Suspeito de abastecer máfia de ingresso acusa polícia do RJ
Acusado de abastecer a máfia dos ingressos revelada pela operação Jules Rimet nos últimos dias, o diretor da Match Services, Ray Whelan, divulgou nesta quarta-feira nota oficial em que acusa a polícia do Rio de Janeiro de arbitrariedade e ilegalidade em suas ações. Whelan foi preso na segunda-feira, no Copacabana Palace, e teve trechos das investigações e até escutas telefônicas reveladas para o público.
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“A prisão do sr. Whelan foi arbitrária e ilegal. O vazamento de fragmentos de conversas por escuta telefônica privada para a imprensa também foi ilegal. O 18° DP está fazendo suposições sem investigações adequadas ou o mínimo entendimento de como funcionam a venda de ingressos e pacotes de viagem”, diz o comunicado distribuído pelos advogados da Match Services.
A mensagem confirma que Ray Whelan vai voluntariamente entregar sua credencial à Fifa e continuar colaborando com as investigações, depois de ser solto com habeas corpus na terça-feira. Esclarece, ainda, que a polícia mantém posse de 83 pacotes de ingressos apreendidos no hotel, além de um laptop e US$ 1,3 mil (R$ 2,8 mil). Apesar dos pedidos de esclarecimento, as autoridades se negaram a falar sobre os ingressos apreendidos.
O objetivo era repassar os ingressos para aqueles que os haviam adquirido e a quem pertenciam por direito. Uma pesquisa nos arquivos esclareceu, no entanto, que as entradas apreendidas são de partidas passadas e eram usadas como recordação ou então de partidas futuras e pertencem a Whelan e a outros membros e sócios da empresa.
A declaração confirma a veracidade das conversas entre Ray Whelan e o argeliano Lamine Fofana, apontado pelas investigações como o chefe da máfia dos ingressos, mas esclarece que não há crime envolvido nas mesmas e que as informações não foram contextualizadas. Assim, exige que a polícia apresente provas das ilegalidades cometidas.
Entenda o caso
De acordo com investigações da polícia reveladas nessa segunda, Raymond Whelan será indiciado como fornecedor de ingressos para o argelino Lamine Fofana, preso no Rio de Janeiro e apontado como o responsável por administrar o esquema da venda ilegal de bilhetes. Desde 20 de junho, houve cerca de 900 ligações de Whelan a Fofana. Nas gravações, ingressos para a final eram negociados por US$ 14 mil.
Junto ao argelino, outras 11 pessoas foram presas com auxílio de interceptação de conversas telefônicas. Isso teria levado os policiais a Ray Whelan.
Ele seria, portanto, o responsável por conseguir as entradas para revenda, muitas delas em locais muito visados como camarotes. Whelan não é funcionário da Fifa, mas tem atuação ligada à entidade, já que a Match negocia pacotes e credenciou hotéis para a Copa do Mundo. Phillip Blatter, sobrinho do presidente da Fifa, é um dos acionistas.
“Esse era o nome que aparecia nas conversas”, disse uma fonte na Polícia Civil na condição de anonimato. O diretor da Match, a agência de viagens oficial da Fifa, teve a prisão temporária decretada pela Justiça a pedido da polícia, que temia que ele poderia tentar deixar o País. Whelan foi levado à 18ª Delegacia de Polícia para ser interrogado.
Em conversa informal com o delegado Fábio Baruck, Raymond diz que tem um contrato de compra de ingressos com Lamine Fofana, registrado em maio de 2013, e que não possui nenhuma irregularidade. Apesar das mais de 900 ligações interceptadas pela polícia entre eles, o inglês negou que estaria negociando ingressos para a Copa que está sendo realizada no País.
O inspetor Vicente Barros, da 18ª DP, afirmou que Whelan estava na área comum do hotel quando foi abordado pelo promotor Marcos Kac. Foram, então, juntos ao 5° andar, onde estava hospedado. Foi encontrado com ele cerca de cem ingressos para a Copa do Mundo, além de mil dólares em dinheiro. Ele não reagiu à prisão e afirmou ser inocente. Whelan está morando no Brasil há dois anos, embora não saiba falar português.
Na semana passada, a polícia havia informado que as investigações apontavam que ele tinha acesso ao quartel-general da entidade no hotel de luxo na zona sul do Rio de Janeiro, usava um cartão de estacionamento da Fifa para ter acesso a estádios e áreas reservadas. Teria ainda contatos dentro da entidade que lhe permitiam obter ingressos para serem negociados.
Após a execução da Operação Jules Rimet, com a prisão dos envolvidos no escândalo, a Fifa prometeu contribuir com as investigações e declarou ser improvável a participação de alguém ligado à entidade. O esquema de cambismo envolvia cifras milionárias e era planejado e executado há muitos meses. De acordo com a polícia, há possibilidade de que a operação tenha uma segunda etapa.
Após a prisão, a Fifa divulgou uma nota de esclarecimento, afirmando que continua colaborando plenamente com as autoridades locais e fornecerá todos os detalhes solicitados para auxiliar nesta investigação em andamento.