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'O Corinthians não pode olhar para baixo', diz Jair Ventura

Em entrevista ao Estado, treinador evita comentar sobre risco de rebaixamento e, ao fazer planos para 2019, destaca 'DNA vencedor' do clube

3 nov 2018 - 05h11
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Jair Ventura demorou para compreender o futebol como ele é. Não por culpa dele. Mas por causa do pai, seu xará. Jairzinho fez da infância do filho um conto de fadas do mundo da bola. Nos churrascos, o garoto deu seus primeiros chutes no quintal de casa com Pelé, Paulo Cesar Caju, a turma de amigos da família, que formou também a seleção brasileira tricampeã de 1970. Ao puxar as memórias da infância, Jair diz ao Estado que se arrepende por não ter registrado esses momentos. "Era tão comum estar ao lado deles que nem passava pela minha cabeça."

A ficha caiu quando tentou a carreira de jogador de futebol. Passou por clubes de menor expressão no Rio e, pressionado por ter que jogar igual ao pai, único atleta que marcou gols em todos os jogos de uma edição da Copa, Jair notou logo que estava longe do padrão de qualidade do pessoal que frequentava sua casa. Pendurou as chuteiras aos 26 anos e passou a estudar o futebol.

Discreto, de tom conciliatório, possui uma oratória que às vezes até lembra a do técnico da seleção brasileira, Tite. Assim como o ex-treinador corintiano, cria expressões e as utiliza com frequência, como "DNA vencedor". Ao Estado, ele falou também sobre as novas tecnologias do futebol, o susto que tomou ao se deparar pela primeira vez com a Fiel e as expectativas para 2019.

Qual sua análise sobre esses dois meses de Corinthians?

Positiva. Sabia da situação difícil. Mas vida de treinador é assim. Fui efetivado pelo Botafogo em 2016 com o time no rebaixamento. No Corinthians, nem pensei duas vezes. Acertei no mesmo dia e me apresentei no dia seguinte. Chegamos em uma final e fizemos bons jogos. Ainda pode ficar melhor com o desempenho nessa reta final de Brasileiro.

O que o torcedor pode esperar nessas últimas rodadas?

Não coloco metas a longo prazo. O Corinthians não pode olhar para baixo. Queremos ir o mais alto possível. Vamos olhar cada jogo como uma final e, quando chegar dia 2 de dezembro (data da última rodada), vamos fazer uma reflexão.

Como vê o Corinthians na próxima temporada?

É um clube com DNA vencedor. Ninguém quer saber se o momento é difícil, se saíram jogadores. Fico feliz porque a diretoria pensa igual. Sabe que a gente precisa de reposição.

Qual é a vantagem em começar cedo a carreira de treinador?

Meu primeiro curso foi em 2005. Me formei em 2009 e fiz meu primeiro jogo (como técnico) em 2010. Vejo só facilidade. Não vou ganhar o respeito pelos meus cabelos brancos. Ganho pelo conhecimento do dia a dia. Por esses anos de estudo, me sinto preparado.

Ser filho do Jairzinho atrapalhou sua carreira como atleta?

Total. No Brasil você é pressionado para jogar no mínimo igual. Fui persistente, mas vi que estava longe de chegar onde queria. Quando vi, estava sofrendo, ganhando mal. Corri muito errado, como a gente fala. Joguei no Gabão.

Como eram os churrascos com os amigos do seu pai?

Era tudo muito natural. Quando conto alguma história da infância para um amigo, eles perguntam: 'tem foto?'. E eu não tenho. Era tímido para isso. Meu pai falava: 'Vai lá, tira foto com Pelé'. E eu: 'Para, ele tá toda hora aí'.

O fracasso como jogador foi o estímulo para ser técnico?

Minha referência é a parte tática. O jogo em si sempre me fascinou. Encontrar a estratégia para vencer. Fui observador técnico e sempre me preocupei em passar a solução.

Como você vê o início do VAR no futebol brasileiro?

Acho que o árbitro tem de justificar as decisões. Gostei muito do VAR na Copa. Acho que veio para ajudar, mas precisa ser mais objetivo. Vai decidir impedimento, mão na bola, se saiu a bola ou não. Mas os lances interpretativos têm que ser do árbitro, e não do VAR.

Quem é sua referência como técnico?

Não tenho. Sou grato a todos com quem trabalhei. Sou amigo de todos eles. Como jogador, queria ser o Ronaldo. Estudo todos os treinadores.

O que mais te marcou na carreira até agora?

Foi agora, no jogo contra o Santos. Vieram todos os jogadores e me cumprimentaram. É muito bom saber que você deixou essa amizade. É isso que quero para minha carreira.

Como vê a volta dos clubes a procurar técnicos experientes?

A reformulação é natural. Acho injusto a maneira como julgam. Quando a gente perde, é inexperiente. Quando os mais velhos perdem, estão ultrapassados. Tem espaço para todo mundo. Ganha quem estiver mais preparado.

O que você anda lendo?

Um livro do Barack Obama, sobre as palestras dele. O líder que foi, as raízes e onde chegou. Gosto de usar exemplos e outras situações para não ficar só bitolado no futebol.

Tem uma preocupação especial com os jovens talentos, o Pedrinho, por exemplo?

Não pode tratar tão diferente. É preciso equilíbrio. O mesmo tratamento que tenho com Emerson, tenho com Pedrinho. Lógico que por uma situação ou outra oriento um pouco mais. No Corinthians não tem tempo para adaptação.

O que mais te marcou no Corinthians até agora?

A nossa viagem para o Rio (no jogo de ida da semifinal da Copa do Brasil, com o Flamengo). A festa que eles fizeram no aeroporto foi coisa de maluco. Não vai sair da minha cabeça. O torcedor balançando o ônibus. É desses momentos que mexem com todo mundo. Quase que entro em campo também.

Estadão
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