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Fifa abafou caso de doping de jogador russo, revela jornal britânico

Veículo faz acusações com base em investigações da Agência Mundial Antidoping

23 jun 2018 - 20h34
(atualizado em 24/6/2018 às 11h10)
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A Fifa sabia e abafou casos de doping na elite do futebol russo. As revelações estão sendo publicadas na noite deste sábado pelo jornal britânico The Mail on Sunday, com base em investigações realizadas pela Agência Mundial Antidoping (WADA).

De acordo com a reportagem, o Ministério do Esporte da Rússia encobriu um teste positivo de um dos jogadores inicialmente convocados para a seleção que disputa a Copa do Mundo, Ruslan Kambolov.

No total, 155 casos de doping no futebol russo teriam sido revelados. Desses, 34 casos foram investigados e teriam chegado até a Fifa. A entidade insiste que, por mais de um ano, avaliou essas informações. Mas não abriu qualquer tipo de processo. Um mês antes da Copa, a entidade ainda declarou que considerava que as informações que dispunha eram "insuficientes" para concluir se houve ou não um doping no futebol russo.

O caso mais problemático seria de Ruslan Kambolov. Em 2015, ele foi selecionado para passar por exames antidoping, enquanto jogava pelo Rubin Kazan. Seu teste deu positivo, levando o Ministério dos Esportes a procurar o chefe dos laboratórios, Grigory Rodchenkov, para pedir orientação. Rodchenkov foi quem denunciou o esquema de doping nas Olimpíadas de Sochi, em 2014, e que levou o esporte olímpico russo a ser parcialmente banido da Rio-2016.

Um dia depois, um agente do Ministério dos Esportes indica que o teste estava "salvo", numa referência sobre a necessidade de encobrir o resultado.

O passo seguinte, seis dias depois, foi o envolvimento do FSB - o serviço de inteligência da Rússia - para trocar a amostra de urina do jogador. Naquele momento, a Rússia mantinha um estoque de dez mil amostras de urinas "limpas", que poderiam ser trocadas por amostras de urina de atletas dopados. Os dados estão nas agendas de Rodchenkov, apontando para o envolvimento do espião Evgeny Blokhin, o mesmo que também operou nos laboratórios de Sochi.

Richard McLaren, especialista que conduziu as investigações sobre o doping russo, acredita que não existiam amostras limpas de Kambolov, o que levou as autoridades a trocarem sua urina por uma de outro atleta. A troca foi feita com um atleta do pentatlo moderno.

Naquele momento, a Fifa desconhecia os casos, já que eles foram abafados pelos russos. Mas, quando o esquema de doping de estado surgiu no movimento olímpico, a informação também foi repassada para a cúpula da Fifa, em dezembro de 2016.

Kambolov esteve na seleção até abril de 2018. Mas acabou sendo cortado para a Copa por uma "lesão". Para McLaren, seu afastamento tem uma relação direta com o doping e com a declaração simultânea da Fifa de que o futebol russo estava "limpo".

O investigador ainda confirmou que, desde o ano passado quando apresentou as evidências para a Fifa, a entidade jamais voltou a o contactar. A Fifa nega e insiste que não tinha informações suficientes para processar um atleta. Além disso, classificou as declarações de Pound e de McLaren de "desinformadas".

Mas esse não seria o único caso e existem indícios de que a elite do futebol russo tem sido beneficiada por esquemas de doping. Os 34 casos com documentação na Fifa já estão em Zurique por 18 meses. Mas, ainda assim, nenhuma providência foi tomada. 23 deles se referiam a jogadores que estavam na Copa de 2014, no Brasil.

Ao jornal britânico, o ex-presidente da WADA, Richard Pound, considerou que a dimensão "bilionária" da Copa seria o motivo para o silêncio da Fifa sobre as suspeitas de doping. O temor da entidade, segundo ele, seria minar a credibilidade da Copa do Mundo, um evento que movimenta US$ 6,1 bilhões.

Chamou a atenção do mundo o desempenho da seleção russa que, em dois jogos, marcou oito gols e foi a que mais correu: 230 quilômetros.

Pound insiste na necessidade de uma investigação independente sobre o caso e ataca a Fifa por não agir.

O escândalo do doping russo e a Copa do Mundo coincidem em pelo menos um aspecto: o envolvimento de Vitaly Mutko, ex-CEO da Copa, ex-ministro dos Esportes e acusado como sendo a pessoa que orquestrou o doping de estado. Na semana passada, ele inclusive recebeu o ex-presidente, Joseph Blatter, para um jantar na presença de Vladimir Putin e de Alexey Sorokin, CEO da Copa.

Estadão
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