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Clubes se mobilizam contra Esporte Interativo e querem ir à Justiça

Diretorias se surpreendem com o fim do canal e para cancelarem contrato, miram câmara de arbitragens

10 ago 2018 - 05h11
(atualizado às 05h11)
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Sete clubes brasileiros da Série A ganharam nesta quinta-feira um grande problema de última hora. Todos foram pegos de surpresa pelo anúncio do fim das operações do canal Esporte Interativo, com o qual haviam fechado acordo para transmissão dos jogos do Campeonato Brasileiro em TV fechada entre 2019 e 2024. A partir de agora os departamentos jurídicos das equipes começarão a analisar a situação - alguns já falam até em conseguir brechas para romper os contratos sem pagar multas rescisórias.

Os times da Série A afetados pelo fim do canal são Palmeiras, Inter, Atlético-PR, Paraná, Bahia, Santos e Ceará. Todos haviam começado em 2016 o contato com o Esporte Interativo e não foram avisados previamente. A informação foi divulgada ontem na página oficial da empresa no Facebook.

Quem já manifestou posição mais firme nos bastidores foram Bahia e Santos. Os dois times falam em buscar romper o contrato, pois já estavam descontentes com algumas das condições. Os demais avaliam o momento e, entre as atitudes, pensam em levar o questionamento sobre os contratos até a Câmara de Arbitragem, na Fundação Getúlio Vargas.

A decisão do canal de encerrar as operações vai fazer com que os jogos dessas equipes como mandantes no Brasileiro, assim como os da Liga dos Campeões transmitidos pelo Esporte Interativo, sejam transferidos para os canais TNT e Space. Ambos fazem parte do Grupo Turner, empresa americana de mídia, controlador do EI.

"Se forem confirmadas as informações prévias que a gente tem, somadas aos problemas já identificados no contrato, o Bahia vai buscar a rescisão via arbitragem, tudo isso com as respectivas indenizações, para proteger o patrimônio e a imagem do clube", disse o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani.

O clube que tem o maior acordo com o canal era o Palmeiras, que vai estudar as implicações sobre a relação contratual. A equipe recebeu nos últimos anos R$ 100 milhões como prêmio pela assinatura. O montante pago às demais equipes foi menor, de R$ 40 milhões.

A diferença entre os valores motivou as primeiras queixas dos times. Alguns se sentiram desprestigiados. Alegavam que a Turner inicialmente havia prometido valores iguais a serem repartidos entre quem assinasse o contrato.

Como os acordos foram assinados em 2016, alguns clubes tiveram eleições e trocas de diretoria, com os novos mandatários insatisfeitos com os contratos previamente firmados e dispostos a conseguir alterações.

Procurada, a Turner afirmou que não comentaria o caso porque os contratos com os clubes estão protegidos por cláusulas de confidencialidade. A empresa diz que se compromete a cumprir todos os contratos.

SÉRIE B

O fim do Esporte Interativo também afetas clubes das séries B e C. Coritiba, Ponte Preta, Sampaio Corrêa, Criciúma, Joinville, Paysandu, Fortaleza também haviam fechado contrato com o canal para transmissão de jogos a partir de 2019.

Para os clubes nordestinos o impacto pode ser ainda maior, pois a empresa transmitia também outras competições, como a Copa do Nordeste (contrato até 2022) e o Campeonato Cearense (acordo por mais duas temporadas) - para esses torneios, a empresa afirmou que "está procurando encontrar soluções para a exibição desses campeonatos".

O vice-presidente do Fortaleza, Marcelo Desidério, disse que o clube se preocupa com o futuro da negociação, pois, de acordo com o canal em que as partidas dos torneios regionais são transmitidos, é possível fechar acordos mais vantajosos de patrocínio. "Nós temos ainda um contrato extra assinado em caso de acesso à Série A. Esperamos que eles cumpram o combinado", afirmou Desidério.

Análise - Ivan Martinho*

'O canal fez planos ambiciosos demais'

O Esporte Interativo fez planos ambiciosos que não se confirmaram. Provavelmente, eles não tiveram a rentabilidade desejada e deixaram de lado a principal força deles, os atrativos digitais, como redes sociais, sites e aplicativos. Mas deixaram de rentabilizar isso para tentar comprar direitos de TV, uma área em que era a grande especialidade das concorrentes, como Globo e Fox. Com isso, acabaram esquecendo qual era a principal força deles. Gastaram demais ao tentar crescer.

Existem estudos que mostram a queda de assinaturas dos canais a cabo, principalmente pela mudança no comportamento do consumo de vídeo, sobretudo em dispositivos móveis. Quem assina TV por assinatura, paga por cem canais, mas acompanha de verdade só uns cinco. Quando se consegue consumir esse conteúdo de outra forma, como plataformas streaming, encontra maneiras mais econômicas e deixa de lado a TV.

* PROFESSOR DE MARKETING ESPORTIVO DA ESPM

Estadão
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