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Investigada após escândalo, Copa na Rússia é aposta da Fifa para abafar sua crise

Entidade que rege o futebol no mundo espera deixar passado de escândalos para trás

13 jun 2018 - 19h01
(atualizado às 19h12)
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Quando a bola rolar nesta quinta-feira em Moscou, a esperança da Fifa é de que a Copa do Mundo ajude a entidade a virar a página de dois de seus maiores desastres em décadas: o escândalo de corrupção e os problemas de imagem que a entidade sofreu com a Copa de 2014 no Brasil.

Há quatro anos, o Mundial havia arranhado de forma importante a credibilidade da entidade. "Para reconstruir essa imagem, são necessários anos", admitiu à reportagem do Estado o ex-presidente da Fifa Joseph Blatter.

Obras foram abandonadas pelo caminho, governo e Fifa passaram a ter uma relação de tensão e o evento deixou uma herança de dívidas. O mal-estar chegou a um ponto máximo quando o ex-secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, sugeriu que o Brasil deveria levar um "chute no traseiro" por conta dos atrasos. Nas ruas, a população deu a resposta em protestos pelo país.

Menos de um ano depois do caos, a Fifa seria assolada por outra crise: a prisão de seus cartolas e uma transformação no comando da entidade, com repercussões até hoje. Nos Estados Unidos e na Suíça, a própria atribuição da Copa do Mundo para a Rússia continua sob investigação criminal e a suspeita é de que o Kremlin comprou votos. Os computadores que guardavam as informações, porém, foram destruídos em Moscou.

Mas, quando for iniciada a partida entre Rússia e Arábia Saudita, a torcida da direção da Fifa e do governo de Vladimir Putin é de que tudo isso se perca em meio ao papel picado.

Esforços não faltaram para que isso seja uma realidade. Usando argumentos de segurança contra eventuais ataques terroristas, os russos impediram qualquer tipo de protestos contra a Copa. Censurada na prática, a imprensa local não teve a liberdade para investigar as obras e aqueles que fizeram isso, como Boris Nemtsov, terminaram assassinados.

Do lado da Fifa, a ordem foi a de jamais criticar em público a organização russa, mesmo quando existiam atrasos nas obras dos estádios.

Mas um torneio perfeito é também de interesse de Putin. O Kremlin garantiu que mais de 20 chefes de Estado estarão na abertura da Copa, entre eles o presidente do Azerbaijão, Ilkham Aliyev; de Ruanda, Paul Kagame; da Bolívia; Evo Morales, além dos primeiros-ministros do Líbano, Saad al-Hariri, e da Armênia, Nikol Pashinyan. Nenhum deles teve suas seleções classificadas para o Mundial.

Mas isso não importa. Ao discursar nesta quarta-feira diante do Congresso da Fifa, o russo deixou claro que quer usar o evento para abafar uma crise internacional sem precedentes desde o final da Guerra Fria e mostrar que não está isolado. "O esporte vai além da política", insistiu. "Não se trata apenas de um espetáculo. Mas serve para que o mundo conheça uma nação, entender que os países também são gentis e abertos e que querem viver em paz", declarou.

Com uma imagem negativa nos últimos anos no Ocidente por conta da invasão da Crimeia e polêmicas sobre o envolvimento nas eleições norte-americanas, a aposta de Putin é de que a Copa mude essa percepção. "O objetivo é que todos sintam a hospitalidade de nossa nação e entender nossa cultura única e o nosso caráter", afirmou Putin.

O líder russo ainda elogiou a Fifa e seu presidente, Gianni Infantino, por manter "um sentimento positivo com a Rússia". A relação entre Putin e a Fifa não tem qualquer semelhança entre o governo brasileiro de Dilma Rousseff e Joseph Blatter. Em 2014, no Congresso da Fifa que ocorre um dia antes do início do Mundial, a então presidente brasileira sequer foi ao evento do futebol.

Nesta quarta-feira, a presença de Putin no Congresso da Fifa evidenciou a relação amistosa entre o Kremlin e a entidade do futebol. Aplaudido de pé pelos cartolas e reverenciado por Infantino, o russo ouviu do dirigente máximo do futebol que a Copa de 2018 será "a mais bonita que o mundo já viu".

REELEIÇÃO

Aproveitando o momento, Infantino fez questão de reforçar a ideia de que, com uma Copa aparentemente sem problemas e o caixa repleto de dinheiro, ele é o homem para continuar a mandar na Fifa. O suíço anunciou que vai se apresentar como candidato para reeleição, num pleito marcado para 2019. "Há dois anos, quando assumi, a Fifa estava clinicamente morta", disse. "As reformas que implementamos foram instrumentais nesse renascimento da Fifa", afirmou.

"Introduzimos absoluta transparência sobre as finanças. Todo mundo sabe de onde o dinheiro vem e para onde vai", disse.

Mas sua grande aposta para convencer seus eleitores é o plano de quadruplicar a distribuição de dinheiro para federações. No total, serão US$ 4 bilhões. "O dinheiro é de vocês, de suas crianças. Eles precisam se beneficiar do dinheiro que é gerado pela Fifa", disse. "Alguns previam um desastre. Mas, apesar da pior crise que a Fifa já viveu, teremos uma receita de US$ 6,1 bilhões e um US$ 1 bilhão a mais do que se previa há quatro anos", enfatizou.

Segundo ele, "o futuro parece ainda mais brilhante". Dados publicados pelo Estado já adiantaram que a nova projeção é de ganhos de US$ 6,5 bilhões. Com os resultados, o envio mínimo a cada país passará de US$ 5 milhões para US$ 6 milhões.

Estadão
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