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O amor sem barreiras de 'Seu Jairton' pelo Coritiba

Mesmo acamado por uma distrofia muscular, o torcedor coxa-branca não deixou de acompanhar de perto o clube do coração

6 dez 2021 - 12h49
(atualizado às 12h49)
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Jairton era uma criança apaixonada por futebol em Guaratuba, no Paraná. Gostava de ser goleiro e tinha um campinho que cuidava para o time do seu bairro jogar contra equipes da região. Mas o garoto reclamava de fortes dores no fêmur e não sabia o motivo. As idas e vindas do hospital não encontraram solução para o problema. Em uma das consultas, o médico decidiu engessá-lo antes da realização de exames. "Fiquei 45 dias assim, do tórax até o pé. Isso causou distrofia muscular, que me impede de andar e sentar", conta.

Se a condição impediu-o de seguir jogando futebol, ela não o impossibilitou de continuar apaixonado pelo esporte. Jairton acompanhava o pai, Miguel, pintor autônomo, ouvindo jogos do Coritiba no rádio, e também passou a nutrir amor pelo clube, assim como seus nove irmãos e irmãs. Décadas depois, o menino cresceu e foi realizando seus sonhos de torcedor.

Fotos suas acompanhando jogos do time paranaense no estádio Couto Pereira viralizaram. Deitado em uma maca na arquibancada e trajado de verde e branco, as cores do clube, assistia e vibrava nas partidas da equipe. Mas essa prática de ir ao estádio só começou em 2011.

Por muito tempo, Jairton achava que a sua maca não caberia em arquibancadas estreitas. "Pensava que não dava para ir porque a maca era muito grande. Falei com a minha mulher e ela me apoia muito, é a maior incentivadora. Pensamos 'vamos tentar, mesmo que eu veja o estádio de fora'.

O casal não só entrou no Couto Pereira, como assistiu à vitória do Coritiba sobre o Santos por 1 a 0. "Me considero pé quente", diz empolgado ao lembrar que não teve a mesma oportunidade na infância. "Quando eu era criança, a gente era humilde, então não tinha condições para ir. Acho que nem meu pai chegou a conhecer".

Em agosto, ele foi presenteado pelo clube com um plano vitalício de sócio e um uniforme oficial. No mês seguinte, foi homenageado pela Câmara de Vereadores da cidade.

Para se deslocar até Curitiba, cerca de 130 km de sua cidade, Jairton precisa planejar a viagem com 10 a 15 dias de antecedência por não ter carro próprio. Ele conta muitas vezes com carona de amigos e familiares para acompanhar de perto o Coritiba. E é no meio de torcedores, com bandeirões e bateria, que se sente mais à vontade.

"Já estive em outros setores do estádio, mas sempre gostei da arquibancada, de ficar perto do povão dentro da festa da torcida. É lá que me sinto torcedor de verdade".

As idas ao estádio passaram a se tornar frequentes, inclusive, para fora da capital paranaense. Jairton já foi ver jogos em Ponta Grossa, no Paraná, Joinville e Chapecó, em Santa Catarina, Itu, no interior de São Paulo, e também na Neo Química Arena, na capital paulista. Seu sonho? Conhecer o Maracanã.

Mas Jairton não só está envolvido no futebol como torcedor. Ele é treinador do Juventude, que disputa o campeonato municipal de Guaratuba. Está na função há quatro anos no clube fundado em 2016, que tem seu filho como presidente. O time foi vice-campeão da competição local no ano passado ao perder a disputa de pênaltis.

"Teve um jogo do Coritiba contra o Guarani pela Série B há pouco tempo que eu fui acompanhar, mas eu tive que sair intervalo do jogo em que eu era treinador. Eu fui, mas meus jogadores não souberam que era esse o motivo da minha saída (risos)".

A experiência de treinador não é nada recente. Foi em 1987 que iniciou na função quando um amigo tinha um clube e o convidou para fazer parte do time. Virou treinador e tomou gosto pela função. "Eu não tinha essa maca ainda. Eu ia para a beira do campo com os atletas me levando nas costas e me colocando em uma cama de solteiro".

Campanha de Jairton no Fifa Fan Award

Nos últimos meses, Jairton iniciou uma campanha para ser indicado ao prêmio Fifa Fan Award, destinado ao "torcedor do ano", mas não ficou entre os três indicados. A premiação da Fifa foi criada em 2016 e, desde então, o Brasil venceu em duas oportunidades.

"Eu fiz três meses de campanha para contar minha história para o mundo e tive uma experiência bacana, com apoio gigantesco. Não sabia que eu tinha um respeito tão grande por torcedores de todos os clubes. Me senti orgulhoso, mas fiquei triste por não poder dar esse presente para essas pessoas. Quem sabe ano que vem a gente não reforça a campanha e consegue o prêmio? Para sonhos, não tem limites", conta, esperançoso.

Estadão
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