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Copa do Mundo

Blindagem da CBF se desfaz, acelera transição e cartolas temem 'caça às bruxas'

Eliminação da seleção brasileira para a Bélgica nas quartas de final da Copa frustra planos de dirigentes

6 jul 2018 - 17h42
(atualizado às 17h42)
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A eliminação do Brasil na Copa do Mundo da Rússia abriu um temor dentro da CBF de uma onda de pressão contra cartolas que, enquanto a seleção do técnico Tite empolgava, conseguiam se blindar de uma pressão pública e mesmo da Justiça. A perspectiva é de que haja um acordo para que o atual presidente, Coronel Antônio Nunes, deixe a entidade e que o fracasso promova uma transição no comando.

Fontes da CBF confessaram nesta sexta-feira ao Estado que temem uma "caça às bruxas" e que os planos de transição dentro da entidade não sobrevivam. Para opositores, a derrota poderia finalmente permitir uma mudança na gestão da entidade, depois que seus três últimos presidentes foram indiciados e, ainda assim, o grupo no poder se manteve intacto.

O isolamento da cúpula da CBF já era clara durante a Copa do Mundo. Na partida contra a Bélgica, pela terceira vez consecutiva o presidente da entidade, coronel Nunes, não foi autorizado a se sentar ao lado do suíço Gianni Infantino, presidente da Fifa, e como manda o protocolo. Ele já havia protagonizado uma crise ao não cumprir um acordo e votar pelo Marrocos, na escolha da sede do Mundial de 2026. Para completar, um de seus assessores agrediu um torcedor.

Mas o grupo no poder sobrevivia graças aos resultados de Tite. Um dos dirigentes brasileiros, na condição de anonimato, admitiu que "tudo estava mais tranquilo" enquanto a seleção vencia.

A turbulência vivida pela CBF teve início em 2015 com a prisão de José Maria Marin. Marco Polo Del Nero deixou de viajar por estar indiciado e, em 2017, foi banido pela Fifa. Mas o cartola teve tempo de organizar a sua sucessão e contou com os bons resultados do time de Tite para frear a pressão. Assim, assumiu o cargo de forma interina o coronel Antônio Nunes, colocado no cargo de vice-presidente dias antes para poder cumprir a função de interino. Del Nero também organizou uma eleição com um único candidato, seu aliado Rogério Cabloco, que assumirá em abril de 2019.

Mas, mesmo internamente, o plano apenas era viável se a seleção tivesse um bom desempenho na Copa do Mundo, abafando o processo eleitoral questionável. As opiniões agora se dividem. Um grupo dentro da entidade pede uma transição acelerada, com a renúncia do coronel Nunes sob a alegação de problemas de saúde ou qualquer outro acordo. Durante o Mundial, ficou evidente o constrangimento vivido pela entidade, liderada por um dirigente mais preocupado em seus assuntos pessoais e sem a capacidade de lidar com os assuntos do futebol nacional.

Mas há também aqueles que acreditam que a derrota transforme os ex-dirigentes da CBF em focos de ações da Justiça e que seja necessário um novo processo eleitoral. A votação que escolheu Rogério Caboclo foi marcada por irregularidades e, segundo a oposição, impediu uma concorrência real entre candidatos. Além disso, se Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira são alvos de processos no exterior, eles continuam sem qualquer indiciamento no Brasil. Com a derrota, o poder interno de Del Nero pode sofrer.

Na CBF, parte da preocupação com a derrota da seleção é de que a "lua de mel" criada por Tite com o torcedor chegue a um final. "Vamos viver momentos de turbulência", admitiu um deles. Outro dirigente brasileiro, sob condição de anonimato, tentou justificar. "Todos aqui éramos novos numa Copa do Mundo", disse. "Tite, Edu, Rogério Caboclo, coronel Nunes, Fernando Sarney. Tentamos fazer o certo", lamentou.

Coronel Nunes, motivo de chacotas pela Fifa, havia avisado que ficaria até o final da Copa do Mundo e, apesar das recomendações para que voltasse ao Brasil, insistiu que queria "entregar a taça". Agora, segundo fontes dentro da CBF, pode não durar até o final de seu mandato.

Estadão
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