Teixeira fala em "injustiça, dor e sacrifício"; leia carta de adeus
- Marcus Vinícius Pinto
- Direto do Rio de Janeiro
Ricardo Teixeira anunciou sua saída da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) por meio de carta lida por seu sucessor, José Maria Marin, que era o vice mais velho. No comunicado, o agora ex-comandante da entidade não falou sobre as acusações de corrupção que envolvem seu nome, e optou por destacar os pontos que considera positivo em seu trabalho.
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"Quando ganhamos, exaltam o talento, Quando perdemos, a desorganização. Fiz o que estava ao meu alcance", disse Teixeira. "À torcida brasileira, meu muito obrigado. Nunca me esquecerei das taças sendo erguidas. Elas estão no coração de cada um de nós", acrescentou.
Leia a carta de Ricardo Teixeira na íntegra:
Ser presidente da CBF durante todos esses anos representou na minha vida uma experiência mágica. O futebol, no Brasil, é mais que esporte, mais que competição. É a paixão que envolve, é o sofrimento que alegra, é a fidelidade que unifica.
Por essas razões, pensei muito na decisão que ora comunico e pensei muito no que dizer sobre minha decisão.
Presidir paixões não é tarefa fácil. Futebol em nosso país é sempre automaticamente associado a duas imagens: talento e desorganização. Quando ganhamos, despertou o talento. Quando perdemos, imperou a desorganização.
Fiz, nestes anos, o que estava ao meu alcance, sacrificando a saúde, renunciando ao insubstituível convívio familiar. Fui criticado nas derrotas e subvalorizado nas vitórias. Mas isso é muito pouco, pois tive a honra de administrar não somente a Confederação de Futebol mais vencedora do mundo, mas também o que o ser humano tem de mais humano: seus sonhos, seu orgulho, seu sentimento de pertencer a uma grande torcida, que se confunde com o país.
Ao trazer a Copa de 2014, o Brasil conquistou o privilégio de sediar o maior e mais assistido evento do mundo, se inseriu na pauta mundial, alavancou mais a economia e aumentou o orgulho de todo o povo brasileiro.
Tentei, no limite das minhas forças, organizar os talentos. Nas minhas gestões, criamos os campeonatos de pontos corridos e a Copa do Brasil, aumentamos substancialmente as rendas do futebol brasileiro, desenvolvemos o marketing e, principalmente, vencemos.
Hoje, deixo definitivamente a presidência da CBF com a sensação do dever cumprido. Não há sequência de ataques injustos que se rivalizem à felicidade de ver, no rosto dos brasileiros, a alegria da conquista de mais de 100 títulos, entre os quais duas Copas do Mundo, cinco Copas América e três Copas das Confederações. Nada maculará o que foi construído com sacrifício, renúncia e dor.
A mesma paixão que empolga, consome. A injustiça generalizada, machuca. O espírito é forte, mas o corpo paga a conta. Me exige agora cuidar da saúde.
Em obediência ao estatuto da CBF, mais precisamente ao disposto em seu artigo 37, você, meu vice-presidente e ex-governador de São Paulo, José Maria Marin, passa a presidir a CBF. A você, desejo sorte, para que o talento se revele na hora certa; discernimento, para que o futebol brasileiro siga cada vez mais organizado e respeitado; e força, para enfrentar as dificuldades que certamente virão.
Deixo a CBF, mas não deixo a paixão pelo futebol. Até por isso, a partir de hoje e sempre que necessário, coloco-me à disposição da entidade. Reúno-me com mais força à minha família, que entendeu minha missão, apoiou-me sempre e me faz ainda mais feliz.
Agradeço de maneira especial aos presidentes de clubes e das federações estaduais, aos dirigentes e colaboradores da CBF, amigos leais em quem sempre encontrei apoio incondicional para o desempenho de meu trabalho.
À torcida brasileira, meu muito obrigado. Nunca me esquecerei das taças sendo erguidas. Elas estão no coração de cada um de nós. Elas são um pedaço do Brasil.
Ricardo Terra Teixeira