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Os Libertadores do Corinthians #2 - Pila: para ver o amor da vida, vale até ir de trem da morte

Presente em todos os jogos do Timão na conquista da América, em 2012, comerciante viajou 10 dias para ver a estreia corintiana, na Venezuela

28 jun 2022 - 10h14
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Pila no gramado do estádio Pueblo Nuevo, em San Cristóbal, após 10 dias de viagem (Foto: Acervo pessoal)
Pila no gramado do estádio Pueblo Nuevo, em San Cristóbal, após 10 dias de viagem (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Lance!

Quando aos 48 minutos do segundo tempo, em San Cristóbal, na Venezuela, o volante Ralf subiu mais que todos os outros jogadores para cabecear e empatar o jogo de estreia do Corinthians na Libertadores, contra o Deportivo Táchira, nenhum torcedor se sentiu mais vivo do que José Paulo de Almeida Oliveira, o popular Pila. Sensação especial para quem precisou passar pelo 'Trem da Morte' até chegar aos Andes Ocidentais venezuelanos.

Mas até mais do que as 19 horas cruzando a Bolívia a bordo de um dos vagões, foram os 10 dias de peregrinação para ver o Timão jogar. E maior ainda do que o tempo viajando, foram os anos de espera para ver o Coringão conquistar a América.

Pila à caminho da Venezuela (Foto: Acervo pessoal)
Pila à caminho da Venezuela (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Lance!

Era aquele ano, já previa Pila em janeiro, quando sentiu algo diferente e falou para um amigo durante um jogo da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Passou a ter certeza quando Ralf pousou no gramado do estádio Pueblo Nuevo com a bola cruzando a linha fatal. Empate com sabor de vitória e gosto de invencibilidade.

O comerciante, hoje com 47 anos, era mais um do bando que adorava grandes loucuras. Desde 2003 acompanhava as caravanas para ver o Corinthians fora de casa. Viu de perto duas eliminações da Libertadores para o River Plate (2003 e 2006), uma para o Flamengo (2010), e esteve presente em Ibagué, na Colômbia, em um dos capítulos mais tristes da história corintiana, a eliminação na pré-Libertadores, para o Tolima, em 2011.

Um ano e alguns meses antes da libertação, Pila discutia ainda na aeronave de volta ao Brasil a possibilidade de um protesto pedindo a demissão do técnico Tite. Outro alvo era o lateral-esquerdo Fábio Santos. Engano reconhecido por um torcedor que admite que só estava procurando as suas bruxas para caçar.

- Era caça às bruxas e para mim esses dois (Tite e Fábio Santos) eram os primeiros que tinham que deixar o Corinthians assim que chegasse (ao Brasil). Até após o acontecimento (eliminação para o Tolina), os jogadores foram blindados. Quem apareceu mais nas mídias foi o presidente Andrés Sánchez, que segurou o Tite. E é incrível, com tudo o que aconteceu segurar o treinador. Foi algo que o Andrés fez que até hoje não será esquecido - disse o corintiano apaixonado ao L!.

A desclassificação na Colômbia acendeu mais um trauma em Pila, que nunca deixava de acreditar no Timão, mas sempre relembrava as frustrações nos estádios ou até mesmo pela televisão, quando não era torcedor de caravanas.

Nas quartas de final, quando Alessandro estourou a bola no corpo do então meia do Vasco, Diego Souza, veio a mente todas as falhas de laterais ou nas laterais do campo que custaram eliminações para o Corinthians na Libertadores. De Guinei, contra o Boca Juniors, em 1991, passando pela expulsão de Kleber, contra o River, em 2003, até o pênalti cometido por Moacir em Juan, contra o Flamengo, em 2010.

Se esquecera que esteve em Guiaquil, no Equador, na fase anterior e viu o treino do goleiro Cássio um dia antes daquele cara gigante assumir de vez a titularidade corintiana. Ficou impressionado com o tamanho do atleta, mas contra o cruz-maltino descobriria que a giganteza não ficaria só na estatura.

- Ele (Cássio) era totalmente desconhecido. Lembro que estávamos no Equador, quando foi a estreia do Cássio, em Guaiaquil, e fomos no treino do Corinthians, que não pôde fazer o treino de campo, a equipe local não autorizou. Os jogadores só fizeram reconhecimento do gramado. Estávamos próximo dos jogadores, eu passei pelo Cássio, totalmente desconhecido, e lembro que chegando no hotel, nas redes sociais que nem existem mais, o Orkut, eu mandei mensagem para uns amigos que vi o novo goleiro, Cássio, que era gigante. Estava empolgado mesmo sem conhecer as qualidades dele - conta Pila.

Para as oitavas de final, contra o Emelec, Pila foi de carro até a Bolívia, e ao Equador de ônibus (Foto: Acervo pessoal)
Para as oitavas de final, contra o Emelec, Pila foi de carro até a Bolívia, e ao Equador de ônibus (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Lance!

Mas todos os caminhos até o título, no dia 4 de julho de 2012, só foi possível por conta daquele gol de Ralf, que Pila conseguiu ver de perto porque somente passou pelo seu maior perrengue em uma saga pelo Corinthians.

O torcedor ia com um grupo que desistiu de última hora. Não viu problema de ir sozinho. Comprou uma mochila grande e foi desbravar a América do Sul daquele jeito corintiano, maloqueiro e sofredor.

Na Bolívia, teve problemas com a alimentação. Não se adaptou a quantidade de sopas. Queria arroz e feijão. Foi o suficiente para ficar visivelmente mais magro, principalmente no rosto.

Na fronteira do Equador com a Colômbia, quase foi assaltado.

Isso sem contar as já citadas 19 horas de viagem no 'Trem da Morte', que vai da cidade de cidade boliviana Puerto Quijarro, divisa com o Estado do Mato Grosso do Sul, no Brasil, até Santa Cruz de la Sierra, também na Bolívia.

Pila chegou à San Cristóbal, na Venezuela, na manhã da partida contra o Táchira. Quando a bola rolou, viu Herrera, aos 21 minutos do primeiro tempo, abrir o placar para o time mandante, em um lance esquisito, onde Chicão tentou afastar e mandou contra o corpo do centroavante venezuelano. Já pensava no pior, via o filme de Ibagué no ano anterior, passar na sua cabeça.

Quando Ralf empatou, sentiu um alívio. Era a confirmação no seu coração que 2012 era o ano corintiano.

O estádio na cidade venezuelana era pequeno, e a polícia local decidiu segurar a Fiel presente embaixo das arquibancadas por cerca de duas horas após o fim da partida. Os jogadores saíam ao lado dos torcedores, e Pila só imaginava como seria aquela situação caso o jogo terminasse com derrota para o Corinthians.

- Essa Libertadores proporcionou alguns momentos de bravura para nós, mas fomos coroados com o título no dia 4 de julho. Tudo valeu a pena - concluiu Pila.

Dali pra frente, nem a recepção calorosa dos 'hinchas' do Cruz Azul, no México, nem as viagens para o Rio de Janeiro ou Santos amedrontaram Pila. Pois quem passou pelo 'Trem da Morte' pelo Corinthians, já havia provado para o mundo, e a si próprio, que o Timão é o amor da sua vida.

Lance!
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