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Em dificuldade, atletas perdem patrocinadores e parte dos salários

O velocista Anderson Henriques perdeu dois patrocinadores em 2016 e 22% do salário em 2017

20 jan 2019 - 04h41
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Em nove anos como profissional, o velocista Anderson Henriques passou por muitas crises. No final de 2016, perdeu o patrocínio pessoal de duas marcas esportivas. No ano seguinte, seu salário como atleta foi reduzido em 22%. A diminuição no holerite atrapalhou obviamente a vida pessoal. Ele teve de reduzir a ajuda que dava em casa. Filho único, sua mãe é cuidadora de idosos e o pai trabalha como montador de móveis no Rio Grande do Sul.

Para suportar a crise atual, que novamente transforma sua vida em uma prova de 400m com barreiras, ele se segura no salário como atleta da Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (Sogipa) e também na remuneração como 3.º sargento técnico temporário - ele integra o Exército desde 2014.

A crise financeira acaba esbarrando no desempenho profissional. No ano passado, o técnico Leonardo Ribas, com quem trabalhava havia nove anos, acabou demitido. Isso não é pouca coisa. A projeção para os dois próximos ciclos olímpicos foi comprometida.

Todas essas intempéries deixaram o atleta de 26 anos desesperançoso. "O esporte brasileiro será como sempre foi. Resultados isolados, de atletas que são muito dedicados e continuam buscando seus objetivos. Não vejo muitas perspectivas de melhora, tendo em vista que não somos um país de cultura esportiva", critica o atleta.

Finalista dos Jogos Olímpicos Rio-2016 no revezamento 4x400m, o velocista Pedro Burmann também sofre os efeitos da crise. Hoje, ele não tem patrocinadores e também atua como atleta da Sogipa. Ele conta que os problemas da modalidade afetam seu desempenho de forma indireta. "Em alguns momentos, temos atraso na chegada de materiais de treinamentos, como tênis e roupas esportivas, por causa dos fornecedores. Com isso, temos de usar outros materiais, que comprometem o desempenho", diz Burmann.

Natural do Mato Grosso, Burmann foi finalista do Mundial de 2013 e tem como melhor marca nos 400m o tempo de 45s52. Ele também era atleta militar, mas deixou o Exército.

Anderson aprendeu a conviver com as mudanças de humor do mercado brasileiro de patrocínio esportivo. E virou um poupador. "Sou consciente da insegurança que é ser um atleta de alto rendimento. Uma temporada você pode ganhar R$ 20 mil e na outra nada. Mantenho um padrão de vida sem muitos gastos e com investimento", conta.

Ele é o dono da segunda melhor marca da história do atletismo brasileiro nos 400m rasos com 44s95 e medalha de ouro nos Jogos Mundiais Universitários, a Universíade, em 2014. Finalista dos 400m e do revezamento 4 x 400m no Mundial de 2013, quando tinha apenas 21 anos, Anderson ficou fora dos Jogos do Rio por causa de seguidas lesões em 2015 e 2016. A mais séria foi uma fascite plantar.

O velocista aponta o PAAR (Programa de Atletas de Alto Rendimento) do Ministério da Defesa como um porto seguro. "O programa proporciona estrutura, benefícios, salário, divulgação das Forças Armadas e representação em competições internacionais", diz. "É uma das melhores formas de apoio e incentivo aos atletas de alto rendimento no Brasil", elogia.

Apesar das dificuldades, ele se mantém otimista com as principais competições do ano, como Mundial de Atletismo, o Mundial das Forças Armadas e o Pan-Americano de Lima. "Meu objetivo é estar classificado para todas, tendo o melhor desempenho possível e melhorando minha marca pessoal", diz.

O técnico de atletismo da Sogipa, José Haroldo Loureiro Gomes, o Arataca, diz que ele está em ascensão. "Todo atleta que sofre uma lesão grave passa por uma reinvenção. Ele pode repetir suas melhores marcas e se aproximar de uma das vagas nos 400m para os Jogos de Tóquio".

Estadão
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