Bola de Ouro, expulsão e problemas com comida: ex-jogadores revivem única partida entre Flamengo e Bayern
Gélson Baresi, Sávio e Marquinhos conversaram com o Terra; duelo valeu título para o rubro-negro
Há quase 31 anos, no dia 23 de julho de 1994, o Flamengo venceu o Bayern de Munique por 3 a 1 e conquistou o título do Torneio de Kuala Lumpur, na Malásia. Até às 17h (horário de Brasília) deste domingo, 29, quando a bolar rolar para as oitavas de final da Copa do Mundo de Clubes, esse manterá o posto de único duelo da história entre rubro-negros e bávaros.
Mesmo com o passar do tempo, o jogo permanece na memória de quem entrou em campo diante de 65 mil torcedores no Estádio Shah Alam, em Selangor. Da dificuldade de alimentação no sudeste asiático até o embate contra o atacante Jean-Pierre Papin, eleito melhor jogador do mundo em 1991, histórias não faltam.
Para chegar à decisão, o Flamengo liderou um triangular contra a Seleção da Austrália e o Leeds United, da Inglaterra. A campanha motivou os jogadores a levarem o torneio realizado dias após a final da Copa do Mundo com “nervos à flor da pele e a adrenalina lá em cima”, como relembrou o zagueiro Gélson Baresi, em conversa com o Terra.
Apesar de toda a motivação, os flamenguistas sofreram um baque logo de cara na final: o goleiro Adriano foi expulso, aos 18 minutos, por pênalti em Papin, que converteu a cobrança e abriu o placar para os alemães.
Passado o susto do cartão vermelho, os brasileiros reagiram e conseguiram a virada. Os gols foram marcados por Rogério Lourenço, Marquinhos e Sávio. O ‘Anjo Loiro da Gávea’, aliás, sente um gosto especial quando lembra do chute na saída do goleiro Uwe Gospodarek, que decretou a vitória.
“Foi meu primeiro gol internacional com a camisa do Flamengo. Eu tinha 20 anos. Era uma grande oportunidade para eu mostrar meu futebol em um torneio internacional. Sabíamos da dificuldade, tínhamos um time muito jovem e com a maioria prata da casa. Mesmo com grandes jogadores que o Bayern tinha, sabíamos que tínhamos condições de fazer um bom jogo, até pela vitória que tínhamos conquistado dias antes contra o Leeds United, da Inglaterra", relembra Sávio, à reportagem
"Foi uma vitória de virada com um jogador a menos em grande parte do jogo, e fechamos a vitória e o título com o meu gol no final do jogo” -- Sávio, ex-atacante do Flamengo
Já o tento da virada ficou por conta de Marquinhos, que marcou após jogada individual pela direita. Dos 27 gols em mais de 300 jogos com a camisa rubro-negra, o ex-meio-campista tem um carinho diferente por esse.
“É indescritível. A gente não pensa em nada, só em correr e comemorar. Ainda mais em final, fica marcado. Foi especial, estávamos com um a menos e conseguimos virar contra uma equipe poderosa da Europa. Foi um gol importante e nunca vou esquecer deste momento”, fala Marquinhos.
Embora o Flamengo tenha balançado as redes três vezes, a defesa foi um dos destaques da partida. Coube ao goleiro Fábio Noronha --que entrou após a expulsão de Adriano-- Henrique, Baresi, Rogério Lourenço e Marcos Adriano segurar Papin em meio a desvantagem numérica brasileira.
“No final, acabamos nos saindo muito bem. Porque, com um jogador a menos, ele [Papin] só conseguiu fazer o gol de pênalti e depois não conseguiu fazer mais gols. A marca dele era fazer gols. Então conseguimos de alguma forma neutralizar as ações dele, e o resultado final é 3 a 1 para a gente, conquistando esse torneio. Naquele jogo, nós do setor defensivo saímos vencedores”, destaca Baresi.
Engana-se, porém, quem pensa que o poderoso Bayern de Munique foi o único problema do Flamengo na Malásia. Do outro lado do mundo, os jogadores rubro-negros tiveram que improvisar para lidar com a culinária local.
“Tivemos uma dificuldade com relação ao fuso horário e também tivemos uma dificuldade muito grande com alimentação. Nos primeiros dias, a gente ia para o café da manhã e depois levávamos iogurte, cereais e pão para os nossos quartos para se manter durante o dia, até que o doutor junto com o pessoal do hotel regularizasse a situação, porque a alimentação era muito diferente daquilo que nós estávamos acostumados no Brasil e daquilo que era servido na Malásia”, brinca Baresi.
Há 27 anos (1994), o Mengão vencia o Bayern de Munique (ALE) por 3 a 1, na Malásia, e conquistava o Torneio Internacional de Kuala Lumpur. Rogério, Marquinhos e Sávio (vídeo) marcaram os gols do Mais Querido!#CRF #FlaMemória
🎥 TV Globo pic.twitter.com/sqCEb7O6Ks
— Flamengo (@Flamengo) July 23, 2021
- Escalação do Flamengo para o jogo de 1994: Adriano; Henrique, Gélson Baresi, Rogério e Marcos Adriano; Fabinho, Marquinhos, Hugo e Rodrigo Mendes (Fábio Noronha); Charles Baiano (Magno) e Sávio. Técnico: Carlinhos.
- Escalação do Bayern de Munique para o jogo de 1994: Gospodarek, Marco Grimm, Dietmar Hamann e Markus Babbel; Michael Sternkopf, Marcel Witeczek (Christian Ziege), Markus Schupp, Christian Nerlinger (Oliver Kreuzer) e Alexander Zickler; Mehmet Scholl e Jean-Pierre Papin. Técnico: Giovanni Trapattoni.
O reencontro do Flamengo com o Bayern de Munique
Na tarde deste domingo, quase 31 anos depois, o reencontro terá o Hard Rock Stadium, em Miami, como palco. Sob a batuta de Filipe Luís, Giorgian De Arrascaeta e companhia terão o poderoso time de Vincent Kompany do outro lado.
Desta vez, porém, o cenário é bem diferente. O primeiro encontro foi em uma final, mas, ao mesmo tempo, em um torneio de menor importância. O que aconteceu em 1994, obviamente, não será levado em conta por quem entrar em campo, mas os jogadores atuais terão a torcida dos campeões de Kuala Lumpur.
“Um jogo extremamente difícil, contra um grande time e jogadores de muita qualidade que tem o Bayern. Mas confio no Flamengo e na equipe, temos ótimos jogadores e a força e energia dessa torcida”, projeta Sávio.
Também na torcida, Baresi vai além e ressalta a importância dos pequenos detalhes no jogo das oitavas de final. “Acho que é 50-50% de chance, o jogo é jogado dentro de campo e é um jogo que pela qualidade técnica dos jogadores, por tudo que envolve esse jogo, vai ser decidido por detalhes. Então, você tem que estar concentrado. E 110% nas suas ações defensivas e com confiança 110% também nas suas ações ofensivas, confiando muito em cada atleta e no coletivo da equipe, eu acho que é isso, eu vou estar aqui na torcida e esperando que o Flamengo passe para as quartas de final, torcendo bastante.”
O zagueiro, inclusive, tem gostado bastante das atuações de Fluminense, Botafogo e Palmeiras. Para ele, o futebol brasileiro passou por uma evolução tática importante nos últimos anos.
“Eu acho que eles têm feito um grande mundial, surpreendendo a muitos, mas quem vive do futebol e está acostumado com relação ao futebol, a gente entende que o futebol brasileiro evoluiu bastante em relação à parte tática. Em um determinado momento, nós estagnamos em relação à situação tática. E com a chegada também dos treinadores estrangeiros nos nossos campeonatos aqui, esse intercâmbio, ajudou bastante para hoje. A gente vê nitidamente uma evolução tática nos nossos jogadores aqui do Brasil”, completa Baresi.
Marquinhos, por sua vez, demonstra uma confiança maior. O ídolo do Flamengo aconselha Filipe Luís a seguir fiel aos seus princípios ofensivos, sem medo da equipe alemã.
“É não ficar lá atrás esperando o Bayern. O Flamengo nem tem característica para isso. O Flamengo vem marcando lá em cima o adversário, os atacantes fazendo pressão. É não deixar eles respirarem. O Flamengo marcando lá em cima, com certeza vai roubar a bola e fazer gol”, completa.
Se superar o Bayern de Munique, o Flamengo terá pela frente o vencedor do duelo entre Inter Miami e PSG. O jogo acontece neste domingo, às 13h, no Mercedes-Benz Stadium, em Atlanta.