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Copa do Brasil

Protocolo 'modificado' do VAR ainda cria dúvida na prática

Análise de lances interpretativos não estava prevista, mas casos na Copa da Rússia trouxeram novo entendimento

19 out 2018 - 05h11
(atualizado às 05h11)
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De acordo com ex-árbitros ouvidos pelo Estado, a aplicação do VAR (árbitro de vídeo) na final da Copa do Brasil entre Corinthians e Cruzeiro, na última quarta-feira, foi correta. O problema, segundo eles, está no protocolo, que teria sido alterado durante a Copa do Mundo da Rússia.

"O protocolo foi modificado, mas não oficialmente, pela Fifa. Prova disso é o pênalti na final da Copa, quando a bola bate na mão do croata, o juiz não marca, mas é chamado pelo árbitro de vídeo num lance interpretativo. O Wilton (Sampaio, que operou o VAR na quarta) seguiu esse protocolo", explica Leonardo Gaciba, comentarista de arbitragem da Rede Globo.

Gaciba se refere ao lance ocorrido na decisão entre França e Croácia, no dia 15 de julho. Aos 35 minutos do primeiro tempo, quando a partida estava empatada em 1 a 1, o croata Perisic subiu com francês Matuidi para cabecear uma bola cruzada na área. Ela desviou no braço do jogador, mas o árbitro argentino Nestor Pitana não marcou inicialmente nenhuma infração. Depois, orientado pelo VAR, foi até o monitor checar a jogada e assinalou a penalidade. Relembre abaixo:

Seria um exemplo parecido com o do pênalti inicialmente não assinalado pelo árbitro Wagner Magalhães de Thiago Neves em Ralf, na Arena Corinthians. Também avisado pelo árbitro de vídeo, ele checou a jogada na tela à beira do campo e mudou sua decisão inicial.

"O VAR tem se mostrado extremamente eficiente para impedimentos, se a falta foi dentro ou fora da área, se a bola saiu ou não. Mas em lances interpretativos, estamos transferindo a interpretação do vídeo para dentro do campo", opina Gaciba.

Entenda o 'duelo' entre protocolos

A CBF alega que no seu projeto original do VAR, lances interpretativos, como bola na mão e contato entre jogadores dentro da área dando margem à marcação de pênaltis, não poderiam ser revisados após a decisão inicial do juiz de campo. Mas, como já foi dito, a Fifa acabou adotando outro procedimento na Copa.

"O protocolo da Fifa dá autoridade ao VAR de chamar o árbitro de campo em lances interpretativos, que não são claros. Não houve erro, mas o protocolo é errado. Se o árbitro viu o lance, não interpretou como pênalti e aí chamam ele para olhar no monitor, o que se subentende?", questiona Arnaldo Cezar Coelho, ex-árbitro e comentarista. Na visão dele, Wagner Magalhães foi influenciado pelas interferências do árbitro de vídeo.

"O Wilton atuou nove vezes na Copa, fez todos os cursos da Fifa e foi indicado para apitar o Mundial de Clubes. E provavelmente será indicado para a próxima Copa do Mundo. Então, imagina você indo apitar um jogo onde tem esse cara com toda essa experiência, esse know how, e ele começa a interferir. Ele está te levando a mudar suas opiniões e isso causa uma grande insegurança", diz.

Na próxima terça-feira, no Rio, a CBF vai traçar um balanço do VAR na Copa do Brasil, nos moldes do que a Fifa fez na Rússia. A reportagem apurou que, internamente, a aplicação do árbitro de vídeo anteontem teve avaliação positiva e se deu em dois dos lances previstos no protocolo: pênalti e gol. Os demais são cartão vermelho e identificação equivocada de atleta advertido.

Estadão
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