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Mistérios de Moscou

Caminhar por aqui, visitar os locais, estudar um pouco de tudo, será, finalmente, encerrar a 'guerra fria' interior do garoto

12 jun 2018 - 04h04
(atualizado às 04h04)
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Crescer num país como o Brasil durante a guerra fria dos anos 60 e 70 era conhecer quase nada sobre Moscou, a capital da Rússia que, a partir desta quinta-feira, recebe o 21.º Mundial de Futebol. O que se ouvia era "o Kremlin isso", o "Kremlin aquilo"... Era quase uma entidade que, na visão dos ocidentais na órbita dos Estados Unidos, era o centro do Império do Mal. Eram tempos da União Soviética, da cortina de ferro, dos "comunistas que comiam criancinhas". Quem descobre a metrópole mais de 40 anos depois encontra uma cidade multifacetada, de belíssimas construções monumentais, clássicas e modernas, ótimos restaurantes, vida cultural e noites agitadas.

E nenhum mistério. O capitalismo está mais presente do que nunca e será muito reforçado neste mês em que o país recebe a caravana do esporte mais popular do planeta. Basta ficar atento quando se atravessa a cidade numa das largas avenidas de trânsito nem sempre amistoso. A qualquer momento, vai surgir na fachada de um arranha-céu, vestido com uma sugestiva camisa vermelha, barba espessa, a maior das estrelas da companhia: Lionel Messi. No peito, uma propaganda qualquer - impossível definir em cirílico. Ou ainda encontrar uma Fan Fest instalada no centro da Praça Vermelha, em frente ao Kremlin, quem diria, e diante da estupenda Catedral de São Basílio, com suas abóbadas coloridas.

A lamentar a falta de cuidado dos organizadores com a informação aos muitos turistas que virão para o Mundial: nas ruas, na estações de metrô, nos pontos turísticos, nenhuma placa em inglês. Será uma aventura tentar se locomover e conhecer lugares por conta própria. Buscar ajuda com um transeunte ou policial será igualmente complicado, porque são poucos os que falam outra língua que não seja o russo. Nos restaurantes e hotéis, a situação é um pouco melhor.

Se a Copa vai nos ajudar a desvendar muito sobre o país, seu povo, sua cultura, certamente não virá da seleção local qualquer contribuição ao sucesso do futebol que será jogado. Mesmo num grupo relativamente fácil, com sorte os russos conseguirão passar da primeira fase - a Copa das Confederações do ano passado e os resultados recentes mostraram que o time é muito fraco. O que é ruim para o evento, que não parece empolgar a população, que provavelmente terá ainda menos entusiasmo sem a seleção da casa.

Espera-se muito mesmo é do Brasil de Neymar, da jovem e boa seleção francesa, da sempre pragmática e ganhadora Alemanha, da Espanha, e das estrelas Messi e Cristiano Ronaldo, carregando suas seleções que, sem eles, seriam coadjuvantes. Bélgica? Uruguai? Boas apostas para quebrar a hegemonia dos eternos favoritos.

Mesmo que uma zebra aqui ou ali derrube um favorito, a globalização há algum tempo acabou com os mistérios no futebol. A queda dos muros e cortinas foram desvendando igualmente mistérios de cidades como Moscou, de países como a Rússia. O Kremlin está aberto e cobra ingressos para visitação pública. Caminhar por aqui, visitar os locais, estudar um pouco de tudo, será, finalmente, encerrar a "guerra fria" interior do garoto que cresceu nos anos 60 e 70 no Brasil.

*MILTON LEITE É NARRADOR DO SPORTV

Estadão
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