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Em crise, Figueirense se movimenta para evitar novo W.O.

Holding que comanda o futebol do clube não paga salários dos jogadores e, caso o time não entre em campo sábado, pode ser rebaixado à Série C

22 ago 2019 - 04h41
(atualizado às 13h26)
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O modelo de clube-empresa pode estar com os dias contados no Figueirense. A derrota por W.O. para o Cuiabá, na terça-feira, 20, pela Série B do Brasileiro, aprofundou uma crise que já vem se arrastando há meses em Florianópolis. Alegando constantes atrasos de salários e o não recebimento de outras verbas contratuais, os jogadores da equipe não entraram em campo, tomando atitude drástica que, se for repetida, poderá rebaixar o time para a Série C.

O Conselho Deliberativo do clube deu um ultimato para a empresa Elephant, holding que comanda o Figueirense. Caso ela não resolva as pendências financeiras até o dia 28 deste mês, a parceria será encerrada unilateralmente, conforme reza o contrato. O Estado procurou os dirigentes da Elephant, mas a empresa não quis se manifestar.

No próximo sábado, o Figueirense tem jogo contra o CRB, às 19h, no Orlando Scarpelli. Um novo W.O. exclui o time da competição, conforme prevê o Código de Justiça Desportiva. Há ainda uma possível multa entre R$ 100 e R$ 100 mil. O contrato com a Elephant foi assinado em 2017 com gestão por 20 anos.

Na quarta-feira, 21, foi um dia de reuniões no Figueirense. Os encontros foram entre representantes da empresa e os atletas, na tentativa de se chegar a um entendimento e garantir os próximos compromissos do time. Os membros dos Conselhos Deliberativo, Fiscal e de Administração do clube passaram o dia discutindo o futuro da gestão.

Os jogadores que teriam "liderado" o movimento de paralisação temem represálias e uma lista com oito contratações circulou durante o dia. Segundo alguns atletas, que pediram para não ser identificados, além de salários, o Figueirense não tem honrado pagamentos de outros contratos, como direitos de imagem. Em alguns casos, o FGTS está há mais de sete meses sem ser recolhido. A situação teria começado em 2017, quando a empresa assumiu o clube, e tem se agravado.

Ao desembarcarem em Florianópolis, no fim da manhã de quarta, os jogadores foram recebidos com aplausos por um grupo de 50 torcedores. O capitão Zé Antônio concedeu entrevista, rodeado por atletas da equipe, e alfinetou a gestão. "Atrasar o salário de qualquer trabalhador não é normal. Esperamos que a nossa atitude (de não jogar) possa dar início a novo ciclo", disse. "Nós não temos nada a esconder de ninguém, e tudo que vocês quiserem saber da minha parte, e da parte de qualquer um aqui, é um livro aberto, agora já não sei se isso pode ser dito da mesma forma por quem está do outro lado", disparou.

Atualmente, o Figueirense tem dívida de R$ 100 milhões. Em 2017, quando a Elephant assumiu o controle do clube, incorporando também a dívida, o valor passivo era de R$ 77 milhões. Além dos atrasos de pagamento no futebol, jogadores alegam que profissionais das áreas administrativas do clube enfrentam os mesmos problemas.

Renúncia

O presidente do clube, Claudio Honigman, também é sócio da Elephant. Ele é conhecido nos bastidores por causa de suas relações com Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF. Em 2017, Honigman foi apresentado como investidor no negócio que passaria o controle do clube para a S/A. E foi só no fim de 2018 que ele assumiu a presidência do Figueirense com a promessa de implantação de "planejamento de longo prazo" que solucionaria a situação financeira assumida pela empresa, fazendo investimentos necessários para manter o time competitivo.

Além da relação com Ricardo Teixeira, o dirigente também manteve sociedades por meio de suas empresas com Sandro Rosell, o ex-dirigente do Barcelona que chegou a ser preso por lavagem de dinheiro, e com a mulher de Teixeira na W Trade Brasil e na Brasil 100% Marketing, ambas apontadas em negociações ilícitas entre Rosell e o ex-dirigente da CBF.

Momentos antes da partida na Arena Pantanal, terça, os jogadores receberam comunicado da Elephant informando que os pagamentos dos atrasados seriam regularizados, parte na quarta e o restante até dia 28, conforme prevê acordo firmado entre a Associação Figueirense e a empresa. Os atletas, porém, exigiram mais e pediram que Claudio Honigman renunciasse caso o acordo não fosse cumprido. O cartola não aceitou o termo e os atletas não tiveram os salários depositados.

Próximo jogo

Uma das preocupações da torcida, e do clube, é saber se os jogadores vão entrar em campo sábado, no Orlando Scarpelli, contra o CRB. Segundo informações dos conselheiros, a Elephant estaria tentando um acordo com os atletas para que eles joguem - um segundo W.O. resultaria em exclusão da equipe do torneio. Há a expectativa de formação de novo elenco, que só deve ser anunciado depois das negociações. Isso envolveria cinco jogadores do Athletico-PR e três que estão liberados de seus clubes.

Catarinenses podem ser excluídos em caso de reincidência

A situação complicada do Figueirense pode se agravar ainda mais em caso de novo W.O. Segundo Higor Marcelo Maffei Bellini, advogado mestrando em Direito Desportivo pela PUC-SP, o artigo 203 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBDJ) prevê que, em caso de reincidência específica, o time poderá ser excluído do campeonato nacional.

O especialista em Direito lembra ainda que, caso ocorra a exclusão do Figueirense do Campeonato Brasileiro da Série B, a tabela da competição será alterada. "Caso o clube seja excluído, todas as outras equipes serão consideradas vencedoras pelo mesmo placar, de 3 a 0. Isso é feito para preservar a competitividade do torneio", explica.

Bellini afirma que os jogadores poderiam comunicar por escrito para a direção do clube que não pretendem entrar em campo. "O ideal seria que falassem com o sindicato para pedir um dissídio de greve. Os jogadores têm direito a isso, pois o artigo 32 da Lei Pelé fala que é lícito ao atleta se recusar a competir se os salários estiverem atrasados em dois ou mais meses." Para ele, o clube poderia até tentar adiar sua partida se fosse comunicado antes.

Estadão
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