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Copa do Mundo sob medida

Receio da Rússia de um fiasco já foi superado. E o nível dos primeiros adversários tornou menos complicada a missão já executada

20 jun 2018 - 04h04
(atualizado às 04h04)
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Em 2010 a África do Sul entrou para a história das Copas do Mundo. E de uma péssima maneira. O time então dirigido por Carlos Alberto Parreira se transformou na primeira seleção anfitriã a ser eliminada ainda na fase de grupos. Uma decepção para os empolgados sul-africanos, que por 30 dias deixaram de lado a paixão maior pelo rúgbi para curtir o futebol. Dos outros.

A Rússia não corre mais tal risco. Com um grupo sob medida, estreou diante do aparentemente pior time do certame. Meteu 5 a 0 na Arábia Saudita sob os olhos do todo-poderoso Vladimir Putin, que tinha ao lado o príncipe-herdeiro do país adversário da estreia, Mohammad bin Salman Al Saud. Os dois, aliás, já vinham se aproximando em conversas sobre petróleo, um interesse em comum.

O massacre imposto pela equipe russa, que vinha de sete pelejas sem vencer (quatro derrotas e três empates), não atrapalhou os negócios e abriu caminho para que o país-sede não repita o de duas Copas atrás. Risco eliminado após a boa vitória de terça-feira (3 a 1) sobre o Egito, que voltou aos Mundial após 28 anos e vinha de derrota para o Uruguai, quando não teve seu craque, Salah.

O jogo derradeiro, ante os uruguaios, apenas definirá se a Rússia será primeira colocada de sua chave. Mas o receio de um fiasco já foi superado. E o nível dos primeiros adversários tornou menos complicada a missão já executada. Nada novo, os sorteios de Mundiais costumam ser generosos para os donos da casa, ainda mais quando têm uma seleção que não figura entre as mais poderosas.

Em 2002, quando a Copa foi compartilhada por Coreia do Sul e Japão, as duas seleções anfitriãs tiveram adversários interessantes em suas chaves. Não havia sequer uma camisa que tivesse marcado presença em decisão. Os sul-coreanos enfrentaram Estados Unidos, Portugal e Polônia, enquanto os japoneses encararam Bélgica, Rússia e Tunísia. Ambos os times asiáticos avançaram.

Em 1998 a França recebeu a Copa sem título no currículo. Seu grupo apresentava Dinamarca, África do Sul e Arábia Saudita. Passou como líder. Quatro anos antes, os norte-americanos tiveram pela frente Romênia, Suíça e Colômbia. Fizeram de tudo para se complicar, mas os Estados Unidos se classificaram em terceiro lugar, algo possível naquele formato, com 24 participantes.

Em 1986, no segundo Mundial em terras mexicanas, os donos da casa pegaram Paraguai, Bélgica e Iraque. Classificaram-se em primeiro, algo que a Espanha não conseguiu ao ser sede em 1982. Então bem distante do atual futebol campeão do mundo e bi da Europa, a seleção ibérica avançou por um gol marcado a mais do que a Iugoslávia, atrás da Irlanda do Norte, líder, com Honduras em último.

Os grupos acessíveis para anfitriões podem ser vistos como tradição, pelo menos desde o Mundial realizado em território espanhol, o primeiro com duas dúzias de times (eram 16 até 1978). Bom para o negócio, afinal, obviamente a eliminação rápida, precoce até, do representante da sede gera desânimo, a atmosfera não é a mesma. Para os russos a festa está garantida por mais algum tempo.

ARGENTINA

Na quinta-feira, contra a Croácia, o time de Jorge Sampaoli joga seu destino. O técnico deve fazer três alterações em relação à equipe que estreou empatando com a retranca islandesa. Tudo reflexo da bagunça na AFA, Associação de Futebol do país, algo tão bizarro que faz a CBF parecer modelo de gestão futebolística. Num caos desse porte, talvez nem Messi salve.

* COLUNISTA DO ESTADÃO E COMENTARISTA DA ESPN

Estadão
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