiça, com medidas que mudavam a cada instante e que não eram cumpridas, também merecem registro.
Eis o resumo da decisão da Taça Guanabara, que, em campo, teve a vitória do Vasco por 1 a 0. Pela primeira vez na história de uma final de turno no Rio, dois times entraram no gramado sem público no estádio – os portões só foram abertos depois de 30 minutos de bola rolando. Antes disso, outro ineditismo marcaria a decisão. Pela transmissão da TV, ficava nítido o som de explosões de bomba nos arredores do estádio, o que afetava diretamente os próprios jogadores, vários deles aguardando a presença de parentes no Maracanã.
A rusga se deu pela discussão entre os clubes para saber que torcida deveria ocupar o lado sul das arquibancadas. O Flu tinha em mãos seu contrato com o consórcio que lhe dá prerrogativas. O Vasco baseava-se num acordo histórico entre os clubes do Rio que lhe daria esse direito desde 1950. Ou seja, à letra fria dos documentos, os dois até poderiam ter razão. Era exatamente aí que a federação ou mesmo a CBF deveriam agir para haver um consenso. Como ninguém cedeu, o Fluminense recorreu à Justiça e pediu a realização da partida sem público.
Obteve essa ‘vitória’ parcial nos tribunais, revertida duas horas antes do início do clássico. Ainda assim, a ordem de permitir a presença do público só acabou acatada após imagens da TV mostrarem um cenário de batalha no entorno do Maracanã.
O futebol carioca vivenciou ano passado a luta de Vasco, Fluminense e Botafogo na luta contra o rebaixamento até as últimas rodadas do Brasileiro. A expectativa para 2019 talvez não seja diferente.
Contribui para tudo isso um Campeonato Carioca totalmente atípico e único no Brasil, cujo começo se dá em meados de dezembro, com uma fase preliminar que reúne seis clubes. Dois ascendem e jogam contra os grandes. Os quatro restantes disputam um grupo da morte, que define os dois rebaixados. A questão é que os dois que sobem da Série B para a Série A nem sempre ‘sobem’. Ou seja, podem ficar na fase preliminar e disputar de novo a Série B. Confuso, né?
Mas não para por aí. Ao contrário das edições históricas da competição, quando o time que ganhava os dois turnos já se sagrava campeão automaticamente do Estadual, agora isso não é mais possível. Se o Vasco, que venceu a Taça Guanabara, também conquistar a Taça Rio (segundo turno), terá ainda que disputar o título do Estadual contra algum rival que tiver obtido pontuação alta no campeonato. Confuso?
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